quinta-feira, 31 de julho de 2014

A minha candidata à Presidência

Por Amilcar Neves*


Declaro com toda a solenidade que tenho, sim, candidata à Presidência e que estou fazendo campanha aberta em favor do seu nome. Quero, assim, deixar bem clara a minha posição para que não se diga depois que fiquei em cima do muro ao invés de assumir uma postura límpida e inequívoca.

Antes de prosseguir, porém, necessito operar uma digressão mais ou menos longa:

Como sabem algumas pessoas, faço parte do Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, sentado à cadeira destinada aos escritores catarinenses. Desse assento escutei, atento, as palavras proferidas pelo novel secretário de Turismo, Cultura e Esporte, o sexto da linhagem neste curto período governamental de menos de três anos e meio. Mas a culpa disso, convenhamos, não é do sr. Filipe Freitas Mello, o secretário em questão. O fato se deu no dia 22 de abril passado (completar-se-á amanhã um mês daquela ilustre visita) e tive o cuidado de anotar em minha cadernetinha as principais frases ditas por Sua Excelência do alto da sua juventude.

Disse S. Ex.ª que chegava com dois objetivos: inaugurar um novo momento, quando estaria absolutamente presente na Fundação Catarinense de Cultura e no Conselho (até hoje não mais voltou a nenhum dos dois órgãos - isto não é intriga, mas um fato), e, segundo, buscar um nome para a Presidência da Fundação, vaga desde julho de 2013, um nome que fosse menos ligado à Cultura e mais propriamente um gestor. Parece que não encontrou ainda esse nome, posto que continua, ele, sem tempo para respirar, acumulando as funções de secretário do turismo, da cultura e do esporte, e de presidente da fundação cultural. É humanamente impossível desempenhar tantos papeis simultaneamente.

Ora, é estranha essa situação. Como que não existe esse nome ideal para a Fundação? Ele mesmo dispõe a seu lado, tratando cotidianamente de assuntos correlatos, dessa pessoa. A sra. Mary Elizabeth Benedet Garcia tem nome de rainhas mas é a presidenta perfeita para a Fundação, da qual já é diretora de uma área fim (Difusão Cultural), tem longa experiência na gestão pública, dispõe de profundo e inabalável respaldo político e conta com a simpatia de vasta parcela dos agentes culturais que militam no Estado. Ela, a minha candidata à Presidência, precisa ser imediatamente nomeada para a função que, vaga como se encontra, só dificulta cada vez mais a atividade cultural em Santa Catarina.

Adicionalmente, a nomeação da sra. Mary Benedet resolverá um problema crucial no Conselho, do qual, aliás, ela é a presidenta. Acontece que, certo dia, alguém (ninguém nunca soube quem foi) induziu a erro o governador, que acabou por exonerar o conselheiro Carlos Holbein de Menezes achando que era cargo de confiança, quando se tratava de mandato intocável. Tão intocável que a Justiça determinou, por liminar, a sua reintegração ao Colegiado. O problema é que já havia sido nomeado outro conselheiro para o lugar do sr. Menezes. Os lugares no Conselho são limitados a 21 cadeiras. Ocorre, porém, que o presidente da Fundação é membro nato do Conselho, como secretário-geral. Assim, nomeada presidenta da Fundação, Mary deixaria a Presidência e passaria à Secretaria do Conselho, abrindo a necessária vaga para reabrigar o Carlos.

Seriamente, sem brincadeira nem qualquer ironia, aposto que, se convidada, a minha candidata à Presidência, pela qual torço entusiástica e desesperadamente, haverá de pensar um bocado e, ao cabo, aceitar a magna tarefa. Para gáudio nosso.

*Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 21.05.14

quarta-feira, 30 de julho de 2014

quarto escuro

Por Fabio Ramos
 
 


imóveis?


não
têm
contorno


se
era verde
agora
é
preto


(sem medo)


corpo
em
repouso


mente
na
velocidade
da luz


penumbra
serve
de
manto
 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Trégua

Por Denise Fernandes
 
 


entrelinhas, saudades não ditas

para quê dizer?

há coragem no ar e em orar

para pedir paz, implorar paz

um gavião nos rodeia ensinando

a leveza a altura a alma pura

serei tua e não serei

agradeço a Deus não estar na faixa de Gaza

mas mesmo assim estremeço

haverá orvalho, lua cheia, corpo quente

um verão cheio de tréguas

haverá a possibilidade mesmo remota

de total acordo um silêncio cúmplice

onde os insetos do verão rodeiam a lâmpada

da varanda onde te espero.
 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

escolha

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Igor Morsk


                                                    tem a acção
                                                    por fazer-se
                                                    e o sonho
                                                    da escolha
                                                    a benzer-te

                                                    (talvez) :

                                                    Amém!

domingo, 27 de julho de 2014

sábado, 26 de julho de 2014

O som do silêncio

Por Meriam Lazaro
 
 


Pelo rádio Canoro ouve a música da sua vida. Ou seriam as músicas?! Afinal, por seus ouvidos, abertos ao mundo, não passam apenas as músicas de sua escolha. Em ondas curtas e nostálgicas surge o mais variado repertório. Músicas vêm e vão quando bem querem, tocando como um disco girado pela mão de algum maluco randômico e, não raro, de mau gosto. Alheias à sensibilidade do freguês, não há decreto de vontade que as façam silenciar antes de terem cumprido sua missão: lembra-lo de que somos feitos de som!

Como refrão, ou despertadas pela frase de algum desavisado, se imiscuíam sem piedade em seu dia e, às vezes, em sua semana... Surgiam e eram cantaroladas para dentro, com palavras ou com assobio, bombardeando sua mente.

Traquina, passou a anotar algumas. Admirava a discrição do Rei Roberto Carlos, mas não se incluía entre seus fãs. Isso não o impediu de assoviar “o nosso amor é puro e espero nunca acabar, por isso, meu bem, até juro!...”. Noutro dia, a italiana “Torneró”, de Santo California, em hum-hum-hum melódico do fundo do peito, como ave de bico invertido. Até cantiga de roda cantarolou: “Coqueiro, coqueiro tão alto que ninguém pode alcançar”. E aqui o trinado ia até atingir o tom mais alto que conseguia.

Pois não é que depois de vigiadas as canções sumiram?! Melhor assim. Agora, alheios ao som desafinado de carros velozes, gritos ensurdecidos de torcedores no campo de futebol, latido de cães sem dono, Canoro e seus amigos pássaros brincam de notas musicais nas pautas dos fios elétricos.
 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O gato

Por Mayanna Velame
 
 


Houve uma noite em que a melancolia resolvera me visitar. Pensei em não lhe dar chances. Meu coração precisava de paz. 
 
 
Decidi, então, abrir a janela da sala. Lá fora, os grilos cantavam e os sapos coaxavam. Longinquamente podia ouvir vozes que se misturavam com sirenes e motores de carros. No entanto, não foi isso que me chamou atenção. Muito menos a noite estrelada, na qual a lua ladeada de nuvens era a protagonista. 
 
 
Meu personagem, naquela noite um tanto tétrica, fora um gato. Sim, um gato de rua, de pelos brancos e negros. Rabo comprido e malhado. O muro de casa tornou-se um refúgio. Sentado, e com o peito estufado, o bichano permaneceu ali, sobre aquele concreto frio e áspero. Imóvel e concentrado, suas pupilas dilatadas miravam algo, talvez uma caça, um rato, não sei... Eu até que tentei chamá-lo, mas desisti. 
 
 
Durante alguns minutos, me desprovi de qualquer pensamento e passei a observá-lo. No decorrer do tempo, eu gostaria de ser como aquele gato. Despreocupado com as dores e as crises do mundo.
 
 
Na verdade, falta isso em nós: um tempo ou um momento para subirmos o muro e contemplarmos a vida que nos cerca. Somos egoístas com nós mesmos. Temos tempo para tudo e para todos, menos para nossas reflexões, pensamentos e sonhos. Estamos sempre cheios de angústias e lamentações – e nunca vazios de sentimentos que nos sucumbem a essência de viver. 
 
