domingo, 30 de junho de 2013

Escrever

Por Érika Batista


 
 
                               É vicioso escrever
                               Gosto de brincar com palavras
                               Isto me ajuda a viver
                               E a esquecer
                               De tudo ao meu redor 

                               Quando escrevo viajo aos quatro cantos da Terra
                               Abandonando as desventuras
                               Voo e mergulho nos mais profundos oceanos
                               O ar entra nos meus pulmões
                               Mas não para
                               E invade minha mente
                               Me trazendo as melhores lembranças
                               Me ajudando a imaginar
                               Tudo que de bom
                               Ainda pode se passar

                               Meus sentimentos são desorganizados
                               Mas quando escrevo
                               Entram em fila para se manifestar
                               O ódio vira amor, em felicidade torna-se a dor
                               Oh! É tão bom escrever!

sábado, 29 de junho de 2013

Entre a Palavra e o Significado

Por Meriam Lazaro
 
 


                           Entre a espada e a parede
                           há arranjos de sombra e de contentamento.
                           Mescla de eternidade e de murmúrio
                           nas mãos de quem escreve
                           e ousa fantasmas caiados
                           para erguer da pedra,
                           em lança viva, a palavra.
                           Rubra-lágrima somente aos olhos daqueles
                           que com os anjos comungam sentimentos.
                           Paredes que ouvem do cotidiano
                           regência de flores, colibris e folhas,
                           disciplina e ilusão,
                           reverberando a vida em sintonia incrível.
                           Espadas que convertem o choro, quando a dor vacila,
                           em lampejos do sem tempo,
                           qual borboleta livre do casulo informe...
                           Entre a palavra e o significado
                           há vertentes caudalosas
                           de quem sente gotejar a vida
                           em intensidade e calma.
                           Depois, serenamente, persegue,
                           com ares de inocência o Amor não perecível.


sexta-feira, 28 de junho de 2013

As Pequenas Coisas da Vida

Por Mayanna Velame

 

Certa vez, eu estava dormindo numa noite gelada em São Paulo, quando, de repente, senti uma vontade enorme de ir ao banheiro. Mesmo com uma arrebatadora preguiça, levantei-me, segui sonolenta pelo corredor escuro. Até que meus ouvidos escutaram um corpo minúsculo caindo ao chão. Meus olhos cabisbaixos, imediatamente acordaram ao ver o ser que ali estava, com as patinhas e o par de antenas balançando de um lado para outro sem cessar - uma barata. Na hora pensei, será que este inseto estava dormindo comigo? Deus me livre! Odeio e morro de medo de baratas.

Confesso que, naquela noite, não consegui dormir. Fiquei pensando se outra barata viria me visitar. Perdi completamente o sono. E a partir de então, comecei a ponderar de como um pequeno e desprezível inseto fora capaz de tirar meu sossego durante a noite.

E são as pequenas coisas da vida que fazem toda a diferença. Imagine só, a dor que uma pessoa sente no momento em que a manicure, sem querer, retira a cutícula de sua unha sem pudor. Pense na falta que um dente pode provocar na boca de uma pessoa, na hora da mastigação. Sem dizer de uma calça jeans com seu zíper quebrado ou de uma blusa na qual o dono perdeu um botão. O que seria de um pianista sem algumas teclas de seu piano? Provavelmente sua melodia estaria incompleta.
 
A vida e suas minúcias. A vida e as grandezas das pequenas coisas.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Guerra Contra o Silêncio

Por Rayane Medeiros
 
 
 
 
                              Este silêncio vociferado
                              Cravou-me em punho o peito.
                              Se for guerra que tu queres,
                              Ergo minha bandeira branca.
                              Verbalize seu ódio;
                              Cuspa em minha insignificância.
                              Mas não me dirija a ausência de palavras.
 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

is that all?

