sexta-feira, 30 de abril de 2021

Um dinossauro chamado Monterroso

Por Mayanna Velame




E quando despertou,
mesmo depois de séculos,
o dinossauro percebeu:
o homem pré-histórico
ainda estava lá.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Você e mais ninguém

Por Nana Yamada




todas as vezes que estou assim
todas as vezes que me encontro assim
você é o único que me atura
é o único que percebe
é o único que compreende
é o único a palpitar
é o único a torcer
é o único que está aqui
nessas horas
como naquelas horas
sempre me dando essa liberdade
de ser quem sou
do bem que me fez todas as vezes
como da primeira vez
como todos os dias…

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Vento mensageiro

Por Fabio Ramos




QUE CHEGUE


até
você


(aonde estiver)


esse
vento:


que vire as páginas


do
livro


(e devagarinho)


venha
lhe


beijar


os
lábios


(...)


À JANELA DE ONDE


você
estiver


(com o brilho)


das
estrelas


haverá a luz da lua:


que
ilumina


por aí e também


mais
acolá


(precisamente aonde)


ele
está


unido ao vento


que
vai


lhe encontrar

terça-feira, 27 de abril de 2021

Finda

Por Denise Fernandes




Então, tudo finda. Finda o blog, finda o casamento, finda o sexo. O que parecia interminável, termina. E eu aqui, olhando uma cadelinha que não tem nem dois meses. Meu Deus, que graça! Mas também tem graça na vira-lata, cheia de catarata, deitada no quintal, no seu sono de velhinha.

Talvez o blog termine como uma nuvem que se desfaz em chuva. Como tantos relacionamentos que, se eram paixão, eram menos amor. Só sei que sempre fui cega: não dos olhos, não da vida, mas neguei a ferida. Fui sempre mais advérbio do que verbo. Medito de olhos abertos, vendo a bagunça da minha casa, sem nenhuma vontade de arrumar. Talvez eu esteja zen, sim, sem disciplina nenhuma. Hoje minha reza é em silêncio. Meu mal não é de amor, e eu não sinto falta de abraço. A caneta, o papel, a voz de quem eu amo me basta.

Lembro que meu filho chorou quando pegou o primeiro peixe na vida. O peixe brilhante, pleno de vida, brilhando na manhã. E seus olhinhos de criança cheios de lágrimas doces, seus lábios de criança bem vermelhos.

Nas minhas memórias, os dez anos do blog passaram num segundo. Levei mais tempo para nascer, um útero apertado, sombras e luzes do meu Brasil. Quem sabe o blog é como uma folha de papel, que pode amarelar com o tempo. E dentro da porta imaginária que se fecha, a Via Láctea aguarda quieta, infinita, melancólica e em êxtase.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

ardência

Por Ana Paula Perissé




há uma imagem que sobrevive
vívida
a coisa de muito estremecer


há linguagem solta
esvoaçante
que esmaga metáforas de não pairar


há 1´mundo
que me desconhece
a cada olhar que tenho
de ti


(arde na planta do rosto)

domingo, 25 de abril de 2021

Penitente inamável

Por Oswaldo Antônio Begiato




Onde há cruz, não há manto.
Onde há manto, lança-se a sorte;
Pois o manto não se divide
(Ele é peça única, sem costura
e a ele dono único será dado).


Não padeço de males pequenos.
Meus males vão além do túmulo.
Vão além da esperança. Além do material.


Aqui jaz o corpo novo de uma alma velha.
Nunca amada, nunca amou
(Assim quero escrito, com letra de forma,
na minha pedra tumular).


Pois assim foi minha vida.
Que seja assim, também, minha eternidade.

sábado, 24 de abril de 2021

O anjo do futuro

Por Meriam Lazaro




O Anjo me saudou
Com piscada de passarinho
Deu-me um beijo e sarou
Todo o meu desalinho


O Anjo tinha asas da cor
Dos mistérios de outrora
Desafiando a gravidade
Evaporou e foi embora


O Anjo deu-me a chave
De onde perdeu seu coração
Mas pediu que a guardasse
Por conta de uma paixão


O Anjo vive no futuro
E eu aqui com saudade
De um amor que procuro
Por toda eternidade

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Paquetá

Por Mayanna Velame




Resolvi poemar lá
em Paquetá.
Assistir ao declínio
do sol e versejar
a Guanabara.


