domingo, 31 de março de 2019

Entrelinhas

Por Oswaldo Antônio Begiato




Tu me perguntas o porquê de vivermos rindo um do outro.
Nas entrelinhas sabes que rio somente de mim,
e sei que é porque sou tolo.
De sua parte,
certamente é porque me sabes tolo,
e um pobre diabo que nem juízo tem.


De ti jamais rio. Ainda que rio de esperas eu seja.


As entrelinhas são um caso sério
nas mãos dos dementes.
Eu ainda estou aprendendo a escrever nas entrelinhas.


Preciso aprender o perfume de sua alma
e a suavidade de sua pele,
e aí poderei desvendar os segredos das entrelinhas.


Quero nelas escrever meus fingimentos,
assim deixarei Pessoa com razão.


E que todos meus fingimentos
sejam pra te dizer que te amo;
sejam pra provar que te amo,
nas entrelinhas;
nas estrelinhas que caem de ti
quando passas generosamente.


Quando a palavra é do cio
a entrelinha é dócil.

sábado, 30 de março de 2019

Lágrima de riso

Por Meriam Lazaro




A tristeza de uma lágrima,
Que faz o riso esquecido,
É rosa que acaricia
Com perfume esmaecido.


A beleza de uma lágrima,
Que a tua face umedece,
É a mão com que a poesia
Colhe o verso que enternece.


Promessa de esperança,
Romper de choro contido.
Riso que ao pranto abranda,
Gota que à dor dá sentido.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Mel venenoso

Por Nana Yamada




Será que ainda é tão doce assim?
Ainda continua a ter aquele sabor viciante?
Do teu mel de amor, eu provei e me embriaguei
E até do teu veneno fui capaz de provar.
Pensei que fosse morrer
E morri de amor por você
Meu doce veneno mais poderoso
Quão poderoso você se torna
Com aquela pureza e amor
Que deixei, então, escapar de mim…
Mas é bom saber que continua
Sendo um melzinho
Tão viciante e tão sem cura
Que eu nunca soube lidar
Com a dose desse sentimento…

quarta-feira, 27 de março de 2019

Garoto interrompido

Por Fabio Ramos




puxou assunto


falando
em


CALOR


mas
o peixe


(não mordeu a isca)


(...)


falou-se
em


comida


mas
esse rato


é intolerante a queijo


(...)


e
para
quebrar o


GELO


(falou-se em putas)
mas
esse


cavalão é pônei


(...)


uma
pausa


no
meio
da interação


pôs
fim


a
essa
quase conversa

terça-feira, 26 de março de 2019

Crônica da cidade

Por Denise Fernandes




A cidade chove, e fica mais iluminada. Respiro as árvores. São poucas. Precisamos sorvê-las todas, com os olhos, com a pele. Tenho sede da Natureza. Na cidade, cortaram os ramos das goiabeiras, impedindo-nos de comer os frutos. Quase derrapo na calçada esmagada de frutas.

Compro um livro de Mário de Andrade num sebo. Por seus poemas, consigo ver que a cidade continua a mesma. Mudou, mas nada mudou. Sua temperatura oscilante, seu sol castigante, seu vento furioso. Assim, como Mário de Andrade a descreve, também a sinto. Seu espaço infinito, seus braços abertos.

Vou num show em homenagem a Dominguinhos. Não consigo viver na cidade sem ficar contrariada. Monica Salmazo, tão paulista, canta maravilhosamente as canções do Mestre. E a gente sente que ele também passou por aqui, respirou aqui com sua música.

Não posso me libertar da cidade aonde vou, pois é a cidade que me liberta. Sem ela, nada sou. Alguns prefeririam o deserto, ou os mistérios da selva. Mas a cidade que não pode ser imaginada, com sua largura arbitrária, com seu traço inconstante, seu céu-reflexo me penetra. Ela é minha doença, artéria e insônia. A cidade pensa todo mundo de uma vez, enquanto a chuva escorre. Seus rios reprimidos, seu silêncio ausente, a cidade tem mais perguntas que a cabeça da gente.

A cidade transforma mais que a poesia, se faz inimiga e pasto. Não é o dinheiro que move a cidade, mas o tempo em que nos unimos: suas construções, suas ruas devassando a chuva que nos habita. Na cidade, a chuva intriga mais que no campo. Entre pegar ou não o guarda-chuva, não é a nuvem que me avisa. É a vontade do braço, que não quer mais carregar nada. A cidade insustentável me leva. De ônibus, de táxi, de metrô, de trem, pulando obstáculos, torcendo o pé no buraco da calçada. Cada vez tem mais cimento em tudo. Já não mete medo. Sinto no gosto da chuva, o gosto da terra pensando novas sementes. Elas brotariam de novo, se pudessem.

A cidade é linda, como um quadro que sempre se transforma, se aperfeiçoa em novas gentes.

Na cidade, sou mais perplexa. O lixo colorido conta uma história. Ganho sorrisos de desconhecidos, gentileza de estranhos. E tudo passa rápido. Só a cidade permanece em tempo.

segunda-feira, 25 de março de 2019

rangeria ..ou meio século

Por Ana Paula Perissé




                                        rangiam os incautos
                                        os inocentes
                                        os lunáticos, incansáveis


                                        porque o tempo das coisas
                                        ameaça nossa existência.


                                        e a ação que se dá,
                                        realidade coisa
                                        é pessoal e intransferível.


