Por Meriam Lazaro
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"O Semeador", de Vincent van Gogh |
Releitura vale por um livro novo – e torna um autor
redivivo. No mundo das metas, do imediatismo para desfrutar novidades, como é
bom destinar um tempo para refazer os passos, retomar as letras, por em revista
(sob a mira de hoje) nossas impressões passadas. Em algum ponto da história,
olhares atuais se encontram com a memória de outros olhos.
Holden é o personagem marco do adolescente, como hoje
conhecemos, na literatura. Antes disso, não era bem pontuada a
adolescência: meninos e meninas passavam direto de crianças a adultos. Pelo
menos é o que diz Maria Elisa Cevasco no programa "Literatura Fundamental".
Após a leitura, enriquece-me a experiência checar vídeos a respeito do livro; pesquisar
sobre o autor e os bastidores da obra.
O guri é um revoltado. Seus dois amores são a irmãzinha e
um irmão morto. O irmão mais velho é um babaca, que deixou de escrever boas
histórias para ganhar dinheiro com roteiros cinematográficos. Os colegas do
colégio são babacas, os professores são babacas, os pais são babacas. Enfim,
Holden é "O Babaca" que enxerga o mal do mundo – mas jamais pensa em
fazer algo para mudar as coisas. Na visão de muitos leitores, a aversão do desajustado
ganha força quando sabemos que sociopatas foram encontrados de posse do livro (como
o assassino de John Lennon e o atirador que tentou matar o presidente Reagan).
Quem se encanta são os leitores empáticos com a depressão
de Holden, o luto sentido pela morte do irmão, a memória do suicídio de um
colega e a vontade de fugir de casa – irresistível para muitos jovens. Vestir a
roupa desconfortável do não querer crescer, nem ficar criança, é o passaporte
para admirar a obra. Nessa vestimenta, não sabemos o limite da nossa pele (e nem
da pele do personagem). Lembramo-nos de uma época distante, onde sonhávamos morar
numa casa/barco, isolados de tudo, ou escaparíamos do tédio com uma viagem num
disco voador.
Mais um livro que resistiu à releitura como um dos
favoritos de todos os tempos. Inesquecível número 100 de 2016.
"Para ser franco, não sei o que eu acho disso tudo.
Tenho pena de ter contado o negócio a tanta gente. Só sei mesmo é que sinto uma
espécie de saudade de todo mundo que entra na estória".
Livro: O apanhador no campo de centeio
Autor: J. D. Salinger
Editora do Autor
Autor: J. D. Salinger
Editora do Autor
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