Por Mayanna Velame
O quarto está quase limpo. Chão encerado. Sapatos em seus
devidos lugares. Na cama, o lençol bem esticado e alinhado. A janela aberta
apresenta a suavidade de uma tarde ensolarada; repleta de nuvens brancas. Calmamente,
o vento leva as folhas das mangueiras vizinhas. Para qual lugar elas seguirão?
Na passividade do dia, abro o guarda-roupa. Encontro
algumas blusas, calças e bermudas nos cabides. Peças desbotadas pelo tempo; que
já não se importam mais com meu corpo. Estão frouxas, largas, cheias de folgas
na silhueta – ou, quando não, nos ombros.
Roupas são momentâneas em nossas vidas. Emagrecemos,
engordamos, diminuímos, crescemos. Em dado momento, elas não nos servirão como antes.
Serão vistas, apenas, como pedaços de pano. E retirar peças velhas do armário se faz
necessário. Assim como determinadas lembranças, que nos remetem a erros e
medos.
Mudar a vestimenta é tão relevante quanto mudar as
atitudes. Usamos o mesmo par de sapatos, como ainda utilizamos nosso coração.
Somos escravos de locais e recordações que nos magoam ferinamente.
A natureza se renova. Sendo assim, por que não seguimos
seu exemplo? A cada ano que passa, sentimos e respiramos. Temos a chance de nos
vestirmos com esperança, força e perseverança. Apesar dos tropeços inevitáveis,
ninguém está imune à queda. Por isso, ame, chore, viva, jogue-se. Leia, cante,
mude, inove...
Na passarela da vida, é preciso desfilar de cabeça erguida
e jamais descer do salto. Afinal de contas, trajes novos, cheirosos e
confortáveis nos deixam mais elegantes. Notáveis. Confiantes em nós mesmos.
O quarto está limpo agora. Da janela, observo o vento sacolejando
os galhos das mangueiras. O varal oferece minhas roupas úmidas ao Sol.