 
O bichano bocejava, espreguiçava-se, eriçava seus pelos com o tímido vento frio da noite. Continuou a fitar um objeto, que o enfeitiçava mais do que qualquer outra coisa. E, com o olhar rasgado, descobri seu alvo. Naquela noite, a personagem principal daquele animal solitário foi apenas... Eu.
 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Carta do senhor Koulibaly

Por Amilcar Neves*
 

Não sei como conseguiu, mas o fato é que o senhor Koulibaly logrou me localizar e entregar-me sua carta. Bem verdade que, nestes tempos de internet abundante e onipresente, sem cabo ou mesmo por celular, fica bem mais fácil encontrar as pessoas - especialmente quando, como no caso, não se trata de carta impressa, em papel, mas de mensagem digital, de via eletrônica. Mas - devo dizer em defesa do senhor Koulibaly - ele não me descobriu aqui através de uma qualquer dessas redes sociais, igualmente abundantes e onipresentes, porém pelo antigo e quase obsoleto sistema de malote eletrônico, pelo qual se precisa saber o nome que o usuário adotou na rede e o sobrenome, ou seja, o provedor de mensagens que ele escolheu ou contratou: o velho e-mail, de memória quase saudosa.

 
Internet sem cabo ou mesmo por celular: as pessoas não sabem, ou já esqueceram, que houve tempo, lá nos primórdios, que o acesso se dava por linha discada, de velocidade baixíssima, com os minutos ou impulsos pingando ávidos na conta telefônica e exaurindo sequiosos a conta bancária. Outro dia encontrei um sujeito que se lembrava do ruído característico da conexão telefônica à internet: até hoje ele tem pesadelos vorazes com a "musiquinha" que foi muito explorada nas propagandas da banda larga.
 
 
Não deixemos, porém, o nosso homem esperar mais tempo em função dessas digressões todas, afinal o tempo dele vale muito dinheiro, como se verá a seguir.
 
 
O senhor Koulibaly é, de fato, mister Benjamin Koulibaly, possivelmente um cidadão britânico residente nas cercanias de Londres. É o que dá de deduzir da sua missiva. Curiosamente, no endereço eletrônico pelo qual ele fez contato consta o nome Coulibaly, o que só faz supor que Benjamin seja um sujeito às vezes um pouco atrapalhado. Mas talvez seja um cara simpático. Por exemplo, ele abre sua correspondência chamando-me de "caro amigo", o que não é pouco, convenhamos. O problema da carta de mister Koulibaly é que aparenta ser um texto traduzido para o português por algum desses programinhas de baixo nível tecnológico, que verte apenas palavras sem sequer se preocupar em invertê-las para se adequar às normas de estilo do idioma de destino - e produz tamanha salada, em aparência, a partir de um original escrito por quem não sabe escrever (existe este tipo de pessoa mesmo na Grã-Bretanha). Por isso que penso que ele possa ser um sujeito simpático, não dá para ter certeza pela mendicância do texto. Por exemplo, ele começa assim a correspondência que me destina:
 
 
"Por favor não ser incomodado em receber esta proposta urgente negócio como você não me conhece, antes, de qualquer maneira, é transação comercial sobre confidencial envolvendo a soma de £3,200,000:00 libras esterlinas (£ 3.2M)".
 
 
Ops! Esse valor aí dá cerca de 12 milhões de reais! Uma mega sena acumulada por duas semanas. Mister Koulibaly se diz Gerente de Gestão de Valor para o Cliente do Banco HSBC em Londres e sugere que esse dinheiro, parado lá há 10 anos, deve ser ou pode ser meu, e que preciso ajudá-lo a "desviar o quantidade acima mencionado", conforme escreve, para minha conta, pois a lei inglesa obriga o confisco de dinheiro sem movimentação por tanto tempo.
 
