sexta-feira, 31 de julho de 2020

quinta-feira, 30 de julho de 2020

No vácuo do silêncio

Por Nana Yamada




É incrível como as palavras
não faltam quando
é para você.
Mas, agora, só tenho
o meu silêncio
a oferecer.
Hoje em dia, as palavras
já não valem mais,
perderam o
sentido.
Então,
aqui deixo
essas palavras
no vácuo do silêncio.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Carne

Por Fabio Ramos




dizei
com


teu corpo


em
febre


sem palavras:


no
quarto


a
dois


na intimidade


que
vai


extasiar


ao
toque


em nossa cama


(...)


dizei
do


teu corpo


em
ardor


NO CALOR DA FRUIÇÃO:


só vou
me


entregar


ao
prazer


SE FOR COM VOCÊ


e
mais
ninguém

terça-feira, 28 de julho de 2020

Vovô Fernando

Por Denise Fernandes




Tenha certeza, Maria Vitória, que seu avô sempre te amou. Desde antes de você nascer, enquanto se desenvolvia (como semente de gente, na barriga da sua mãe), seu avô já te amava.

Mas quando viu seu rostinho, seu jeito alegre e inteligente de ser, ele ficou numa alegria. Foi uma alegria que acendeu a chama da vida dentro dele. Já tinha dito a ele que ser avô é diferente de tudo  e é bom demais. Descobri sendo avó. Quando você nasceu, ele me disse que eu tinha razão.

Seu avô era uma pessoa diferente, principalmente porque queria ser diferente. Conheci-o quando eu tinha onze anos, e ele doze. Ficamos amigos no dia em que nos conhecemos. Depois nos afastamos. Quando o reencontrei, mais de trinta anos depois, começamos a namorar.

Um dia, estávamos andando na praia, e ele me pediu uma prova de amor. Pediu para eu pegar um bichinho que sobe na areia (não consigo lembrar o nome). Avós, como eu, começam a se esquecer de nomes. É difícil pegar o tal bichinho. Você precisa ser muito rápida. E eu não sou rápida, pareço uma tartaruga. Mas, na minha infância, peguei muitos bichinhos.

Espero que você também aproveite sua infância, e aprenda a brincar com tatu-bolinha, besouros, marias-fedidas. Com as borboletas, você precisa ter muito cuidado para não danificá-las, e para lavar as mãos depois de tocá-las. Minhocas são maravilhosas companheiras de brincadeiras.

Como tenho vasta experiência em pegar bichinhos, consegui pegar o tal bichinho da areia; como prova de amor para o seu avô. Ele ria tanto. Ficou tão feliz. O sol brilhava, as águas do mar brilhavam e seu avô brilhava ainda mais  com a súbita alegria de quem tem uma prova irrefutável de amor. Acho que sempre guardarei esse momento mágico de nossas vidas dentro de mim. Joguei o bichinho de volta ao mar. Seguimos andando mais fortes.

Tenho certeza que seu avô irá vibrar com cada passo seu, Maria Vitória, e vai aprender com tudo que você fizer. Sentirá orgulho com cada sorriso seu, com toda brincadeira e aprendizado em sua vida.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

cicatriz da quarentena

Por Ana Paula Perissé




toda imagem
é lago
onde o irrefletido
me causa o espanto
das perguntas
de sermos.


e entre o significante
e o sentido
tem enorme baile
cujos convidados
desconheço de tanto
desejar.


e entre o sonho
e a pronúncia
a distância esvazia
o esforço pelo
enigma:
por instantes inteiros
de deuses,
a devorar-nos
.
cicatriz por fazer
.
peles a arranhar

domingo, 26 de julho de 2020

Farinha do mesmo saco

Por Oswaldo Antônio Begiato




Somos
Uvas do mesmo vinho,
Folhas do mesmo outono,
Geadas do mesmo inverno,
Pétalas do mesmo buquê.


Somos
Curvas da mesma história,
Quinas da mesma sorte,
Sinos da mesma catedral,
Contas do mesmo rosário.


Somos
Trilhos do mesmo descaminho,
Dúvidas da mesma verdade,
Inversos do mesmo espelho,
Mistérios da mesma esfinge.


Somos
Pinceladas da mesma tela,
Paisagens da mesma vidraça,
Luzes do mesmo olhar,
Estrelas da mesma farda.


Somos
Asas da mesma estratosfera,
Pérolas do mesmo oceano,
Lágrimas do mesmo lustre,
Gotas do mesmo temporal.


Somos
Cordas do mesmo violino,
Claves da mesma pauta,
Notas da mesma tristeza,
Canções do mesmo Universo.


