sábado, 31 de outubro de 2020

Um fio de sol

Por Meriam Lazaro




Vou colher um fio de sol
Pra bordar os teus cabelos,
Cultivar do girassol
Um poema com desvelo.


A natureza infante,
Flores de todos os cheiros,
Lá na serra verdejante
Ventos são teus companheiros.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Um pouco louco

Por Fabio Ramos




de Otávio


para
mamãe:


colírio é o xarope


dos
olhos


(...)


de vovô


para
vovó:


a
sua
agulha


magoou meu
braço


(...)


de Sandoval


para
filho:


obrigado


meu

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Hora

Por Denise Fernandes




mato no asfalto

esperança criança

nossa senhora

aparecida agora

grávida ora

pela boa hora

nossa senhora

lhe adora

em forma de filho

sal e arco-íris

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

borbulhar-se

Por Ana Paula Perissé




(existem para eclodir)


tua espuma em meu
colo nu:
quero café fervente
em bandeja
desnuda.
fôrmas de forjar
desassombros
.
na epiderme.


(ainda há sabor)


queime tua língua
e se arranhe bem dentro
do meu
.
céu.

domingo, 25 de outubro de 2020

Sacrifício

Por Oswaldo Antônio Begiato




quantas avenidas
terei de transpassar
para chegar puro junto a ti
nesta noite livre?


quantas pétalas,
neste concreto,
terei de juntar
para fazer o buquê
que sonha tua idade,
que sonha tua cidade?


quantas abnegações,
nesta parcimônia,
terei que te oferecer
para mostrar um coração
rondando despojado,
rondando despejado?


quantos silêncios,
nesta catedral,
terei de violentar
para dizer o quanto te busquei
nas afiadas esquinas,
nas afiadas quinas?


quanto sal,
neste deserto,
terei de lamber
para provar um amor
sem nenhuma fresta,
sem nenhuma aresta?


quantas mortificações,
neste calvário,
terei de beber
para te oferecer o sangue
das largas feridas,
das largas avenidas?


quantas avenidas
terei de transpassar
para chegar puro junto a ti
nesta noite livre?

sábado, 24 de outubro de 2020

Casa de amigo

Por Meriam Lazaro




Em casa de amigo
Presença e união,
Sem tempo perdido
Em reclamação.


Em casa de amigo
Tesouros estão,
Chegar sem aviso
E aperto de mão.


Em casa de amigo
Jardim e violão,
A voz tem sentido
De paz e canção.


Em casa de amigo
Celeiro de irmão,
Amor e abrigo
De celebração.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Cutículas

Por Mayanna Velame




Mordiscava as cutículas dos dedos da mão.
O gosto de sangue lhe agradava.
Seus últimos discursos amorosos seriam escritos
em tons ruborizados.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Mundo desconhecido

Por Nana Yamada




Cada dia vejo menos as pessoas falarem sobre o amor.
Menos respeito, menos educação, menos companherismo.
Ainda cobram algo que não possuem em seu interior.
Esse perfume amargo se espalhou,
Todos estão cegos de tanto orgulho.
Cada dia que passa, sinto mais necessidade
De estar perto da luz e da natureza.
Algo que é eternamente eterno, a pura verdade
Das mínimas coisas que necessitamos.
Vejo o ódio e a mágoa dominar o coração dos fracos.
Assim, continuo vivendo em um mundo desconhecido...
Todos nós somos passageiros nessa terra e, enquanto estiver por aqui,
Continuarei nessa luta da aprendizagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Problema na raiz

Por Fabio Ramos




teu nome


ela
deu


para um


cão
de


estimação


(...)


ao
ser


canino


um
filé


(restando)


os
ossos


naquela vasilha


se
tu
quiser


(...)


a
ele


o amor


que
não


recebeu


de
mulher


ALGUMA ATÉ HOJE


(...)


com tanta
inveja
do


animal


na
praça


(trazido de volta)


ao
lar


nos braços


da
irmã


MAIS BONITA

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Pandemia da primavera

Por Denise Fernandes




A morte de todas as expectativas; construindo um muro onde havia o que eu chamava de solidão. Um bálsamo novo surge, espaço de voo. O sabiá vem tomar banho na água da cachorra. A cachorra velha, cheia de catarata, olha tudo com os ouvidos. De repente, me lembro: um dia de cada vez. Estou tentando ficar bem, equilibrada. O sol que havia ainda há.