By Fabio Ramos
 
 


footsteps
being counted
GPS on the
mobile
claims are
under
suspicion 

told
was
going out
for
cigarettes 

instead
of it
got in the
car
has driven
26 miles
east

wink
froze 

she
laid down
a rose
in
her mother’s
grave
 

terça-feira, 25 de junho de 2013

A Cura

Por Denise Fernandes

 

         Saio na vila e as crianças estão brincando de “manifestação política”. Elas pulam como se estivessem num baile de carnaval. E dizem gritos de guerra.

E eu matutando: já que existe, segundo consta no meio político de nosso país, a possibilidade de "cura gay", também deve existir a possibilidade de "cura heterossexual". Desejo ardentemente esse tipo de cura. Quantas vezes rastejei de paixão? Nunca tinha pensado em tal tipo de cura, mas agora que vislumbro essa levitação, transcendência total dos imperativos do corpo, libertação do amor ao falo, estou achando superinteressante a modernidade. O que mais vão inventar?

         Viagem espacial não quero fazer. Quero ainda, acima de tudo, tentar viver bem nesse obscuro e, ao mesmo tempo, colorido planeta. Sem o mistério do sexo, curada do meu próprio sangue e seiva, quem seria eu? Ou melhor, quem seríamos nós? Se me curo de mim não é só a mim que transformo. E por que eu desistiria de mim? Talvez começasse pelo sexo, depois seriam outras curas. Talvez alguém vá querer curar o meu próprio pensamento, a minha alma louca, o meu coração de criança, mas também selvagem, meus desejos violentos. Talvez alguém vá querer curar também o meu próprio sentimento e o de todos, nessa imensa busca de falta de tormento.

         Mas o que Deus vai achar de tantas mudanças, será que vai abençoar as curas que inventarmos? Não há no sexo nossa própria essência, não somos feitos de densidade e paixão? Jesus vai se curar de sua cruz?

         Agora espero a cura confusa do que sou ou do que dá para ser. Haverá ainda uma cura para a arrogância política de tantos? Haverá ainda misericórdia? Haverá a possibilidade de aceitarmos uma vida sem cura e sem mentira?

Brincando, as crianças parecem tão felizes... Nada mais importa para mim. E era nesse estado de satisfação que eu queria chegar um dia na minha vida.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

choque

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Ana Paula Perissé


                                          conte por vez, 
                                          tez defumada 
                                          há quantas
                                          teria de sentir
                                          por vislumbre 
                                          o deixado 
                                          à sombra natimorta.

                                          há caos
                                          formado por
                                          1´imenso´
                                          nada
                                          que te inunda 
                                          de futuro-ocre-pálido
                                          de presente já-ido
                                          e de passado por-se-fazer
                                          em tumbas 
                                          ruidosas.

                                          sons em visão cálida 
                                          (não, não há mortes):

                                          entorpecer 
                                          é vida de frente.

domingo, 23 de junho de 2013

O Poeta III

Por Érika Batista
 
 
O poeta tem sede de mostrar sua opinião
Mas também tem medo...
Por isso floreia ondula embeleza...
E o que é subversivo
(não o clássico, que já virou praxe
e não merece crédito,
mas o real, que sai sem querer)
passa despercebido.
Eu disse.
Se não me ouviram é outra questão...
 
 

sábado, 22 de junho de 2013

Carruagem

Por Meriam Lazaro
 
 

Nasceu carruagem.
Chorou com vigor!
Pra cima, pra baixo,
À toa rodou
Até ter destino,
Cocheiro, caminho.
Correu carruagem.
Tanto chão passou.
Em baixo da ponte,
Sob a tempestade,
Do forte da chuva
Já se abrigou.
Cessada a viagem
Pra aprender o Amor,
Sem mala, bagagem,
Ao céu flutuou...
Velha carruagem
Volta ao Criador.
 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Salto

Por Mayanna Velame



Um garoto debruçado sobre o parapeito de sua varanda, do décimo andar, observa minuciosamente as lágrimas ácidas que Deus derrama sobre a cidade melancólica. Seu pai, sentado numa cadeira de balanço e entretido com as notícias nada animadoras do jornal, pede ao filho para almoçar. No entanto, o menino pensativo, antes de obedecer à ordem paternal, depara-se com um homem bruscamente caindo, talvez do céu. Atônito, ele grita para seu pai:
- Paaai!!!
- Qual é o problema, filho? – perguntou o pai sem desviar seus olhos do jornal.
- Um homem caiu do céu.
- Ele pode ser um paraquedista militar, filho. Venha, você precisa comer. Parece está com tanta fome que já anda vendo coisas.