Somos
Plurais do mesmo amor singular,
Pluriformes na mesma vastidão;
Dois corpos e uma única substância.
Somos um só e que se dane o destino.

sábado, 25 de julho de 2020

Passional

Por Meriam Lazaro




Sopra o vento da saudade
Com tua ausência eterna
Ver-te outra vez é vontade
E ouvir tua voz sempre terna


Partiste em tenra idade
És anjo e sempre a mais bela
Meu grande amor de verdade
Que retratei numa tela


Vagando pela cidade
Cada rosto te revela
Sorrindo com mocidade
Junto ao altar da capela


Moça branca como a tarde
Guardo teu lenço à lapela
A solidão que me invade
Rega uma rosa amarela

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Tiramisu

Por Mayanna Velame




(Para TC)


Ensina-me o paladar do amor.
Saboreio cada pedaço teu
como se fosse minha
primeira mordida.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Olhares

Por Nana Yamada




Quando você
olha para meus olhos,
o que você sente?
No que pensa?
Existe algum sentimento?
É algo que somente
seus olhos podem explicar.
Talvez suas mãos possam me levar
para o caminho que procuro.
Em cada palavra sua,
vou dançar, rimar e poetizar.
Porque quero me perder em você,
Quero querer você.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Batente

Por Fabio Ramos




onde o sol
batia


hoje
não
bate mais


(...)


os
raios


do passado


agora
são
contidos


pelo muro erguido


(...)


no chão
que
não


alento


(o homem concreto)


no
jardim


esparrama cimento


(...)


o sol
bate


nessa tecla


mas
devia


bater
com
um porrete

terça-feira, 21 de julho de 2020

Caminhada na pandemia

Por Denise Fernandes




Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Com esse espírito de ser encurralado, vou fazer minha caminhada em meio à pandemia. Desvio de seres humanos. Onde havia pessoas, vejo enormes infestações de covid-19. Preciso me proteger. Tenho asma, enfisema pulmonar e mais de cinquenta anos. Mas, sem caminhadas, não dá mais para ficar.

Depois de quatro meses fechada em casa, engordando, imagino como estão minhas taxas de colesterol e triglicérides  que já não eram boas no ano passado. Há um stress em mexer pouco o corpo, não tomar sol, não caminhar: o stress do bicho enjaulado.

Tenho me sentido mais bicho do que ser humano, assim, acuada, com medo da morte, da miséria, da ditadura. Medo por mim, medo pelos outros. O jeito é aprender com minha cachorra que, agora mais velha, dorme tranquila. Quando a morte chegar, ela a receberá com um bocejo.

Então saio em busca do sol, o olho mais atento, o corpo mais dentro do corpo. Passo por nossa rua, nossa calçada, nossos sonhos que ficaram como sonhos, e tudo está banhado de sol. Mesmo estando ausente, você está presente nas minhas memórias, nas calçadas aquecidas por esse sol de inverno do nosso bairro. Perto da esquina, um grupo de meninos e jovens empinam pipas. Vejo quatro pipas no céu azul. Os meninos discutem, um sai protestando.

Lembro do meu pai colocando a pipa no alto, ele me dava para administrar quando ela já havia ganhado o céu. Os meninos no meio da rua, as pipas lá no alto. Ainda bem que saí para caminhar. Não é só das altas taxas de colesterol que fugi. Estou andando sem rumo, sem norte, estou seguindo meu coração âncora e barco. Estou criando espaços dentro de mim para poemas, desenhos e lembranças de carinho.

Enquanto busco, encontro teu espírito. Você me faz companhia nessa terrível pandemia (que o levou para longe de mim). É mais que saudade. Estou aprendendo novas formas de amar, enquanto ando de máscara. E ainda sinto o gosto do teu beijo, mesmo depois de tanto tempo.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

flor do deserto da quarentena

Por Ana Paula Perissé




há jardins
tantos.
no subsolo imenso
das vias úmidas
nossas
.
suculentas
em movimentos
de respirar e de ofegar.


em floração exuberada
pouco tempo tem
tua pele interrogou-me
.
encontro.
.
já havia deserto
já havia vírus
antes do mundo mudar-nos

domingo, 19 de julho de 2020

Doce fenda

Por Oswaldo Antônio Begiato




tem horas
que sou horas
tem horas
que sou urgente


tem horas
que sou outro dia
tem horas
que sou
permanente


tem horas
que sou azul
tem horas
que sou verde


tudo depende
do ângulo
em que o sol
rasga
meu espelho-d'água


e da distância de seu entardecer

sábado, 18 de julho de 2020

Ouça

Por Meriam Lazaro




Ouça a voz em acalanto
Do som do céu e da Terra,
Que em virtude torna o pranto
E a toda dor encerra.


E a toda dor encerra,
Com Amor lhe seca o pranto.
A natureza não erra,
Segue o seu ciclo e encanto.


Segue o seu ciclo e encanto,
Renovação, alma e Terra,
Para que em mudo espanto
Contemple a lua eterna.


