domingo, 20 de dezembro de 2020

Caldo de feijão

Por Oswaldo Antônio Begiato




Pela manhã acordei cheio de passado.
Assombrado com a beleza do dia imensamente lúcido
Tive vontade de tomar sopa de caldo de feijão.
De ficar, afagando o frio da tardinha, ao redor do fogão à lenha
Observando minha mãe fazer, como fazia naqueles dias de inverno,
A sopa de caldo de feijão com linguiça caseira e macarrão Ave Maria.


Ave Maria:
- Era a prece que rezávamos antes da refeição
Nos tempos em que tudo era tão abençoado.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Cósmica

Por Meriam Lazaro




Em cósmicos Sóis evoluo,
banho de luz e amor dourado.
Sob copas verdes flutuo...
Natureza
- manto sagrado!


Em cósmico tom calmo voo,
sigo esse silente traçado...
Uma prece, a Deus eu entoo:
ser matéria em sonho alado.


Em cósmicas nuvens passeio,
ouço das aves o trinado,
sou pó de estrelas e anseio
perder-me no azul pintado.


Em cósmico som alço voo,
ao infinito sou lançado...
Retorno ao Amor e abençôo
a Vida
- eis o Dom sagrado!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Natal

Por Mayanna Velame




No Forte dos Reis Magos, ele depositou
seu coração aos pés de um menino.
Do outro lado da ponte,
as luzes de Natal
flamejavam
junto com uma estrela.
Elas anunciavam um novo tempo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Já não posso mais

Por Nana Yamada




Já não posso mais
Escrever algo sobre nós
Não há mais nada
A ser vivido,
A ser lembrado
E nem sentido.


Já não posso mais
Querer te amar
Não há mais volta
Nem choros,
Nem lágrimas
E nem trocas de amor.


Já não posso mais
Acreditar que é você
Não há mais um elo
Nem nosso amor,
Nem nosso cantinho
E nem nossos sonhos.


Já não posso mais
Viver desse jeito
Não há mais nada a fazer
Nem reencontros,
Nem desculpas
E nem mais nada.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Condicionante

Por Fabio Ramos




a porta


abre


para você


que
é


a chave


(...)


o
amor


só pode nascer


com
você


que é a metade


(...)


não
cabe


no peito


esse
quase


TORNADO FOGO:


a
lava


só queima


em
nós


no plural

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Sísifa

Por Denise Fernandes




Todo dia essa pedra. Perdôo e desperdôo. Nova manhã e tudo recomeça. Castigo por fugir da morte. Mas quem se entrega fácil, não tem o prazer que sinto na própria pedra.

Em algum momento da vida, o fardo virou meu cocar. Também sou essa pedra, nas múltiplas identidades. Se eu fosse um prédio, seria uma construção abandonada  servindo de abrigo aos refugiados da nossa civilização. Sisífa: todo dia essa civilização. E eu trazendo uma natureza natural, me repetindo? Não!

A mesma pedra é outra também no tempo. Num outro dia. O tempo nos salva. Eternamente, Sísifo repete a tarefa, ou melhor, seu castigo. E o que repito ainda pode ser escrito em uma palavra, "pedra".

Toda noite tem recomeço. No mundo dos sonhos, são novas lágrimas, novas alegrias. Sonho com pessoas que morreram e, então, elas aparecem vivas. Estão vivas. O sonho dormindo é tão real... Uma parte muito importante de nós existe dormindo. Sísifa na cama. Agradecida. Cansada, extremamente cansada. Meio mulher, meio montanha.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

memória

Por Ana Paula Perissé




deixa ficar
restos. ´sós. de uma vida súbita.
deixa atrás
de vidas, o desejo
que não se fez. ou os sonhos
que morreram
quando a noite cerrou sua
fronte oculta. à soleira da porta
de madeira escura
que envelhece. sem que a vejas.
cerre-se ____ pois parte de mim
já se desligou
do impulso
jamais tão latente_ ou ainda
da vida que se
desvaneceu. em pétalas
amarelas
.
adubo senil.

domingo, 13 de dezembro de 2020

Ossos e sangue

Por Oswaldo Antônio Begiato




Para que servem
os sonhos que sempre tive,
se o tempo passou
e me petrificou?


Onde posso
encontrar carne e ossos,
se tudo agora
são pedras?


Como verter
das veias, sangue,
e revelar o pulsar do coração
se pertenço ao mundo mineral?


Como amar
se minhas perdas
fizeram de meus sentimentos
uma rua ladrilhada?

sábado, 12 de dezembro de 2020

Uma oitava acima

Por Meriam Lazaro





poeta sem tristeza
e da música sem solfejo,
inda que ensaiada,
não sai bela sonata.



bordar sem alinhavo,
cama sem aconchego,
inda que pura seda,
ao paraíso não leva.


MI
bemol da escalada,
mirada que faz tremer,
inda que em 40 graus,
vale a pena viver.



lar que ama muito,
nem sempre quer dizer,
inda que em lamento
jure dez vezes oito.