A barca que te traz,
não mais te levará.
Agora, ficarás na minha,
a repousar, na pedra
da Moreninha.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Minúcias

Por Nana Yamada




Eu já estou tão acostumada com esse seu jeito
Esse seu jeito de analisar os detalhes
Detalhes que poucos conseguiram observar
Observar cada gesto com atenção
Atenção que só você sabe dar
Dar como nunca recebi antes
Antes de você, tudo era tão diferente
Diferente de tudo que aconteceu
Aconteceu você em minha vida

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Antever

Por Fabio Ramos




nas
manhãs


do amanhã um


BOM
DIA


com sabor


de
hortelã


AO ESPREGUIÇAR


em
Amã


ou Teerã


(...)


na
parte


DA TARDE


vem
uma


SAUDADE


por
não


estar com


seu
amor
metade


(...)


no seio da noite


junto
aos


seios


da
mulher


se rende à visão


de
linhas


no horizonte:


até
você
derreter


com
a luz


do amanhecer

terça-feira, 20 de abril de 2021

Querido emoji

Por Denise Fernandes




Bendita invenção é o emoji. Talvez seja a pandemia que nos deixa mais carentes e sensíveis. Tenho achado demais as tais figuras. Algumas não mando porque não sei o que significam. Aquela carinha verde, é verde de raiva ou vontade de vomitar? Para quem perguntar o que significa um emoji? Medo dos mais novos, entendidos, me acharem mais idiota ainda!

Gosto de mandar coração verde, cismei com eles. Talvez seja por causa de um dos melhores livros que já li: "O menino do dedo verde", de Maurice Druon. Verde pode ser a cor da transformação mais sutil que esperamos (ou que podemos fazer). Cada jardim, cada pequeno vaso representa a possibilidade de sermos beleza, em sua forma mais delicada.

Acho ótimos os animais. Pena que não aparece oportunidade de mandar uma baleia, uma oncinha. Me dê motivo!

Ao invés de obrigada, mãozinhas em forma de gratidão. Só não gosto quando me mandam aquela carinha chorando - bem pior do que a pessoa chorando, de fato, na sua frente. Uma sensação de impotência diante do desenho triste.

Agora, melhor que os emojis são essas figurinhas que se pode mandar por Whatsapp. Tenho um beija-flor lindo, uma borboleta, uma menina dançando, um menino arrasando na dança.

Enquanto sonhamos em viajar para a praia, juntas, outra vez, minha filha me manda a figurinha de uma menina tomando caldo. Muito divertida. Lembra muito eu mesma. Quase toda vez que vou à praia, tomo um caldo. Biquini cheio de areia, cabelo enlouquecido. Acho que eu e a garota de Ipanema não temos nada em comum. Mas quando fui à Ipanema, fui muito feliz. Tomei um caldo. Mesmo assim, deu tudo certo. Sim, muitos anos antes do covid.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

expatriar

Por Ana Paula Perissé




vivo numa terra de exílio:
aquela que te habita já partiu.
mas venho cá a te pedir lume.
´só pra completar
imagem de cada pedaço teu.
.
encarne. pois
os ofícios do sentir
me exigem o brilho da língua.
o opaco da ida e o entre
do silêncio.
.
não se pode avistar o céu
assim de súbito.

domingo, 18 de abril de 2021

Que pena isso!

Por Oswaldo Antônio Begiato




Prosternado
Pelo teu impetuoso lado
Deixo esfolamentos
Ficarem nos muitos momentos
Que deserdei
Quando ainda eu era rei


Consternado
Por meu imprevisível lado
Fico muito triste
Na ausência tola que insiste
Na minha vida
Como vida removida


E assim vou bastardo, de déu em déu

sábado, 17 de abril de 2021

Calidez

Por Meriam Lazaro




Este é o último momento
A ser guardado em silêncio.
Longo caminho e ausência.
Como um grito.


Este é o último momento,
Não importa se foi destino,
Livre escolha ou desatino.
Outra vida.


Este é o último momento.
Murmúrio de tudo distante,
Como uma prece às estrelas.
Feita de poeira.


Este é o último momento
Para ver-te uma vez mais,
Em porto sem rumo ou cais.
Lágrimas na fonte.


Este é o último momento.
Da calidez, apenas o frio,
Separação e eterno vazio.
De ponte sem elo.


Este é o último momento
Do que poderíamos ter sido,
Como voos no azul partido.
Sombra do tempo.


Este é o último momento
Ao fim da estação florida.
Passarinhos em despedida.
Em eco e partida.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Navios

Por Mayanna Velame




As mãos invisíveis
do vento locomovem
o singrar dos navios.
Capitão de mim,
desnorteio o destino.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Realidade ou sonho?

Por Nana Yamada




Não sei se estou preparada
Para sentir o mel que transborda
Através da sua voz tão mansa
Que acalma o meu ser
Ao cruzar com teu olhar
Encho-me de fôlego e começo a pensar
Só de imaginar-me em teus braços
Já perco a noção da realidade
Até aonde é verdadeiro?
Até aonde é sonho?
Tudo se mistura com a realidade
Que já não sei reconhecer...

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Almeja e não alucina

Por Fabio Ramos




veja
se


a
sua
cereja


tem gosto de
cerveja


(...)


veja


se
não


inveja e siga:


esteja
na


esquina


(...)


veja
se


VAGINA


rima


com VELEJA


(...)


ou
seja:


VALENTINA PLANEJA


mas
não
opina


e nem patina

terça-feira, 13 de abril de 2021

De amor e fúria

Por Denise Fernandes




Minha solidão transcende a pandemia. Ela vem de antes, muito antes. Solidão no sol, na lua, no brilho das estrelas. Já era sozinha antes do isolamento social: a gente nasce e morre sozinho.

