domingo, 28 de fevereiro de 2021

Meu pai, meu poeta!

Por Oswaldo Antônio Begiato


Arquivo pessoal


Meu pai foi poeta sem nunca ter escrito um único verso.
Poeta do amor mais puro e profundo que já vi.


No dia em que completei trinta anos
mandou buscar para minha mãe a orquídea mais bonita de Jundiaí.
O cartão dizia que há trinta anos ela o tinha feito, pela primeira vez,
o homem mais feliz do mundo
(sou o primeiro filho deles).
Minha mãe disse com todo encanto do mundo:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.


Minha irmã caçula, depois de onze outros partos de minha mãe,
nasceu no dia nove de maio de mil novecentos e setenta e um
(dia das Mães, naquele ano).


Meu pai deu a ela o mesmo nome de minha mãe Regina – Rainha.
Quando chegou com a certidão de nascimento em casa
minha mãe com o mesmo encanto de sempre disse:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.


Quando estou muito triste gosto de imaginar
o quanto de poesia ele fez entre o primogênito e a caçula deles.
E rio. Apenas rio.


Com eles aprendi que poetas são bobos.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Labiata canção

Por Meriam Lazaro




Sonhei
Que tu eras uma estrela
Tão linda
De alvura sem par


Sonhei
Que tu eras uma estrela
E ao vê-la
Coração quis parar


Sonhei
Que tu eras uma estrela
Distante
Para nunca alcançar


Sonhei
Que tu eras uma estrela
E movê-la
Era o céu desabar


Sonhei
Que tu eras uma estrela
Grandeza
Do amor, o despertar


Chorei
Pois tu eras uma estrela
Luzindo
O meu medo de amar

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Teto

Por Mayanna Velame




Fixou algumas
figuras de planetas
e estrelas no teto
de seu quarto.
Sonhava com o universo
e seus cometas. No entanto,
a gravidade lhe puxava
para a vida real.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Uma vez

Por Nana Yamada




Vivi uma vez, numa grande chama,
Que ardeu em todas as partes
Botei mais fogo nas cinzas
Tudo já tinha se tornado pó
Tudo já tinha desaparecido
Quando eu percebi
Que o sol voltou a brilhar


Uma vez fui aquela menina
Que acreditou em contos de fadas
Conheci a realidade
E me desencantei com a ilusão
Fui expulsa dos meus sonhos
Criei uma nova rota sem você
E tudo começou, então, a acontecer


Uma vez acreditei
Em tudo aquilo que eu já não acredito
Quando sua sombra desapareceu,
Uma claridade infinita apareceu
Me trazendo de volta tudo aquilo
Que eu tinha deixado partir
Junto com o tempo que te levou

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Freio na língua

Por Fabio Ramos




fala


dos
outros


fala


de
todos


(a si mesmo elogia)


e maldiz
quem
não


é você


(...)


acima do dom da
palavra


está
o
dom


do silêncio:


calar
perante
à estupidez


ao fanatismo que cega


à injustiça
dos


(homens)


e
falar


quando preciso for


(...)


muito
além


do barulho


do
mundo


(reina a quietude do)


espírito
em


Deus

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Nuvai

Por Kiyohide Iizuka


Imagem: Kiyohide Iizuka


É uma nuvem pairando no ar.

A fumaça saindo da chaminé de uma locomotiva.

A copa da árvore respira, inspira uma neblina.

Vestida, o nu vai embora.

A nuvem muda quando assopra…

Sem levar um passageiro.

Vem despido de azul.

O céu sem véu. Sem chuva.

Com fé nos divinos. Eu creio nas mãos.

Daqui um segundo, a nuvem muda de forma.

Partindo da estação.

Deixou o céu azul na chegada da lua.

Na escuridão, as nuvens continuam no céu,

com uma cor que não enxergamos

mas sabemos que está lá.

Voando, navegando. Nuvens estão nos vãos.

No Porto, há fumaça de uma chaminé.

Na via dupla.

Lá! Bem longe, no horizonte.

Apita. E a sirene silencia.