Contemple a lua eterna
E o azul do céu com Seu manto,
Da Luz além da janela
Ouça a voz em acalanto.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

3x4

Por Mayanna Velame




Amor de verdade
é se apaixonar
por alguém
vendo
sua
foto 3x4,
no RG perdido,
na bilheteria da rodoviária.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Minha estrela

Por Nana Yamada




Minha estrela cadente
Tinha seu nome escrito.
E no brilho que ficou no céu
Eu segui...
Segui até te encontrar.
Lá estava você,
A única estrela
Que brilha no meu céu.
O único brilho que me mantém
Aquecida nesse frio,
Que está para chegar.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Decisões a tomar

Por Fabio Ramos




errar
quando


se quer acertar


é uma
coisa


(...)


outra coisa


bem
diferente é
errar


deliberadamente


(...)


andar
quando


se quer chegar


é uma
coisa


(...)


outra coisa


bem
deprimente é
andar


relutantemente


(...)


sendo
que
o lema


sempre será:


hoje
melhor
do que ontem


(amanhã melhor que agora)

terça-feira, 14 de julho de 2020

Estudar astronomia

Por Denise Fernandes




Antes de estudar a terra, o homem estudou o céu. Foi o estudo do céu que guiou os homens nos caminhos da terra. Independente da fé ou religião que se tenha, estudar astronomia nos conecta ao divino, ao transcendente, mas não de forma invisível, espiritual ou teológica. Na grandeza dos planetas, das estrelas, dos meteoros cruzando os céus, Deus é visível a olho nu e se movimenta.

A magia da Vida explode dentro do Sol  e se conecta ao meu jardim, ao meu corpo. Estudando astronomia com o professor EDER CANALLE, tive a grande alegria de me sentir criança novamente; diante de tanto mistério, de tanto a aprender. Os conhecimentos de astronomia que o professor traz deveriam ser acessíveis a todos. Sem a reflexão da complexidade do universo a que pertencemos, podemos ficar presos aos nossos umbigos, esquecendo que somos partículas dentro de um Todo maior.

É na Luz cósmica (onde estamos mergulhados) que encontramos respostas às nossas perguntas. O amor existente mesmo quando parece ter terminado.

Leio em Confúcio: "Amar o humanismo, sem amar o estudo, gera estupidez. Amar o conhecimento, sem amar o estudo, gera superficialidade. Amar a educação, sem amar o estudo, gera ganância. Amar a sinceridade, sem amar o estudo, gera grosseria. Amar a coragem, sem amar o estudo, gera violência. Amar o poder, sem amar o estudo, gera a desordem".

O professor EDER CANALLE vai começar um novo curso de Astronomia. O curso tem preço acessível, esclarece dúvidas, traz poesia e beleza para o universo individual  sem a construção de metáforas. O curso ensina a observar o céu, e nos lembra da grandeza das estrelas e da nossa finitude diante delas. O curso também nos ensina a amar o estudo. E sem estudar, o mestre Confúcio percebeu o quanto mergulhamos em dificuldades.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

moça da quarentena

Por Ana Paula Perissé




(gozo é fervura
de entranha em prata)


gozo de mel
enrosca
no pescoço nu
da moça.


lambuzada
ela vaga.


(dulcíssima demais
para andar)

domingo, 12 de julho de 2020

Perdição

Por Oswaldo Antônio Begiato




Ah, meu amor,
Não estou apaixonado!
Antes tivesse.


Antes tivesse
Os olhos brilhando
No infinito de sua presença
E o coração soluçando
Pela ausência infindável.


Antes tivesse
Vivendo o martírio das horas empacadas,
E a promessa de vinho à luz de velas
Com suas chamas bailando
Entre o silêncio das nossas almas.


Antes tivesse
A crença de noivos ingênuos
Que se ajoelham diante das fumaças de futuro
E a doce ilusão de eternidade;
Aquela que se desvanece
Na próxima esquina, sem deixar pegadas.


Ah, meu amor,
Não estou apaixonado!
Antes tivesse.


Tenho sentido apenas
A atormentadora dor da solidão.


Não estou apaixonado!
Antes tivesse.
Apenas me assustei
Diante de tão inesperado abandono.

sábado, 11 de julho de 2020

Poeta sem face

Por Meriam Lazaro




Poeta perdido
De nome francês
Faz versos vestidos
De embriaguez


Poeta sem rosto
Não tem altivez
Tão triste o seu gosto
Pela insensatez


Poeta sem fama
De um nobre gaulês
Seu afeto clama
Porém não tem vez


Poeta na lama
Da fria escassez
Escreve e proclama
Sua timidez

sexta-feira, 10 de julho de 2020

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Tento

Por Nana Yamada




Tento te procurar
No meio dos pensamentos
Que ainda vagam por aí
Revivendo o que passou


Tento me controlar
Sem a saudade dominar
Mas o peito aperta
Quando me lembro de nós


Tento te esquecer
E tudo o que vivemos
Mas nada se apaga
Quando é verdadeiro


Tento me conter
Já que tudo foi vivido
Da maneira que tinha que ser
Do jeito que era para ser


Tento te
Tento me
Tenho que
Só tentando…