quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Não era filme do Hitchcock!

Por Fabio Ramos




um raio atingiu
o pássaro


em
pleno
voo noturno


(...)


RESULTADO?


a
queda
em 90 graus


e a pancada no solo


(...)


o urubu
viu
uma oportunidade e
abraçou:


QUE BANQUETE!


(...)


ao terminar a
refeição


ele
quase pairou
no ar


(como beija-flor)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

No Google

Por Denise Fernandes




A foto da minha rua no Google me irrita. Mostra um dos piores ângulos dela. A porta de um estacionamento. Pobre rua, mal ilustrada pelo Google.

O Google perde a iniciativa singela e prática do meu vizinho, que tanto me anima. Alguém na rua Robertson colocou uma placa: "Estas plantas aqui são um presente para você". Pode pegar! Debaixo da placa, inúmeros vasinhos são colocados (de tempos em tempos) pelo gentil morador. Lembro-me de Tistu, o menino do dedo verde... Alguém mais leu esse livro? Sim, o mundo pode mudar de uma forma verde. Ou o mundo pode mudar através dos livros?

A rua, onde a primavera ainda se diverte, está cheia de flores, de tomates verdes, de promessas reais, de sementes.

A rua, de ladeira íngreme, desafio para as canelas do bairro, está cheia de presentes – antes mesmo do Natal.

O Google não tem nosso mapa.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

esquife

Por Ana Paula Perissé




                       estranhíssimas vagas
                       que me despertam
                       em vigília


                       Quero dizer!
                       sobre o silêncio intranquilo
                       da soberania da indiferença


                       deixe a vida comigo!
                       sei bem tratar
                       de minhas taças
                       de cristais
                       toques
                       de minha pele
                       manchada por vinho e suor


                       deite em teu esquife!
                       e espere.
                       ( não haverá diferença)


                       a morte não te é transcedental


                       (uma alma revolta de prazer jamais será maldita)

domingo, 27 de novembro de 2016

sábado, 26 de novembro de 2016

Trio calhamaço

Por Meriam Lazaro




Indico, dessa vez, o trio calhamaço. Considero calhamaço uma obra acima de 500 páginas. Normalmente escritos numa época em que não havia a indústria do entretenimento (como há hoje). Alguns publicados em periódicos e, só depois, reunidos numa publicação. É bom lembrar que, muitas vezes, as histórias eram escritas à mão, no decurso de anos. A numeração não indica ordem de preferência.


1. Guerra e Paz – Leon Tolstói
2. O Idiota – Fiódor Dostoiévski
3. Norte e Sul – Elizabeth Gaskell


“Guerra e Paz” é um dos que mais assusta quem ainda não o leu. Assusta pelo tamanho e, creio eu, também pelo título – que nos leva a pensar numa descrição infindável de atos de batalha. É lindo. É Tolstói.


“O Idiota” me fez querer ler outro calhamaço: Dom Quixote (leitura em andamento), um dos livros preferidos de Dostoiévski. Há pessoas que o releem anualmente. Nesse sentido, ainda procuro meu suprassumo. O personagem principal, príncipe Míchkin, seria uma mistura de Jesus Cristo e Dom Quixote. O final da história é belíssimo!


Identifiquei-me muito com “Norte e Sul”, a começar pelo título. Aborda o início da revolução industrial numa pequena cidade ao Sul da Inglaterra, que vivia da fabricação de tecidos de algodão. O autor descreve a mazela dos trabalhadores e as primeiras greves. Margaret Hale, a protagonista, sai com sua família do Norte (verde e aristocrático) para o Sul (malvisto pela ganância das indústrias, que tornavam a paisagem cinza e feia). O trabalho é, para mim, o condutor da vida. Digo isso num sentido amplo de ocupação: atividade dentro e fora de casa, estudo, hobby. Quem sabe ainda volto à faculdade para concluir meu curso de Terapia Ocupacional. Enquanto isso, me ocupo com outras formas de lavor, entre elas, o prazer da leitura.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Acertando Ponteiros

Por Fabio Ramos




em
Curvelo
são
9 horas


em
Abu Dhabi
são
15 horas


em
Melbourne
são
22 horas


(...)


e
no teu
universo paralelo


os atrasos
são
britanicamente
pontuais

terça-feira, 22 de novembro de 2016

A coruja

Por Denise Fernandes




sim, fiquei amiga de uma coruja branca de Sapucaia

na noite sem fim, ela piava

era mil novecentos e setenta e dois

fazia muito calor e

fomos ao circo



sim, fiquei amiga de um cão vira-lata

porque o bicho só faltava falar

me disse tanto com seu olhar

foi lá em Igaratá



em Bueno Brandão

fiz amizade com um cavalo

ele tava com fome na estrada de terra

e eu com um saco de pão amanhecido na mão



também fiquei amiga de um urubu

no início tive Medo.

mas ele me disse:

não sou a Morte.

sou a sorte de um amigo escuro

me sorriu um sorriso confiante

senti o calor de sua amizade

ainda pia a coruja

bebendo desse mesmo calor

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

restos

Por Ana Paula Perissé




                                            em desvio de tua voz
                                            muda
                                            hei de me calar
                                            a flor que te trouxe
                                            sempre.



