Por Denise Fernandes
Solidão é um porre que não
termina. Sabe quando você bebe muito e ainda acorda bêbado. Aconteceu comigo,
mais de uma vez. A última foi quando tentei tomar uísque com Red Bull e ser
moderna. Solidão é assim.
Solidão é um naufrágio sem
sentido. Algo que você fala e ninguém entende. Você se arrepende de ter falado,
mas nem por isso as palavras e o som se apagam.
Solidão é um remédio
estranho. Você toma e não faz efeito. Você não entende o médico, nem muito
menos o que seu fígado fez com o remédio.
Solidão é um bem que é um
mal. Algo assim como estar apaixonado e decepcionado: solidão é um ar quente
num dia quente, um ardor na fronte, no cérebro. Solidão é um banho que você
toma sem querer tomar: só para ver se resolve.
Solidão não acaba com
companhia. Ela acorda como quem não quer nada e se instala no dia: como um sol
abafado. E não vai embora. O dia termina, mas a lembrança do sol ainda queima o
seu corpo. O cansaço é solidão, agora sei. Solidão do corpo e da alma, saudades
de outros tempos.
Solidão é saber que não se
pode voltar.
Solidão é você falar que a
crise é sua, não tem nada a ver comigo.
A solidão não tem
lágrimas, sorrisos ou amigos. Ela é uma âncora da eternidade. Porque Deus se
sentiu sozinho e criou o resto do mundo. E tenho vontade de te recriar, aonde
havias: filho ou homem.
A solidão é uma mulher bem
vestida, maquiada, com um sapato de festa, sem convites, sem ninguém a esperar.
A solidão é essa noite sem
vento, sem lua no céu: ela é um ocaso da minha maturidade – inesperado, tardio.
É uma menopausa: não dói, não sangra. Não passa na televisão, não dá ibope.
Soa como os ônibus que
passam às cinco da manhã nas noites de insônia: sinal de algo que não se sabe,
não se quer. Quem quer um dia após uma noite de insônia, outro dia?
A solidão é um recuo da
sabedoria. É essa porta que já sei onde
vai dar.
vai dar.
Enquanto
você sofre, fico só. Te olho do outro lado do vidro que nos separa. Tão tênue,
coração de vidro.
O Renato Russo cantava: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Ela está sempre por aí, nos espreitando. Parabéns pelo texto, Denise!
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