Por Mayanna Velame
Durante
uma tarde, de um mês qualquer, eu caminhava entre ruas de paralelepípedos.
Empoeiradas e impregnadas de terra, elas carregavam, em si, marcas da secura do
tempo. Distraída, avistei a carreata de um circo, que recentemente chegara à
pequena cidade; localizada no sertão paraibano.
Logo,
os moradores se acomodaram sobre os parapeitos das janelas. Acenavam, felizes,
para os palhaços. Enquanto isso, o locutor anunciava as atrações do espetáculo
circense.
Sorri
em ver essa cena. O pacato interior, agora, teria uma programação: um circo
modesto, com artistas simples (no entanto, animados de estarem ali, naquele
lugar). Contentes, eles seguiram – aclamados pelos populares que, a cada
momento, maravilhavam-se feito crianças.
Até
que algo inesperado aconteceu... Pelas ironias, acasos ou imprevistos da vida,
o desfile do circo entrou numa esquina e se deparou com um cortejo funerário.
Imediatamente, a alegria foi substituída por feições desoladas. Diante do fato,
o locutor (antes falante) calou-se. A música emudeceu-se. Não me recordo o
número exato de pessoas no funeral, e nem qual era o nome do morto. Só lembro
que os palhaços ofereceram condolências ao defunto, fizeram o sinal da cruz e,
assim, prosseguiram.
Na
linha tênue da vida, sempre tentamos nos equilibrar. Entre ela e a morte, está
nossa existência. Vivemos ladeados de alegrias e tristezas. E são estes
resquícios de emoções que nos constituem. Filosofias à parte, a vida escorria – em forma de suor – naquela típica tarde do sertão.
Com
meus olhos, acompanhei o cortejo funerário até o final de uma rua.
Longinquamente, uma música infantil voltou a ecoar na cidade. Era o desfile do
circo, com seus palhaços distribuindo alegria. No horizonte, entre as serras, o
pôr do sol proclamava o fim do dia (juntamente com o fim da vida).