De noite a nuvem não tem cor.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

fervência

Por Ana Paula Perissé




(existem como pétalas)


teus olhos em meu
ombro nu:
quero café fervente
tal como vida
desnuda.


( ´ainda há sabor )


queima
língua


olhe o céu.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Zés

Por Oswaldo Antônio Begiato




No tempo do zagaia
(meu amigo Zé dizia tempo do Zé do Gaio)
havia umas rosinhas
feitas por doceiras com amêndoas e clara de ovo
para enfeitar bolos de noiva;
rosa, azul, branca, verde...


Eu era criança
nem ligava para o bolo,
só queria saber delas, as rosas;
chamavam-se marzipã
(meu amigo Zé dizia Maria do Zé Pão).


Eu gostava de ouvir as coisas novas
da língua que meu amigo Zé inventava.
Eram tempos de muitos Zés e poucas escolas.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Estrelada

Por Meriam Lazaro




Rabisca o céu dos meus dias
Do tinteiro ao pensamento
Linha de pura alegria
Desdenhando meus tormentos


Em sonora melodia
Gargalhada ou lamento
Chora a estrela, a alegria
Luzindo negros momentos


Se não fosse a poesia
De róseo entretenimento
Não haveria a magia
Da lua o encantamento


Nasce uma fotografia
Repleta de sentimentos
Escritura em harmonia
Coração olha pra dentro

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Poesia poesia

Por Nana Yamada




Poesia poesia
Por onde anda?
Quando te encontro
E te rabisco
É como se eu estivesse
Te registrando
Para todo sempre


Poesia poesia
Por vezes te encontrei
Te senti viva em mim
Mas o tempo
Foi levando
Para uma estrada qualquer
Sem rota e nem destino…


Poesia poesia
Por tempo acreditei
Que nada seria em vão
Mesmo sentimentos passados
Passam com o tempo
Dando espaço para
Lembranças brancas
Para serem registradas…


Poesia poesia
Venho te multiplicar
Para que só permaneça
Aquilo que vem
Do melhor sentimento
Que muitos desvalorizam
Mas poucos são dignos…

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Ser do contra

Por Fabio Ramos




se
até


a girafona


desce
do
salto


(na hora da foto)


por
que


você


não
toma


parte com


suas
amigas


NA ALEGRIA DELAS?


(...)


e haja
briga


porque há


quem
diga:


RAZÃO


não
tem


pra essa


tua
cara


amarrada


(...)


por
que


tanta birra?


deixe
de


cisma!


(...)


seja
mais


INCISIVA:


por
que


você


vem
aqui


(e faz questão)


de
não
sorrir?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

vestígio

Por Ana Paula Perissé




não, não há diferença
quando o promontório de tuas dores
não te aquietam em névoa:
sem pathos há vida pouca
e mesmo que te fale
sobre a ausência do presente,
haverá tempos para escolher fazer
gozo
encarnado no soma


.
de 1´vertigem,
que se quis
abertura

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Tolo

Por Oswaldo Antônio Begiato




A hora que puderes vem te despedir de mim. Sem óculos escuros.
Não tragas rosas vermelhas. Traze margaridas brancas.
Ou não tragas flor alguma.
Canta a minha música preferida. Se possível duas, três...
Canta baixo para que só eu ouça. Ou não cantes nada.
Não dês ouvidos às coisas ruins que falarem de mim.
Ouve somente as boas. Ou não ouças nada.
As boas coisas guarde-as como alívio para ti,
desse velho tolo que não soube amar.
Ou não quis, e que parte agora, feito um cusco de três pernas,
Sem descobrir o quanto tu foste capaz de amar um rabugento.


A hora que puderes vem me observar, imóvel. Frio. Findo.
Traze olhos cheios de ternura e mel na boca. Sem lágrimas. Sem amargor.
Recita versos do sul. Os mais bonitos que eu já ouvi. Quintana. Lupicínio.
Não, melhor recitares os teus.
Ou não recita nada.
Não notes meu estado esquelético e feio, mas veja a alma singela
Que escapou do corpo arruinado pela arrogância e pela boemia
De um velho tolo que nunca soube escrever um poema de amor.
Um poema de amor pra ti.