Mas o contato com arte remedia a solidão - tanto a existencial, como aquela do isolamento social. Um exemplo é esse "Uma História de Amor e Fúria". Trata-se de uma excelente animação brasileira, que foi escrita por Luiz Bolognesi (e dirigida pelo próprio Luiz, em parceria com Jean Cullen de Moura e Marcelo Fernandes de Moura). A obra cinematográfica foi lançada no Brasil em cinco de abril de 2013.

Esse filme nos incita a lutar e resistir. A história é linda, e os desenhos também. Não me cansei de vê-lo. Segurei o xixi para não perder nenhum pedaço. O enredo é apresentado de um jeito gostoso. Fiquei com muita vontade que meu neto, de dezesseis anos, também assista. Porque a ciência e a História não precisam ser mostrados de uma maneira chata.

Um livro que prova isso é o divertido "A História do mundo em cinquenta cachorros", de Mackenzi Lee. A historiadora relata casos tão engraçados com os animais; numa linguagem agradável, de forma sintética.

Hoje cai uma chuvinha que facilita ficar em casa. Amando cachorros, cuidando para que a História nos faça lutar. Vendo um bom filme, sentindo a companhia de todos os artistas que não abandonam a criação; mesmo em tempos difíceis. Boto uma sopa saudável para cozinhar. Corpo e alma juntos, na mesma direção.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

pormenores do chegar

Por Ana Paula Perissé




uma tal de poiesis
a fazer de mim
algo de muito ser


ou muito vida ou nada
morna
de quase tudo
das partes de
teu olhar
.


minhas senhas já tens
a mapear

domingo, 11 de abril de 2021

Quando chega o cheiro da uva

Por Oswaldo Antônio Begiato




Com o final do ano chegam à minha cidade
as barraquinhas onde se vende uva em caixas de madeira.
Elas se proliferam nas esquinas. Nas encruzilhadas.
Nas ruas estreitas. Nas ruas largas.
Nas estradas. Nos becos sem saídas.


Há na minha cidade sítios onde mãos rudes,
na iminente chegada do Natal,
santamente se aveludam para a colheita da uva.
É um ritual onde veludos se abençoam: o da mão do viticultor
e o da pele do fruto maduro.


Minha cidade é a terra da uva;
Uva Niágara -
rosada, branca.
Uvas de mesa.
Minha cidade é terra de uvas e de mesas.


Quando a uva por aqui chega
chega também a chuva.
Chuva de fim de tarde. Chuva fina.
Chuva de verão. Tempestuosa.
Chuva de granizo. Chuva granítica.
Tem chuva que a uva gosta, porque acaricia.
Tem chuva que a uva não gosta, porque machuca.


Minha terra é terra de uva no final do ano.
Minha terra é terra de chuva no final do ano.


E quando as uvas passam e as barraquinhas se vão,
pode-se ver por toda a cidade
flores brancas e dóceis,
pequeninas como um olhar
ternas como um perdão;
e minha cidade hospeda em suas ruas poesias órfãs.


Minha terra é terra de flor o ano todo,
de poesia dentro de mim desde sempre.


E é por isso que a lua,
tão distante, tão fria, tão pálida
vez por outra se despenca do céu
enfeita-se de flores
e se embebeda de vinho
nas noites chuvosas de minha cidade.


O alto falante do serviço de som da quermesse,
onde acontece a Festa Italiana
anuncia que o desvio de conduta não será tolerado.
E não será mesmo.


É nessa ocasião que a lua se parteja toda
em poesias rubras. Em poesias prateadas.

sábado, 10 de abril de 2021

De tudo fica um pouco

Por Meriam Lazaro




Não se apaga um sorriso,
nem se desfaz um abraço,
fica um pouco do amigo,
sobra um tanto de cansaço.


Se a honraria é verdade,
ainda que a mágoa regue,
quando a vida a dor invade
não há sombra que apague.


Vai a noite, vem o dia,
amores sempre a partir,
que se traduz em poesia,
banco e canção a florir.


Por isso não leve embora
a vida que lhe dediquei,
descartado o verso chora
saudade do que não sei.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Melhor escolha

Por Nana Yamada




De todas as poesias inacabadas
De todos os sentimentos que não cheguei a sentir
De todas as lembranças que não foram vividas
De todas as certezas que se misturam com incertezas
Você sempre será a minha melhor escolha

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Pra lavar

Por Fabio Ramos




palavra que


trans
borda


NUMA GAVETA?


trata-
se


de
um
palavrão


(...)


PALAVRA


que
some


(diariamente)


do
bolso


DA FRENTE?


trata-
se


de
uma
palavrinha


(...)


paula
não


ENTENDE PATAVINA


esse
pato


não
voa


COMO PATATIVA