No décimo primeiro andar, um bêbado decide olhar para os pingos gélidos que molham a terra dos homens. Cambaleando, ele segue na direção de sua janela, quando flagra um homem bruscamente caindo, talvez do céu.
- Nossa, que homem é este? Só pode ser um anjo de Deus!
                       
Um homem de trinta anos, aparentemente, morador do décimo segundo andar, bebeu dois goles de vinho. Logo após, acendeu um cigarro e acariciou seu queixo áspero. Inspirou fundo, em suas mãos uma fotografia surrada era semelhante ao seu coração. Tempos depois, com o rosto úmido e dedos trêmulos, afastou tetricamente as cortinas da janela. Tomou forças e, num impulso, saltou para o nada.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Retalhos

Por Rayane Medeiros
 
 
"O que sinto muitas vezes
 Faz sentido e outras vezes
Não descubro um motivo
Que me explique porque é
Que não consigo ver sentido
No que sinto, que procuro
O que desejo e o que faz parte
Do meu mundo..."
 (Eu Era Um Lobisomen Juvenil, Legião Urbana)


     A verdade é que tenho estado sozinho. Costurando retalhos. Tragando o ardor do silêncio habitual. Não é nenhum incômodo. É um misto de prazer e soberania. Reinar o vazio. Fantasias pessoais tão possíveis quanto o resto.

As lembranças vagam pelos cômodos. Fingem não ver-me. De longe contemplo-as. Instigado a voltar, recomeçar, devorar sensações extintas. Não me ferem, não me entristecem. Mas há o desconhecido. O desejo de não ser, de não estar-se aqui, agora. Construir um estranho que não me seja.
 
Há o ruído da vizinhança, o prazer verbalizado, as ruas noturnas que gritam seus segredos, o mundo que me convida para seus devaneios. Porém, não me rendo, não porque não queira, mas já não seria o meu senhor. Seria a somatória da insanidade alheia. E me desfaleço em tinto, prostrado no comodismo dos que se negam ao pecado, saboreando da janela o rumor da vida, enquanto a ânsia queima devagar, alternando entre os dedos e os lábios, estes já, quase torpes. É mais que um mau-hábito, é uma necessidade. E me desfaço em abstinência quando destes me privo. Não é um simples teste. Ponho-me à prova, e volto rastejando para os confins do meu desalento.
 
Encho os pulmões de ilusão, sopro no ar sonhos que se desfazem como nuvens de algodão. Impregnadas de um desejo qualquer. E fervo meu sangue em grandes doses, tão amargos quanto o eco das paredes que respondem indolentes, às minhas blasfêmias rotineiras.
 
Não é uma vida, é um passeio indesejado. Só observo. Estático. Passivo. À espera da plataforma de chegada. Não é destino, acaso ou passos mal dados. É puro e simplesmente articulado. E me reprimo em minha própria insanidade em despeito do que pode vir.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Terapia do Plástico Bolha

Por Fabio Ramos
 
 


 plástico bolha
à mão
em lugar do
cigarro 
 
pipoco
de
novo
um outro
estouro
 
até
roer as
unhas
não acalma
tanto
 
dedos
pressionam
mente
esvazia
 
 com yoga
jamais
funcionou 
 
folha
acabando
rolo
num canto
metros
e
metros
só pra você 
 
antes
compulsão
que comprimido
que estampido
desse 38
  

terça-feira, 18 de junho de 2013

Crianças

Por Denise Fernandes



        Um dia o Lucas, meu segundo filho, perguntou sobre como nasciam os bebês. Nós estávamos voltando da escola e pedi que ele esperasse até chegar em casa que eu ia contar direitinho, mostrando algumas fotos para ele. Quando chegamos, peguei uma foto minha, barriguda, e expliquei que ele havia ficado um período dentro da minha barriga. Ele ficou horrorizado:

        - Credo, você me enguliu, mãe!!! Eu podia ter morrido!!