 
Para possibilitar essa operação, no entanto, o Benjamin propõe me cobrar honorários ou propina de - pasmem, isso na Inglaterra! - 60% do total! Pra mim, assim, restariam menos de cinco milhões! Penso denunciá-lo por cobiça imoderada ao presidente do banco onde ele trabalha.

*Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 14.05.14

quarta-feira, 23 de julho de 2014

À Deriva

Por Fabio Ramos 
 

 
 
se
agarra nisso
tal como
um
náufrago
preso
aos

 
destroços 
 

mas
quando + precisa
(de ajuda)
a
boia
murcha 
 

c'est la vie
cher ami 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sonhar

Por Denise Fernandes
 
 


Hoje eu não quero te ver chega
 
rapidamente o que era amor
 
vira espuma orgulho asas para voar.
 
Você não sabe o que sinto mesmo
 
cobra âmago vulcão
 
você não sabe como sinto
 
água dor paixão
 
no fundo, você prefere sua solidão
 
sua vida oca, seu pensamento a voar
 
e eu continuo a sonhar.
 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

ritmos, à borda.

Por Ana Paula Perissé
 
 


                                                à borda
                                                de teu rio
                                                evanesce-me
                                                de súbito
                                                o aroma
                                                das margens

                                                tão terceiras
                                                como 1´sonho
                                                de ser:

                                                sê inteira
                                                foragida de outrem

                                                sê partida
                                                a tecer vidas

                                                sê várias.

                                                mas dignas de luas
                                                e de pessoas.

                                                (renasça [-te]
                                                em ciclos)
 

domingo, 20 de julho de 2014

sábado, 19 de julho de 2014

Sem a música o dia não termina

Por Meriam Lazaro
 
 
Elvis Presley

Demasiadamente humanos, quando crianças, queremos crescer; adolescentes, almejamos ser livres do controle paterno; adultos, responsáveis pelo sustento de outros queremos nos aposentar; aposentados, sonhamos com as delícias da infância e a beleza da juventude... Assim, passamos a vida sem saber que a verdadeira elasticidade está na alma e não na pele.
 
À meia fase entre um mundo e outro muito me agrada apreciar musicais antigos e novos. “Soon”, a canção predileta, mostra a banda “Yes”, cabelos longos, novinha em folha em 1975, que pode ser ouvida em 2001 com os insubstituíveis agudos e melódicos do vocalista Jon Anderson. Os rapazes cabeludos da banda Eagles, em “Hotel California”, canção mais ouvida de todos os tempos, segundo a internet, podem ser apreciados nos verdes anos de 1976, como também na versão madura de 2004. Incansavelmente comoventes!

O que quero dizer é que o mesmo seio que embala sonhos da juventude, na solução dos anos se enche de rugas. As cores de outono desbotam-se em igual medida para os que aqui estão e para os que partiram, ainda que as imagens das fotografias me desmintam. Não há bisturi ou silicone que faça a experiência desaparecer de todo.
 
O extraordinário Elvis (nada como ser conhecido no mundo inteiro pelo prenome...), sempre acompanhado pelo grupo de vocalistas e músicos da banda, pode ser admirado aos 35 anos em “Elvis é assim” no vigor da bela forma em 1970. Depois, no último show em 1977, quase uma paródia de si mesmo apresenta-se gordo, saudoso, comovido... Recentemente, em 2002, após 25 anos de seu desaparecimento, em “Elvis Live”, seus pares reaparecem com a mesma musicalidade, embora em idade nova, acompanhados por ele na projeção da tela. Maravilhas da tecnologia! A voz imortal nunca o abandonou nem aos fãs que em seus corações o fazem reviver quando no fim do dia, em suas cabeceiras, ligam aparelhos de som para reproduzir suas magníficas canções. Acalanto de uma vida.
 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Aviões

Por Mayanna Velame
 
 

 
Versos soltos

flutuam no ar.

Viram fogo eterno

a queimar...



Palavras cativas

cintilam no papel.

Nós dizemos adeus

quando contemplamos

aviões no céu...

