terça-feira, 18 de setembro de 2012

Solidão

Por Denise Fernandes

 

         Solidão é um porre que não termina. Sabe quando você bebe muito e ainda acorda bêbado. Aconteceu comigo, mais de uma vez. A última foi quando tentei tomar uísque com Red Bull e ser moderna. Solidão é assim.

         Solidão é um naufrágio sem sentido. Algo que você fala e ninguém entende. Você se arrepende de ter falado, mas nem por isso as palavras e o som se apagam.

         Solidão é um remédio estranho. Você toma e não faz efeito. Você não entende o médico, nem muito menos o que seu fígado fez com o remédio.

         Solidão é um bem que é um mal. Algo assim como estar apaixonado e decepcionado: solidão é um ar quente num dia quente, um ardor na fronte, no cérebro. Solidão é um banho que você toma sem querer tomar: só para ver se resolve.

         Solidão não acaba com companhia. Ela acorda como quem não quer nada e se instala no dia: como um sol abafado. E não vai embora. O dia termina, mas a lembrança do sol ainda queima o seu corpo. O cansaço é solidão, agora sei. Solidão do corpo e da alma, saudades de outros tempos.

         Solidão é saber que não se pode voltar.

         Solidão é você falar que a crise é sua, não tem nada a ver comigo.

         A solidão não tem lágrimas, sorrisos ou amigos. Ela é uma âncora da eternidade. Porque Deus se sentiu sozinho e criou o resto do mundo. E tenho vontade de te recriar, aonde havias: filho ou homem.

         A solidão é uma mulher bem vestida, maquiada, com um sapato de festa, sem convites, sem ninguém a esperar.

         A solidão é essa noite sem vento, sem lua no céu: ela é um ocaso da minha maturidade – inesperado, tardio. É uma menopausa: não dói, não sangra. Não passa na televisão, não dá ibope.

         Soa como os ônibus que passam às cinco da manhã nas noites de insônia: sinal de algo que não se sabe, não se quer. Quem quer um dia após uma noite de insônia, outro dia?

         A solidão é um recuo da sabedoria. É essa porta que já sei onde
vai dar.

         Enquanto você sofre, fico só. Te olho do outro lado do vidro que nos separa. Tão tênue, coração de vidro.

Um comentário :

  1. O Renato Russo cantava: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Ela está sempre por aí, nos espreitando. Parabéns pelo texto, Denise!

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