quarta-feira, 31 de março de 2021

Tudo é narrativa?

Por Fabio Ramos




viu
que


a roupa


não
serviu


(mesmo assim)


você
vestiu


(...)


aquele sapato


que
lhe


aperta


de
fato


VOCÊ CALÇOU


(...)


sabe
que


não
cabe


(mesmo assim)


você
teima


(...)


seu ademar


quis
lhe
recitar


a sabedoria popular:


ACEITA
QUE
DÓI


MENOS


meu
caro


(negacionista)

terça-feira, 30 de março de 2021

Tito e os pássaros

Por Denise Fernandes




O filme "Tito e os pássaros" foi lançado em catorze de fevereiro de dois mil e dezenove. Com direção de Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg, pode ser considerado uma espécie de remédio para a pandemia que estamos vivendo.

Essa excelente animação traz a história de uma epidemia. Na intuição dos artistas, criadores do filme, podemos refletir sobre contágio, medo, conhecimento e fé. Não é um trabalho exclusivo para adultos e, por isso mesmo, fica mais fácil nossa identificação. É a criança no filme que traz a esperança, a busca por uma saída dentro da epidemia.

O medo que nos transforma em pedra, a imobilidade que pode nos trazer uma epidemia. Isso não significa andar sem máscara, não tomar vacina. Sempre é tempo de buscar. Os buscadores é que fazem a diferença. Não se entregar ao medo. Conscientes, impulsionados pelo desejo de transcender as dificuldades.

A linguagem dos pássaros. Aqui em casa, coloco bananas maduras e mamão para eles passearem por aqui. Quando era pequena, minha mãe me levava à praça para ver os pássaros. Quanto mais os observamos, mais entendemos a natureza alada de nossas próprias almas.

Recomendo muito o filme "Tito e os pássaros". Bateu aquela vontade enorme de dividir o que é belo e nos faz bem.

segunda-feira, 29 de março de 2021

reverie

Por Ana Paula Perissé




que todas as estradas
me aceitem do jeito
que sou. desviando de mim.
vaza o som de 1´crepúsculo
fecundo.
atrás de tua porta
sussurros de segredo
rasteiro.devaneio.


só preciso olhar ao céu
lasciva de mato molhado


.
sonharia

domingo, 28 de março de 2021

Atendimento

Por Oswaldo Antônio Begiato




Você me pediu uma poesia;
resmungou alguma coisa parecida com uma exposição.
Não entendi muito bem, não!
Mas com você é assim mesmo:
Pede e eu simplesmente obedeço.


Logo você me pede uma poesia.
Você, que tanto tem de margarida
mas que a última pétala jamais será um malmequer.
Aliás, pétala alguma sua é malmequer.


Com você, tem que se saber brincar;
puxa-se uma pétala e diz-se assim:
- Bem-me-quer!
Puxa-se outra pétala e de novo se diz:
- Bem-me-quer!


Com você, tem que se saber falar.
Seu encanto é ser meio muda e esperar mudez,
meio sem jeito de falar e com todo jeito de ouvir o silêncio das coisas,
mas quando fala a gente escuta atento e quieto e submisso.


Com você, tem que se saber estar.
Não se pode olhar de frente.
Avermelha-se toda. Perde o rebolado.
Por certo um buquê feito com você, com seus olhos
com seu branco e seu amarelo diáfanos
iluminaria todas as sombras do mundo.
Você é a mais bonita dentre todas as outras flores.


Com você, tem que se saber fazer.
Quando pede uma poesia
sei que quer somente uma poesia.
Você nem sabe que é a mais pura poesia,
em carne e osso, ou se sabe, disfarça.
Você é a minha poesia predileta. A única.


Então eu finjo que escrevo uma poesia,
todo mundo vê que eu escrevi você;
só você não vê
(ou finge que não vê).