Um fantasma invade a tarde e me diz: "Só há paz depois da morte". Penso que o fantasma deve ter razão. Fico atônita. O que buscar, então?

Sim, buscar a primavera. Sêneca recém-lido. O tempo é a matéria mais preciosa da vida. Outro dia, surgiu um sagui aqui em casa. Mutilado, heróico. Com três patas apenas, ele vive loucamente na cidade. Sinto uma admiração profunda pelo animal.

A primavera também é essa luta que explode em pequenas flores, formando cachos. E o vento frio, da noite em São Paulo, me dá um prazer enorme de estar em casa; me protegendo de vírus, perdas, tentativas. Até o pôr-do-sol, me entenderei mais. E mesmo que seja pouco o amor dividido, elaborado, tecido com a seiva de tantas lágrimas, ainda será importante. O tempo que passei esperando ônibus me ajudou a entender que, inclusive, eu nunca chegaria a lugar nenhum.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

há fogo.

Por Ana Paula Perissé




há intensidade
em víscera
mas tanta
que se me calo
sinto-me
em honraria
esparsa


(sussurro
            verborrágico
                      corpo )


e nas imensidões
de se querer pigmento' palavra
fica um espaço
prenhe de branco
de esboço
por hora.


tal como 1´vertigem
crua
de se fazer
aguadas
          incendiárias
                          em telas
incandescentes chassis
do agora;


anatomias em 2.
esfumaçadas num
atelier em mancha.

domingo, 18 de outubro de 2020

Pensamento

Por Oswaldo Antônio Begiato




olhando teu corpo nu
fiquei pensando com meus botões:


quantas entranhas,
quantas entradas,
quantas entrelinhas,
quantos entraves,
quantas gavetas,
quantas vidraças,
quantos cômodos,
quantas chaves,
quantas curvas,
quantas medidas,
quantos desejos,
quantas senhas,
quantos mistérios...


meu Deus! quantos perigos, meu Deus!

sábado, 17 de outubro de 2020

Sonho menor

Por Meriam Lazaro




Como é bom sonhar,
traduzir a lua.
Doce versejar
dessa vida boa.


Como é bom sonhar
nesta rima crua.
Cedo acordar
e sair à rua.


Como é bom sonhar,
ter a alma nua
para rebrilhar,
reflorir à toa.


Como é bom sonhar
ser a rosa tua,
gêmea a bailar
canção de ternura.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Professores do Brasil

Por Mayanna Velame




Costumo dizer que os professores pincelam nossas vidas com tinta de esperança, apagam as rasuras da desigualdade e escrevem o futuro em parágrafos de amor e dedicação. É por isso que esse texto é escrito com letras alegres e saltitantes... Vamos lá!


Os professores de Língua Portuguesa são clássicos, eloquentes e poéticos. Rodeados de interrogações, vírgulas, acentos. Vivem em concordância com a norma padrão da língua  e em consonância com a Linguística. Eles amam um rapaz chamado dicionário. Já os professores de Matemática são calculistas! Eles veneram uma donzela chamada Hipotenusa.


Stop, please! Também não podemos esquecer dos professores de Língua Inglesa. Durante as aulas, eles adoram colocar a língua entre os dentes; só para mostrar que sabem pronunciar o "TH". Repeat again, everybody...


Mas há também os professores de Geografia. Eles são bem espaçosos e apaixonados pela Terra. Quer agradar seu mestre? Presentei-o com um globo terrestre e sua nota dez estará garantida. E o que dizer dos professores de História? Esses são politizados e prezam um bom debate. Viva a revolução!


Quanto aos professores de Química... Ah, esses sempre se apaixonam por um rapaz chamado átomo. Faça o quadro da Tabela Periódica. Ela é a queridinha dos docentes de Química. Ei, ainda faltam os professores de Ciências! Estes são centrados e loucos. E até levam para a sala de aula seu "brinquedinho" preferido: o microscópio.


Enquanto isso, os mestres de Física fazem o tempo e o espaço voarem com a velocidade. Deus no céu, Einsten na terra. Tudo é relativo, né? Não podemos ficar sem ir à quadra de esportes. Os professores de Educação Física estão lá, esbeltos e delgados, com um apito dependurado no pescoço: 1, 2, 3, 4...


E para finalizar, temos o professor de Artes (que aparece munido de ideias malucas e coloridas). Ele vai fazer com que você nunca se esqueça de um quadro intitulado "Abaporu".