A hora que puderes vem me ensinar a não ser tolo.
A não ser tolo na eternidade.
Se é que eternidade existe, porque tu, agora, sei que existes.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Templo da poesia

Por Meriam Lazaro




No templo da poesia
O sacerdote é o amor
Ainda que a fantasia
Se encarregue da cor


Sem sonho de galhardia
Por ser poeta menor
No altar todos os dias
Da alma eis o cantor


Entoa a Ave Maria
E a modinha de amor
Que incensa de magia
Segredo ao compositor


É tempo de alegria
Eis o verso eis o andor
No templo da poesia
O sacerdote é o Amor

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Adoro te adorar

Por Nana Yamada




Adoro tudo que existe em você
Tudo que te transforma nesse homem tão incrível
Os segundos que vivemos e partilhamos
Tudo em você me fascina
Me encanto com seu encanto
Que enche meu coração de sentimentos sinceros


Adoro passar cada minuto ao seu lado
Mais que um diário on-line
Mais que um parceiro
Mais que uma amizade colorida
Um sentimento que eu não esperava
Um sentimento que não se explica


Adoro cada palavra sua
Adoro a maneira que me toca
Adoro a maneira que perde o controle
Adoro o teu cheiro
Adoro tudo que vem de você
Adoro te ter em mim


Adoro quando você chega
Me dominando por inteira
Sempre me convenço que um outro igual
Não existe em lugar nenhum
A não ser bem aqui, no meu coração
Onde te carregarei para sempre


Adoro te adorar
A cada amanhecer
A cada anoitecer
A cada instante
Em qualquer lugar
Sempre te adorarei

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Ao volante

Por Fabio Ramos




não tem


V
AL
ETA


não tem lombada:


se
der


(bobeira)


ela
atropela


em cima da calçada


(...)


não
tem


MURETA


não
tem


mais nada:


se
der


(um jeito)


ele
se
mata


DIRIGINDO


na
estrada

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Maria Julia Santander Drummond de Almeida

Por Denise Fernandes





Madrinha, de ti sou e me sinto tão bem

Amiga da sua mãe, comadre, tia do coração

Rica mesmo quando sem dinheiro

Indígena mesmo sem cocar

Aberta para o céu e para o mar



Joias que a vida me ensinou a guardar

Unidas aos meteoros que navegam pelo céu

Louca, muitas vezes, mulher-pássaro

Irmã de tanta gente

Ave com seu ninho cheio de filhotes



Sabrina, sua mãe, mulher guerreira

Alma de águia, coração de cabra

Novos tempos chegarão com as novas gerações

Tenta, sempre tenta, Maria

Acima da Terra, o Cosmos reina

Ninguém é totalmente sozinho

Dores são sempre passageiras

Esperanças são como flores

Ria com os frutos



Dádivas acontecem sem que a gente espere

Rio que navega só por navegar

Única e igual a todos, humana e trágica

Mulher, sempre mulher, melhor ser mulher

Mãe sempre mãe com meus filhotes

Ondas de amor que me invadem

Nuvens de sonhos que me acolhem

Dedos de crianças que me mostram o amanhã



Dia virá que riremos juntas

Espera o melhor, teme o pior



Asas nascem na nossa cabeça

Leite tem os seios sagrados

Matuta bem antes de agir

Escuta teu pai, que te quer bem

Imita o nenê que aprende

Divide o pão com teus irmãos

Ama mesmo sem entender o amor

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

principados

Por Ana Paula Perissé




te quero quando me deseja e me vira de costas
numa mínima pia sem cor
e me chega e me penetra por trás
se curvando ao meu corpo
tu que não te inclinas a ninguém
e lê minhas marcas, minhas sardas e sinais
como se num oráculo
fosses para uma batalha.
tu, que não te curvas a ninguém
respira comigo e me acaricia o mapa de minhas costas
segura em minha cintura
e inteiro e inclinado
ofegante
.
descobre senhas para novas batalhas
em meus poros suados


.
dizem que há príncipes que assim
conquistaram novos impérios
.
e eu não sei quem os perdeu.