                                            ( desapercebida
                                            ela seca
                                            e só)



                                            funeral em duo
                                            (de rosas)



                                            pois há de tudo
                                            em mim
                                            à véspera da esperança
                                            epopeica
                                            morta, agora,
                                            em tua apática
                                            perversão.



                                            (vestes a deselegância
                                            da aspereza amorfa
                                            que corrói a vida
                                            que te trouxe
                                            o Divino)




                                            liberto-me
                                            plena
                                            dos restos
                                            que sequer
                                            chegam a existir.

domingo, 20 de novembro de 2016

sábado, 19 de novembro de 2016

Otelo

Por Meriam Lazaro




Conheci o maravilhoso vilão Iago em mais uma tragédia de Shakespeare. Eu desconhecia a história do ciúme de Otelo por sua esposa Desdêmona – ciúme alimentado pelo ardiloso, invejoso, rancoroso vilão.


A arte da manipulação é utilizada com louvor, para despertar curiosidade e o que seria uma pontinha de desconfiança; de modo que, aos poucos, o próprio Otelo venha a implorar pela revelação das infâmias (fruto da maldade de Iago). O convencimento de Otelo se dá, assim, por coação pelo predomínio das emoções sobre a razão.


Machado de Assis cita Iago no livro "Ressurreição", citação que agora pude compreender melhor; assim como outros vilões da ficção. Confesso que o vilão pode despertar, ao mesmo tempo, asco e admiração no leitor.


Trecho que destaco: "Deixe-me falar como o senhor mesmo falou, e decretar uma sentença que, como alavanca ou degrau, pode auxiliar esse casal de apaixonados a granjear sua simpatia. Quando o irreparável está feito, cessam-se as dores vendo-se que poderia ter sido pior aquilo que no fim confiou-se em um desejo ardente. Lamentar um infortúnio que está morto e enterrado é dar o passo certo na direção de atrair para si novo infortúnio. Há sempre aquilo que não pode ser preservado quando o Destino tem as rédeas na mão, mas a Paciência encarrega-se de fazer do prejuízo uma zombaria. Aquele que foi roubado, quando sorri, furta algo do ladrão, e rouba a si mesmo quem se consome em mágoa inútil" (fala do Doge de Veneza, para aconselhar o pai de Desdêmona a aceitar, como fato consumado, o casamento dela com Otelo).


Livro: Otelo
Autor: Shakespeare
Editora: L&PM Editores

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Tarde no sertão

Por Mayanna Velame




Durante uma tarde, de um mês qualquer, eu caminhava entre ruas de paralelepípedos. Empoeiradas e impregnadas de terra, elas carregavam, em si, marcas da secura do tempo. Distraída, avistei a carreata de um circo, que recentemente chegara à pequena cidade; localizada no sertão paraibano.


Logo, os moradores se acomodaram sobre os parapeitos das janelas. Acenavam, felizes, para os palhaços. Enquanto isso, o locutor anunciava as atrações do espetáculo circense.


Sorri em ver essa cena. O pacato interior, agora, teria uma programação: um circo modesto, com artistas simples (no entanto, animados de estarem ali, naquele lugar). Contentes, eles seguiram – aclamados pelos populares que, a cada momento, maravilhavam-se feito crianças.


Até que algo inesperado aconteceu... Pelas ironias, acasos ou imprevistos da vida, o desfile do circo entrou numa esquina e se deparou com um cortejo funerário. Imediatamente, a alegria foi substituída por feições desoladas. Diante do fato, o locutor (antes falante) calou-se. A música emudeceu-se. Não me recordo o número exato de pessoas no funeral, e nem qual era o nome do morto. Só lembro que os palhaços ofereceram condolências ao defunto, fizeram o sinal da cruz e, assim, prosseguiram.


Na linha tênue da vida, sempre tentamos nos equilibrar. Entre ela e a morte, está nossa existência. Vivemos ladeados de alegrias e tristezas. E são estes resquícios de emoções que nos constituem. Filosofias à parte, a vida escorria – em forma de suor – naquela típica tarde do sertão.


Com meus olhos, acompanhei o cortejo funerário até o final de uma rua. Longinquamente, uma música infantil voltou a ecoar na cidade. Era o desfile do circo, com seus palhaços distribuindo alegria. No horizonte, entre as serras, o pôr do sol proclamava o fim do dia (juntamente com o fim da vida).

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Perfil

Por Daniella Caruso Gandra




Hoje não compilo ilusões, não compito com opiniões,
pois a mim tudo isso é desenxabido, não me causa tentações.


Já me desertei de enganchos e arranjos que me causavam fastio,
abri-me rumo ao desconhecido e nem por isso mudei.


Sou um letreiro ambulante de mim mesmo, dispenso mediocridades,
muito juízo sem maldade por não crer na infinita bondade.


Não uso naipes pra conquistar espaços,
tampouco me nublo de um tipo que não condiz com meu espírito.


Revelo o oculto por detrás de abismos,
mas não represento arquétipos nem saturo egos,
e tabulo rastros pra me esquivar de todo o resto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pressão

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
três
demandas


mas
ele
é somente
um


se
não quer aguardar
volte depois


fala
sobre urgência


diz
que
com os outros
funciona


mas
ele
é humano


(e faz o possível)


GRITOS
ou
CHILIQUES
de nada resolvem
porque
ali


é
uma
coisa por vez