Se esse texto não citou todas as disciplinas é por que, no final, elas têm o mesmo intuito: mostrar que o ensino vai muito além das quatro paredes da escola. Só compartilha o conhecimento quem o ama verdadeiramente  e enxerga nele uma possibilidade de transformar nossas vidas.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Desse momento

Por Nana Yamada




Estou com saudade de sentir
Saudade desse momento agora
Que em breve se tornará
Um passado recente
Até se tornar um passado comum...

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A árvore e o fruto

Por Fabio Ramos




ela é
do


tempo


do
blazer


com ombreira:


do
teclado


de
mão


nos conjuntos pop


e
do
cabelo


alto besuntado


com
laquê


(...)


e o filho dela


é
do
tempo


do moleque entojado:


dos
pais


adultescentes


e
do
celular


que nunca desliga

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Primavera pandêmica

Por Denise Fernandes




Às máscaras. E então, a cabeça vagueia. Começo a pensar em todos os sentidos de máscaras. A minha máscara. Depois de tantos meses, saio sem notar que estou sem máscara  e com aquela forte sensação que esqueço alguma coisa. Depois de alguns minutos na rua, me lembro: "E a máscara?".

Sorte que a minha bolsa é uma típica "bolsa de mulher" (e tem máscara limpinha me esperando, no bolso interno). Fora a minha sorte, que me parece magnífica nesse momento, encontro em mim um magnífico tormento. Encontro minhas sombras. Acordo assustada com os pesadelos.

Sol de primavera. A linda escada que fica ao lado do parque da Aclimação. Antes, ela permanecia vazia. Agora, está ocupada por adolescentes e casais com jeito de namoro.

Fora a certeza do cosmos e do vento, tudo é incerteza política, econômica e biológica. Também tem a certeza maior do infalível plano de Deus. E mesmo no apocalipse, o colo da Deusa. Deusa flor, semente e fruto. Deusa primavera.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

epistemologia

Por Ana Paula Perissé




antes de tombarem
todos os bêbados
são lúcidos


de matar
ou de morrer
(tanto faz)


antes de caírem
todos os poemas
são caras scintillas
coroas enterradas


de brilhos ou luxúria;
por tanto estrondo
de insano
desvio.

domingo, 11 de outubro de 2020

Resmungo

Por Oswaldo Antônio Begiato




Enquanto inocente,
Repetia palavras pequenas.


Enquanto apaixonada,
Repetia palavras fêmeas.


Enquanto enferma,
Repetia palavras resignadas.


Enquanto bêbeda,
Repetia palavras disparatadas.


Enquanto ensandecida,
Repetia palavras insensatas.


Enquanto poeta,
Repetia palavras novas.


Alheia de si, nada mais resmunga,
A não ser palavras sintéticas.

sábado, 10 de outubro de 2020

Vivendo o amor

Por Meriam Lazaro




Um sonho de liberdade
À Lua em plenilúnio,
Satisfaz minha vontade
De voar sem infortúnio.
Neste voo a galope,
Estrelado e sem regresso,
Teu chamado é minha sorte
Para estar em teus braços.
E assim ao infinito,
Soltos entre o céu e a terra,
Vivemos um amor bonito
Sem tempo e sem espera.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Palavras

Por Nana Yamada




Palavras não são eternas
Eternidade nunca morre
Mas as palavras morrem quando já não fazem sentido
Palavras que foram transformadas pelo amor
Palavras que foram transformadas pelo ódio
Todo significado muda quando mudamos o sentimento
Palavras contêm poderes finitos


Minhas palavras eu escrevi
Minhas palavras eu eternizei
Tudo vai existir pra sempre no ar
O tempo apaga as coisas escritas
O tempo apaga a memória dos outros
Menos as palavras do meu coração
Que ficaram registradas em alguém


Quantas palavras se perderam?
Quantas palavras deixaram de existir?
Quantas palavras não existem?
São tantas perguntas para algo que
Não tem uma explicação
Somos criadores de palavras,
Somos tradutores dos nossos corações,
Um dia nos tornaremos
Apenas palavras…

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Tá por fora!

Por Fabio Ramos




se
acha


no direito de


invadir
sem


QUALQUER CERIMÔNIA


(...)


se acha
no


direito


de
cantar


(pela madrugada)


em
seu


OUVIDO


(...)


ao
se


deitar


no
quarto


nitidamente a salvo


em
um


mosqueteiro


de
cama


ele ainda goza:


boa
noite


PERNILONGO!