sábado, 30 de novembro de 2019

Remanso

Por Meriam Lazaro




Água morena
da fonte
que busca
do rio
a concha
e o olhar


Água da pedra
serena
que leva
a Minas
segredos
do mar


Água salina
do poço
que manhãzinha
adoça
o gozo
e o despertar


Água em gota
pequena
que guarda
oceano
saudade
e luar


Água remanso
de colo
que move
do beijo
memórias
e um soluçar

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Hodie

Por Fabio Ramos




e você
faz


planos


sem
combinar


os detalhes com Deus


e
daí
um dia


(COM A MORTE VOCÊ DEPARA)


pois o plano
de Deus
não
é


o mesmo que
o teu


(...)


hoje
você
deixa


PARA DEPOIS


sendo
que


(para o amanhã)


não


GARANTIAS


(...)


tenha
em


mente


um
lema:


com a morte


você
não
negocia


OU DISPUTA NO XADREZ

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Morangos

Por Denise Fernandes




Plantar morangos foi um dos maiores lazeres dos últimos dez anos. Tudo começou com um pequeno vaso, um morango sorridente, que dei para mim mesma no Dia das Crianças. Comprei-o na feira, em 12 de outubro.

O pequeno vaso continuou a florir e frutificar. Depois, deu mudas. Meu pai, devoto da jardinagem, disse que o pé de morangos "gostou do lugar". Ensinou-me a fazer o plantio das mudas  arte que ainda preciso aprimorar.

Cheguei a ter oito pés de morango, delicados, sempre florindo e frutificando. Virou um imenso prazer acompanhar o ciclo, a flor, o pequeno fruto verde. Seu desenvolvimento, seu amadurecimento. E o morango prazeroso na boca de alguém. A delícia que eu experimentava, junto às plantas, era uma sensação de pertencimento: sou delas e elas são minhas. Entre nós, a simbiose da água e do sonho, da vida e da poesia.

Tive que ausentar-me de casa por um mês, e eles morreram. Agora, comprei um vaso novo de morangos. Não é uma espécie de esperança renovada, mas o mergulho na magia da natureza. Ele vai florir novamente? Dará frutos? Produzirá mudas?

O futuro incerto de todos nós é o alvo. A semente, dentro de mim, me faz agarrar cada oportunidade de frutificação. Talvez seja um simples (e bobo) desejo de ser feliz; em meio a tanta confusão (e angústia). Talvez seja a sorte de ter encontrado a planta naquele exato momento. Talvez seja o exemplo do meu pai, que fez uma estrada: seguir os passos dele, com alguma alegria, traz segurança.

Parece que sei mais de mim diante do morango, que frutificou na minha frente. E esse saber me conforta.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

passagens gitanas

Por Ana Paula Perissé




                                    Passagens
                                    venham me atravessar!
                                    Toques de violinos
                                    que já me viveram
                                    de vidas póstumas
                                    paragens do futuro
                                    com sabor acre
                                    no meu corpo
                                    cordas a pulsar
                                    em ritmos de diafragmas
                                    amantes.


                                    Paisagens de travessias
                                    em retalhos de atalhos
                                    costurados pelas notas
                                    de cada som
                                    vibrante
                                    atonal
                                    de cada passo
                                    de cada olhar entre bailarinos
                                    sozinhos de luas.
                                    Cadências passadas
                                    no bater de saltos
                                    incansáveis
                                    no tablado rubro do imponderável.


                                    Venha, gitano!
                                    tomar-me
                                    em cálices de
                                    pequenos perfumes de mim
                                    poros suados
                                    corpos cansados
                                    semblante ávido
                                    pela derradeira música
                                    que nos resta
                                    de sermos
                                    apenas
                                    passageiros fadados
                                    ao esquecimento da carne
                                    espiritual.

domingo, 24 de novembro de 2019

Perda de tempo

Por Oswaldo Antônio Begiato




Para onde você pensa que vai?
Não sabe que todos
os caminhos
levam a Roma?


E quem tem boca
beija
e quem não a tem
ouve.


E quem tem um só olho
cativa a princesa
e quem não tem olho
vive só.


Ou beija a princesa e a desperta.


E quem tem pés
massageia as costas
e quem não tem
espera.


Uma canoa se faz com um pau só
e muitas mãos e muitos sonhos e muita coragem.