        Expliquei que não era assim, e que também ele não havia saído pela minha boca, hipótese que ele teceu ao se descobrir dentro da minha barriga. Quando contei o percurso que ele realmente trilhou num parto normal, ele ficou enlouquecido:

        - Que nojo, mãe! Que nojo!!

        Fiquei mais que sem graça. Não podia imaginar essa reação toda do Lucas. Ele realmente ficou bravo e mal-humorado comigo um tempo. Ainda bem que passou porque não dá para imaginar impotência maior do que a minha. Quase sempre a realidade nos limita e o amor do Lucas é dos que mais me interessa na vida. O Lucas nasceu assim: foi se formando uma rede de acontecimentos. Eu não estava sozinha. A maior loucura é me sentir só, no meio de solidão nenhuma. O Lucas chorou muito depois que nasceu, enquanto ficamos no hospital. Não sei se contei isso a ele. E só sossegou quando chegamos em casa. Nossa cachorra latia muito. O Lucas não se incomodava com o latido alto dela, dormia como um anjo.

        Outro dia o Cauê, meu neto, veio me pedir um cobertor para brincar na rua de mendigo. Aqui na vila o que as crianças mais gostam de brincar é de situações fantasiosas na rua. Emprestei um cobertor azul, que é fácil de lavar, e o Cauê foi feliz brincar de mendigo. Esse acontecimento me levou a muitas reflexões. Uma das mais insistentes é que eu brincava de ser médica, de ser rainha, princesa, jornalista, radialista, bailarina, papai e mamãe, professora, lobo. Não me recordo de ter algum dia brincado de ser mendiga. Sinal dos tempos: há mais pessoas morando na rua do que quando eu era criança, quarenta anos atrás. Sinal dos ventos: as crianças nos ensinam a realidade. 

        Têm dias que quero pensar que nada do que era importante sofreu qualquer alteração, mas sei lá. Hoje passei onde estava o novo morador de rua da minha rua e ele havia se mandado, deixando um cobertor porcaria molhado para trás. Onde ele estava dormindo não havia cobertura de chuva. Quando eu era criança, não era comum ver pessoas morando na rua, mas a favela era tão favela quanto hoje.

        Já tive dois sonhos com o Batman. Ele foi um herói forte da minha infância. Adorava aqueles escritos, ajudando a dar o impacto dos socos. Adorava ele não matar ninguém. Agora sonho com o Batman porque tenho medo, sinto a necessidade dele. Porque não amadureci como devia. Sou como uma árvore que entortou em busca da luz. E a memória do Lucas tão pequeno, enfurecido comigo, me comove. Aguardo novo pedido do Cauê: será que ele vai querer brincar de manifestação política na Paulista, Virada Cultural ou Parada Gay? Aguardo.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

há fogo

Por Ana Paula Perissé

 


                                              há intensidade
                                              em víscera
                                              mas tanta
                                              que se me calo
                                              sinto-me
                                              em honraria
                                              esparsa

                                              (sussurro
                                                          verborrágico
                                                                      manso)

                                              e nas imensidões
                                              de se querer palavra
                                              fica um espaço
                                              prenhe de branco
                                              de pixel
                                              por hora.

                                              !´vertigem
                                              crua
                                              de fazer
                                              bolhas
                                                         incendiárias
                                                                          em telas
                                              incandescentes cadernos
                                              do agora;

                                              há fogo.