SOL
que me queiras Lua
para carinhos acender,
inda que te perdoe,
não há esquecer.



no horizonte findo
há ritos de despedida,
inda que em tal linha,
haja chegada e partida.


SI
não rima com solene,
porém pouco importa,
inda que não venhas
abro-te janelas e portas.



fundo do coração
ergo-te uma serenata,
inda que sem violão,
amor em leminiscata...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Papel de presente

Por Mayanna Velame




Na chaminé de uma casa,
um homem robusto
(vestido de vermelho sangue)
foi encontrado morto,
embrulhado
no papel de presente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Encontro das nossas almas

Por Nana Yamada




Quando nossos olhares
se encontrarem,
lembraremos
que já tínhamos
nos conhecido antes,
em nossos sonhos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Pagando de gostoso

Por Fabio Ramos




cismou
que


receberá


200
pilas


(por um livro)


vai
ficar
querendo


pois esse preço ninguém
desembolsará


(...)


você ainda
repete
que


venderá


um
LP


merda


por
seiscentos e
vinte:


UM PREÇO SALGADO


não
lhe


assegura


que
alguém


certamente comprará


(...)


a
sua
prosa


de vendedor


é


(história de pescador)


e nesse
mar
de


FALSO BAIACU


não
existe


peixe nenhum

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Ganesha

Por Denise Fernandes





Ganesha sentado sobre o globo terrestre.

Suas bençãos organizando tudo.

A sabedoria além das religiões.

Os grandes Mestres e o professor

e o professor do professor.



Norte, sul, leste, oeste.

A força dos lamas do Nepal

mantendo elevada a espiritualidade

na Terra. A compreensão.

O silêncio que respira.



As estradas. O sentido.

A força do quatro e do quadrado.

Quando tudo melhora

Ganesha sorrindo como um menino

O céu azul transpira cristalino.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

duas luas

Por Ana Paula Perissé




sopra ventania
molha maré
encolhe mundo
para que me caiba
alma já, inteira,
em pele tua.


mas estranha-me
senão te respirar
em âmbar: lua em frenesi
de duas
.
quando aqui
me vieres, tranque a chave
do tempo
e jogue-a fora.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Engodo

Por Oswaldo Antônio Begiato




Por aqui, na minha pequenina vila,
enganamos a morte assim:
Reunimos-nos no bar
todos os dias às onze horas da manhã,
ali ficamos tomando uísque
e rindo.


Nessa hora a morte passa caçando.
Vem com a foice afiada e os olhos esbugalhados.
Ela olha pra dentro do boteco
e quando vê a gente bebendo e rindo
pensa assim:


- Esses aí, estão rindo e bebendo,
não devem ter doença alguma.


Deixa-nos e vai embora caçar em outro mato.

sábado, 5 de dezembro de 2020

A florista

Por Meriam Lazaro


Imagem: Louis Marie de Schryver


Neste jardim tantas flores
A jardineira ofertou,
Com seu dom e mil amores
A poetisa encantou.


Azaleia, bogari,
Cravos, dália, erva-abelha
Voando daqui e dali
Acendeu nova centelha.


Fúcsia, gerânio, jasmim,
Branco lírio e heliotrópio,
Sem cultivo em xaxim,
Ixia de plantio próprio.


Narciso de água colheu
Para unir à margarida,
O que não apeteceu
A orquídea preterida.


Com palma-de-Santa Rita
Protegeu nosso caminho,
Quaresmeira mais bonita
Do que a rosa e o rosmaninho.


Estrelícias e tulipas,
De cores exuberantes,
Entristeceram as zínias,
Mas foi só por um instante.


Unha-de-vaca a flor
Roxa que nunca se viu,
Borboleta multicor
Bateu asas e sumiu.


Violetas e angélicas,
Sob um chapéu risonho,
Vive no Sul das Américas
Doce Florista de sonhos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Renas, uni-vos!

Por Mayanna Velame




Sem receber
o décimo terceiro salário,
as renas realizam
paralisação
em frente à casa do
Papai Noel.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Nenhuma palavra

Por Nana Yamada




Palavras não serão suficientes
Mas através do meu olhar, vai ler
No calor da minha mão, vai entender
E ao sentir meu amor, vai sentir
Todas as coisas que não posso explicar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O recheio

Por Fabio Ramos




de uma abelha


tens o
mel


(...)


de um escorpião


o
seu
veneno


(...)


juras
tu


que
doce é
o teu beijo


mas
da língua


de
uma
abelha


não escorre amargor


(...)


é melhor
limpar


o canto da boca


pois
está


dando muito na vista:


qualquer
um


repara que


tu
juras
em falso


e não é de hoje!

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Destino

Por Denise Fernandes




Minha impossibilidade é meu destino?

em tudo que não foi desatino

sem entender o amor te ilumino

para salvar-me enquanto termino

sentindo o vento cristalino.