sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Tarde no sertão

Por Mayanna Velame




Durante uma tarde, de um mês qualquer, eu caminhava entre ruas de paralelepípedos. Empoeiradas e impregnadas de terra, elas carregavam, em si, marcas da secura do tempo. Distraída, avistei a carreata de um circo, que recentemente chegara à pequena cidade; localizada no sertão paraibano.


Logo, os moradores se acomodaram sobre os parapeitos das janelas. Acenavam, felizes, para os palhaços. Enquanto isso, o locutor anunciava as atrações do espetáculo circense.


Sorri em ver essa cena. O pacato interior, agora, teria uma programação: um circo modesto, com artistas simples (no entanto, animados de estarem ali, naquele lugar). Contentes, eles seguiram – aclamados pelos populares que, a cada momento, maravilhavam-se feito crianças.


Até que algo inesperado aconteceu... Pelas ironias, acasos ou imprevistos da vida, o desfile do circo entrou numa esquina e se deparou com um cortejo funerário. Imediatamente, a alegria foi substituída por feições desoladas. Diante do fato, o locutor (antes falante) calou-se. A música emudeceu-se. Não me recordo o número exato de pessoas no funeral, e nem qual era o nome do morto. Só lembro que os palhaços ofereceram condolências ao defunto, fizeram o sinal da cruz e, assim, prosseguiram.


Na linha tênue da vida, sempre tentamos nos equilibrar. Entre ela e a morte, está nossa existência. Vivemos ladeados de alegrias e tristezas. E são estes resquícios de emoções que nos constituem. Filosofias à parte, a vida escorria – em forma de suor – naquela típica tarde do sertão.


Com meus olhos, acompanhei o cortejo funerário até o final de uma rua. Longinquamente, uma música infantil voltou a ecoar na cidade. Era o desfile do circo, com seus palhaços distribuindo alegria. No horizonte, entre as serras, o pôr do sol proclamava o fim do dia (juntamente com o fim da vida).

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