                                        Ave!


                                        o verbo se faz
                                        sem aventura
                                        .
                                        muita.

domingo, 24 de março de 2019

sábado, 23 de março de 2019

Dois amigos

Por Meriam Lazaro




Lindas rosas amarelas
a uma dama, com amor,
entre palavras sinceras
o bom amigo ofertou.


Cobriu-se de primavera
a mão que acariciou.
De gratidão, fez-se bela,
aquela que a flor tocou.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Vida

Por Mayanna Velame


Cena de "Crônicas de Nárnia"


Nessa epopeia
de viver,
somos todos
personagens inacabados.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Esboços da vida

Por Nana Yamada




No meio das linhas que foram cruzadas
Durante partidas e recomeços,
Tento achar a linha do horizonte
Que me leva para o infinito
Do encontro dos seus abraços
Nesse esboço da vida
Te registro em momentos
Que eu ainda não vivi...

quarta-feira, 20 de março de 2019

De leite

Por Fabio Ramos




VISÃO:


até
um cego
vira


o pescoço


ao
enxergar
a mulher mistério


(...)


AUDIÇÃO:


aquela
voz


em tom


de
sigilo


é como feitiço


em
teus
ouvidos


(...)


TATO:


os
braços


que a seguram


pela
cintura


(...)


OLFATO:


junto
com


esse perfume


que
exala
do atrito


(...)


PALADAR:


e cai
de
boca
no manjar


repetindo a iguaria


até
se
lambuzar

terça-feira, 19 de março de 2019

Futebol

Por Denise Fernandes




suam as camisas

dois times-enigmas

sob a chuva torrencial

preferiam o céu estrelado

a todo esse sal

mas o mistério atrai mais

que o cansaço da carne



trocam as camisas

dois seres rivais

sob a vaia da torcida

quem entenderia o amor

os pés que chutaram lama

ardem do suor nos olhos

essas lágrimas não são tristes.

segunda-feira, 18 de março de 2019

interpretação de sonho ..

Por Ana Paula Perissé




                                          têm dias
                                          que o futuro
                                          sonha o mundo
                                          como o menino
                                          de todas as guerras


                                          e entre o morto
                                          e o ideal
                                          não há face
                                          que desvele mais
                                          do que o simples
                                          existir-mos
                                          .
                                          à procura de sermos


                                          1´sonho
                                          ou a utopia esquecida
                                          é o insuficiente do excesso
                                          em brutal aparição
                                          desconhecida


                                          coxia de zumbis
                                          .
                                          .
                                          açucarados.


                                          Desacordem!

domingo, 17 de março de 2019

Ostracismo

Por Oswaldo Antônio Begiato




Não quero mais
ser visível nos jornais.


Não quero mais
aparecer em colunas sociais.


Não quero mais
meu nome escrito
em letras garrafais.


Quero apenas
me esconder em algum verso
de alguma poesia feminina.

sábado, 16 de março de 2019

Ceres e o mosquito

Por Meriam Lazaro




A dengue está pegando,
Tem mosquito virtual
Que a todos vai picando
Muito além do carnaval.


Amiga, tenha cuidado,
Fique boa desse mal,
Dê uma tapa no safado,
Deixe "ele" no hospital.


Mosquito mal encarado,
Atacou numa geral,
Viveram o mesmo fado
Silvanio e Anita afinal.


Amiga, vê se evita
O sol alto e o sal,
Dedique à Santa uma fita
E um chazinho para o Graal.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Me leva

Por Nana Yamada




Como o ritmo dessa música
Mergulhando nessas aventuras
De quilômetros de estradas
Que unem culturas e experiências
Vamos rodar esse mundo
E dividir essa mochila
De conhecimentos
Reescrevendo nossa história
Eternizando a cada passo
A construção da nossa existência
Pegue na minha mão
E prometa, então,
Que não vai me deixar
E nem vai soltar minha mão
Vamos deixar que o nosso amor
Reflita no céu estrelado
Me leva
Para dentro de você…

quarta-feira, 13 de março de 2019

Beijando o perigo

Por Fabio Ramos




depois que viu


muita
gente


dormir em pé


no
ônibus


se perguntou:


quem


realmente durma


com os
olhos
abertos?


(...)


(ele aposta que sim)


(...)


uma aflição
lhe dá


de imaginar


(...)


é
o mesmo
que


(TENTAR ADIVINHAR)


onde
um


VESGO


mira
o seu


(GLOBO OCULAR)


(...)


se
quem


dorme assim é


a
sua
esposa


tome cuidado:


se
ela
também


for sonâmbula


guarde
as
facas


(em local seguro)


antes
de
deitar

terça-feira, 12 de março de 2019

Texto

Por Denise Fernandes




"Vi na solidão um silêncio de concha", escreve Manoel de Barros. Assim, escrevo a ti, na esperança amarga de outros dias. Como escarola, na salada do bandejão da universidade pública. Não tenho mais saudades. Sou só defeitos em busca da perfeição. Confusão de coisas, de palavras, de amores. Amanhã vou amanhecer mais humilde. Como um pássaro molhado de chuva.

segunda-feira, 11 de março de 2019

enlua

Por Ana Paula Perissé




                              "e eu me perfumo toda para pensar em ti
                              e de tudo eu te sei
                              um pouco
                              porque me sinto
                              toda,
                              toda tua...
                              nua"


                              (enlua)

domingo, 10 de março de 2019