Por
Mayanna Velame
É
noite de nuvens ruborizadas no céu. Mansamente, um avião cruza o horizonte. Grilos
cricrilam escondidos entre os matinhos umedecidos pelo orvalho. Enquanto isso,
cães ladram nas esquinas vazias.
As
horas derretem-se na calidez do tempo. A cada minuto que se rompe, a vida apresenta-se
embarcada em sua própria fugacidade. Sabemos bem: os doze meses que recebemos
são doze capítulos – e nem sempre teremos a autoridade de redigi-los como
queremos.
Somos
personagens de um romance chamado vida. Em certos momentos dessa epopeia, nos consideram
heróis. Em outros, nos enxergam como vilões. O ano, paulatinamente, ensaia sua
despedida. Um tétrico 2016 se desenhou (marcado por tragédias, perdas e
desencantos; bem como pela crise política, moral e institucional da nação).
Na
ventura de viver, um novo ano surgirá. Com expectativas, sonhos, amores, erros
e acertos. A única certeza que temos é o agora. O “até” é apenas um “pode ser”.
E, talvez, o amanhã nem aconteça. Viver é um risco.
Os
dias que prosseguem são chances – oferecidas a cada um de nós. Por isso, não
relutemos pelo beijo roubado. Não nos culpemos pelo prato de macarronada
consumido. Honremos nossos pais e abracemos nossos irmãos. Vamos ouvir, com
mais atenção, o gorjeio dos pássaros. Devemos lutar por justiça e nunca nos submetermos
à corrupção (seja ela qual for).
Assim
viveremos, meu caro! Ora em paz, ora sentindo cócegas. Até porque, nosso
coração sempre irá pulsar. Afinal, como escreveu o saudoso Ferreira Gullar, “a
vida bate”. Sim, ela bate à sua maneira: dentro de cada ser, de cada vontade,
de cada amor. A vida bate serena ou frenética – contanto que bata dentro de
nós.