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A INTREPIDEZ da mulher moderna

Por Daniella Caruso Gandra



Já era esperado que o feminino se rebelaria algum dia.

Não mais se perturba com o que está lá fora, mas com o que lhe habita.

Mulher, senhora das próprias horas, dos silêncios gritantes e dizeres hipnotizantes, já sabe o que deseja pra si mesma.

Conduz a linha do seu tempo com brio, temporizando os que pensam em sua rotina durar...

Cabeça pensante, agora, pouco hesitante.

Seus círculos figuram em seu dia a dia, mas não definem a rota de seus passos perpendiculares.

Possui gênio bom, convincente o bastante para atrair raposas que adormecem em seu colo, e distrair coelhos que perambulam por detrás de seus olhos.

Não se ocupa em tocar, mas sua essência a permite se doar.

Mesmo quando se fragiliza, ergue-se ao primeiro movimento, pois carrega amor e esperança em seu peito.

Pode ser gentil ou irônica, e só trapaceia quando se vê diante de uma alma pequena.

Mas não se alegra com o inóspito, porque gosta de transbordar.

Faz da modernidade sua medalha, por ter sido fiel desde o início.

Tem múltiplas facetas, e as demonstra de forma muito natural.

Orgulha-se pelo dom divino, sem desmerecer o valor do desigual.

À procura de um prazer sem ressalvas, essa mulher.

Trabalha pra fazer chegar peças, alimento, futuro e ternura em seu seio, e muitas delas, são o eixo...

Numa ruptura qualquer, embora doa por dentro, reconhece o poder da liberdade que conquistou por direito.

Nua, realiza mil maravilhas; revestida, seduz e suaviza imperfeições...

Amiga é, não obstante compita.

Queriam eles ser a elas indiferentes! Pobres seres!

Ainda mais hoje que tudo se encontra diferente...

Meninos têm chance; no entanto, ao parecerem equilibristas na corda bamba que os excita, perdem a vez para palhaços de talentos variados.

Ela não está pra brincadeira, apesar dos risos que empresta nas rodas que presencia.

Clama por conversas além das cobertas, por mais que tente parecer divergente.

Mulher moderna que pertence ao universo da estreia, sendo seu real interesse a arte que conecta.


Professora-Tutora e Redatora de LP,
especializada em EaD e na área de Revisão de Textos.
Autora do blog Revisando e Criando.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Criação

Por Fabio Ramos
 
 
 

 

saia do
papel
 

tome forma
 

 

é
a sua
narrativa
 

pode
começar
 

(...)
 

vamos lá
 

o sopro
da
alma
 

que farás
com
ele,
personagem
central
?
 

a
mim
não cabe
decidir
 

mas
escute
aqui
:
 

autor
de carne e
osso
um
dia vai
apodrecer
 

então
 

agora
se perca
pra
se
encontrar
 

(você)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Poeminha

Por Denise Fernandes
 
 


                      Você me pede: escreve um poema pra mim.
                      Como se fosse fácil como uma fotografia
                      faz um poema resumo
                      dizendo tudo
                      faz uma síntese de todos os minutos que passamos juntos
                      mas me faz também um poema futuro
                      um poema dizendo aonde vamos juntos
                      peço porque sinto que você sabe
                      vou no caminho com você sabendo
 

                      Sim, escreverei esse poema verbo, semideus
                      trarei para nós as palavras que desejas
                      num poema amor,
                      porque só deve ser por amor que me pedes um poema.

 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

intransponível

Por Ana Paula Perissé
 
 
Imagem: Kukula


                                        quererá alguém
                                        aplausos
                                        no disforme respiro
                                        de 1- poema
                                        intransponível em língua
                                        tombada/
                                        única?

                                        1´grito só é vivo
                                        porque desnudo.
                                        1´silêncio nunca é morto
                                        porque desdito sem enquadre.

                                        rascante em cada prega
                                        há ciliados desejos
                                        viscerados
                                        de vida rara em cada esfregaço.

                                        (rumor de existir
                                        solene
                                        em cada exílio)