E quem fica muito
singrando mares
não conhece as terras.


Da terra se vem
a terra se vai,
mas é preciso cuidado;
nem tanto ao mar, nem tanto ao amar.


Como é doce amar no mar!

sábado, 23 de novembro de 2019

Revelação

Por Meriam Lazaro




Na face em que
me escondo,
em redoma
apareço.


Meu espelho
é o mundo,
minha paz
é o meu apreço.


Só nos versos
me revelo,
desnudo a alma
em dor.


A tristeza
que invento
tem apelo
para o amor.


Já não quero
mais segredo,
cansei de ser
sonhador.


Com desmazelo,
confesso
dissonância
interior.


Reflito
a outra face
e revelo-me
em flor...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Venha

Por Nana Yamada




Meu amor, venha comigo
Pegue na minha mão e vamos dançar
Vamos nos entregar
Escute o ritmo do meu coração
Será que você pode sentir
O quanto me sinto realizada contigo?
Venha, não solte minha mão
Não mais e nem nunca mais
Vamos passar a noite nos amando
Vamos nos permitir
Meu doce amor,
Adoro a maneira como sorri
Oh, seu jeitinho tão único
Todo amor do mundo encontro em você
Vida minha, venha correndo
Não vê que o tempo voa?
Ainda estou aqui
Sempre estarei aqui
Por você
E somente você

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Invadir o escuro

Por Fabio Ramos




em busca


de
água


no deserto:


e
na
água


(a concha)


e
na
concha


A PÉROLA em vias de ser
descoberta


(...)


quem
será
o primeiro


a
tocar?


e
teu
brilho


(macular com)


apenas
um


olhar?


(...)


se
para
usufruir


no
deserto


é necessário achar


não
serão
miragens


QUE IRÃO LHE TAPEAR

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Sociedade do desempenho

Por Maurício Perez



Acho que foi Gilles Lipovetsky quem cunhou este termo: sociedade do desempenho. Vivemos em uma sociedade onde tudo é competição, tudo é ranqueado, avaliado. Temos metas, exigências por resultado e, no fim, sobrarão apenas campeões ou fracassados.


De fato, repare à sua volta. Qual a posição da escola do seu filho no ranking do Enem? Sua universidade tem quantas estrelas? Sua empresa está na lista da Fortune? Você vai medir seu desempenho de corrida naquele aplicativo e publicar no Facebook? As revistas femininas cobram desempenho na cama. Qual a porcentagem de gordura no corpo? Que prêmios você já ganhou? Tem algum certificado? Esse filme ganhou quantos Oscars para merecer uma conferida? Sua página tem quantos seguidores no Instagram? Qual a nota do seu carro na revista Quatro Rodas?


Tenho visto não poucos jovens macerados pelo desejo de dar certo, de crescer, de serem bem-sucedidos; de uma forma que ultrapassa o sadio. É obsessão. Seus pensamentos, inconscientemente, são sempre um mantra: "Tenho que vencer, tenho que dar certo, tenho que superar, tenho que alcançar aquela meta, devo fazer isto e aquilo, preciso conseguir". Estão vivendo com um alarme interno que nunca desliga. Olham para o lado e veem seus colegas imersos, dedicados, empenhados. É uma competição. E a possibilidade de ser ultrapassado, de ficar para trás, é insuportável para eles.


Algumas consequências são bem conhecidas. Perdem a saúde: gastrite, cefaleia, insônia, ansiedade, depressão. Os relacionamentos se deterioram: namorados vão embora, a família se afasta (amigos, idem). A cara sorridente dos campeões esconde muita frustração, dor e solidão.


Outras consequências são menos conhecidas. Há um empobrecimento da alma. A vida se reduz a um jogo, onde o que importa é ganhar ou perder. Vejo profissionais de sucesso que já possuem dinheiro e solidez, mas querem algo mais: IPO, aquisições etc. Uma nova etapa no videogame da vida. Isso é muito pobre! A vida é bem mais do que jogar, competir, ter boa imagem diante dos demais. Descubra pessoas. Nossa cultura e civilização. Invista nas aventuras do espírito. Descubra a família, onde somos queridos por ser  independente dos nossos resultados. Na família, não somos promovidos, rebaixados ou demitidos. Descubra Deus, que é Pai, e não gerente.


Aprenda a fracassar também. Aprenda a ficar para trás. A rir. Aprenda a se levantar. Vamos trabalhar, crescer e lutar, mas em paz.

É autor do blog Correio Chegou.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

portal

Por Ana Paula Perissé




                                  quero desaparecer na simplicidade
                                  num portal que me encerre
                                  na raiz das coisas
                                  como elas simplesmente são


                                  simples
                                  como o movimento da vida
                                  a respiração dos amantes
                                  o ritmo de ser
                                  o amor em cada pétala que cai


                                  simplicidade alquímica
                                  nas pálpebras
                                  que resguardam
                                  nosso olhar
                                  quase absoluto
                                  obscuro


                                  em segredos à plena luz

domingo, 17 de novembro de 2019

Recaída

Por Oswaldo Antônio Begiato




Hoje achei,
perdido na rua,
um brinco de pérola.


Pérola crua.


Na veia do brinco veio
a cor da pele da lua
e o perfume dela,
da dona do brinco.


Um perfume assim,
cheio de ciúme.


Um perfume feito
de ardume.


Extrato de ardume tratado
em laboratório.


Me deu
uma vontade insana
de me apaixonar
novamente.

sábado, 16 de novembro de 2019

Novo velho amar

Por Meriam Lazaro




Além da eternidade,
em qualquer poesia,
revisitado amor.


Com os búzios da verdade
soprada à maresia,
sabia a flauta de cor.


Nuvens de felicidade,
meu céu sem ventania.
Instante de ir e de ficar.


Corpo sem idade,
outra vez bom dia,
como a onda ao mar.


O sol nas tardes,
ternos pássaros eu via.
Pares a voar.


Reciprocidade.
Azul melodia
de um novo cantar.


Eletricidade
na vida que fazia
d'aurora o despontar.


Mas que efemeridade
que ao peito acudia...
Novo velho amar.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Tango

Por Mayanna Velame




Apanhou uma fruta,
apreciou o gosto do conhecimento
e ofereceu ao ser amado.
Após a queda,
dançaram
um tango no Paraíso.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Poetas

Por Nana Yamada




Aqui eu me sinto no Paraíso
Todas as palavras resumem o amor
Cada poesia me faz flutuar
De onde será que me conheces?
Como pode ser tão real?
Poetas
Sonhadores
Amantes
Por que só existem de longe?
Como poderia atravessar
Essa tela que ilumina meus olhos?
Que enche meu coração de amor?
Amor que desconheço mas sinto
Faculdade de amor
Há poesias no ar
E a poesia é vivida
E a poesia é valorizada
É lá que quero ficar
É pra lá que eu vou
Poetas, por onde andam?
Em nenhum canto se fala de amor
Por favor, traga o amor de volta
Para esse mundo tão carente
Tão perdido, tão abandonado…
Venha nos ensinar mais e mais
Cada dia mais e mais…

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Nem aí

Por Fabio Ramos




outro
sol


DE PARTIDA


outra
lua


EM TROCA


*imune às suas paixões:
se você grita


ou
se
você
EMUDECE


realmente independe


(...)


outro
céu


À NOITE


outra
luz
(AMANHÃ)


*ao largo da tua aflição:


se
você


CORRE AGORA


ou
se
você


MORRE AGORA


isso
não
importa


ao vento que sopra

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Carma

Por Denise Fernandes




carma suave

o fardo me conduz

seu eixo é amor

o destino me emociona

ainda sou livre

mesmo me desconhecendo



meu carma abre portas

traduz meu naufrágio

escreve fronteiras

sussurra respostas

feito um mar

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

saturno

Por Ana Paula Perissé




                                  quando
                                  eu não mais ver
                                  as estrelas
                                  claras no céu


                                  ( de ontem ou de sempre)


                                  tampouco
                                  sentir o aroma
                                  da Dama da Noite
                                  a embriagar viventes


                                  de pálidas tendências a tecer
                                  encantamentos


                                  é porque
                                  deixei de lado
                                  a melancolia ardente
                                  de meus lábios
                                  cerrados nos teus
                                  e a teus pés, Saturno!


                                  outra vez
                                  minhas células incensadas
                                  não compartilham
                                  a distância
                                  da ausência de nós.


                                  Mutações crescentes
                                  de desejos cindidos
                                  por vontade alheia de mim


                                  a dor só é minha
                                  sem o rubor da tua pele


                                  ( meu olhar estremecido de vida)