E me fazes o homem mais feliz do mundo.
Chego e pensar que sou mesmo poeta.
Caramba!

sábado, 27 de março de 2021

Estacato e paixão

Por Meriam Lazaro




Eu tenho dois corações
Vejo uma só flecha
Eu tenho dois corações
E um só me resta


Eu sou sol na multidão
Da última réstia
Eu sou sol na multidão
Sobejos de festa


Eu ando na contramão
Em meio à floresta
Eu ando na contramão
Da paz que me resta


Eu vivo desta paixão
Sem ser manifesta
Eu vivo desta paixão
Estanque e modesta


Eu toco esta solidão
Como quem detesta
Eu toco esta solidão
Violão sem seresta

sexta-feira, 26 de março de 2021

Maju

Por Mayanna Velame




Pequena felina bicolor
esqueceu seu pires com leite.
Para sentir o deleite de
viver no céu...

quinta-feira, 25 de março de 2021

Não é nenhum recomeço

Por Nana Yamada




Todo recomeço não é fácil
Não é fácil recomeçar sem o seu apoio
Não me sinto confortável em tomar algumas atitudes
Não quero forçar nada e nem me sentir pressionada
Sei que o tempo não para enquanto pensamos
Sei que ele não espera enquanto não sabemos


Eu sei de tudo que vivi
Tudo que eu dediquei
Tudo aquilo que eu acreditei
Porque tudo foi tão real e intenso
Não existe nenhuma possibilidade
De comparar algo tão único


Existem coisas
Que acontecem naturalmente
Coisas que não se explicam
Mas que vivemos intensamente
Partilhamos tudo e muito mais
Depositamos uma confiança positiva


Continuo acreditando
Que jamais cruzarei
Com alguém como você
Que me fez sorrir todos esses anos
Fez meu coração acelerar todas as vezes
E trouxe a paz que eu desconhecia


Não considero isso um recomeço
Pois não existem recomeços
Sem a sua presença em mim
Pois te carreguei para o resto da minha vida
Como uma lembrança muito mais que querida
Meu doce e misterioso parceiro


Tantos anos sem inspiração
Mas, ao pensar em você,
Tenho de volta a inspiração
Que sempre existiu
Te adoro, meu querido
Não se esqueça disso


Meu melhor amigo
Meu companheiro
Mistério mais doce
Pontual, mas atrasado
Sabendo que, assim, te eternizo
Novamente em meu coração…

quarta-feira, 24 de março de 2021

Ella

Por Fabio Ramos




nua
ela


continua


numa
cama


que não é sua


(...)


sob a
luz


da lua


ela
bela


não recua


(...)


na
rua


do desejo


ela
se


insinua e


do
teu
beijo


compactua:


você
dela
e ela


sempre tua

terça-feira, 23 de março de 2021

Balanços da pandemia

Por Denise Fernandes




Sim, muitos que se salvaram. A porta entreaberta permitiu a cura. Não a da medicina, mas uma outra cura: a da alma. Pássaro fotografado. Amores perdidos, amores amados, amores incertos. Só de pensar no amor, já é amor. Com a pandemia, perdi meu piloto automático.

Piloto automático que me levava ao mercado, à farmácia, à loja de um real - onde quase nada custa um real. Agora penso. Logo, existo. Penso para qualquer gesto inocente, penso como se pensar resolvesse. Correr menos riscos. Corri tantos riscos sem sentido em minha vida. E foi esse pequeno vírus que revelou minha loucura, meu desatino em não dar valor a cada movimento. Esse vento leve que vem junto com o fim do verão.

Fazemos um balanço. Minha tia diz que nunca leu tanto na vida como agora, na pandemia. Minha mãe faz tricô incessantemente; como se a semente do ponto fosse um pouco de remédio para o caos. Minha filha trabalha com educação, e trabalha mais na pandemia; como se da educação dependesse o próprio vento, sim, esse que faz a chuva caminhar.

Estou com vontade de voltar a ser tímida. Assim fica mais fácil o isolamento social, e a própria vida. Tartaruga dentro do casco. Lentidão que é perseverança. Esmeralda bruta. Sol desenhando um espelho na parede. Saudades de tudo que foi bom. Saudade do leite dentro do meu peito. O que a pandemia desvelou estava aqui, bem guardado. Não sei morrer. Só sei nascer para um novo dia, onde uma xícara de café quente me espera.

segunda-feira, 22 de março de 2021

insânia

Por Ana Paula Perissé




há 1´precipício
errante.
assombrador de sonhos
mas pregnante
de vida.


longas noites, eu temo.
de sons prantivos, ao longe.
água que foge
centelha em enfarte
desértico.


mas 1´ luz persiste. à aurora.
uma pletora de sorrisos
sobrevive
sem saber-se motivo.


há algo de inefável
entre o desejo
à espera de 1`vida



(proeza insaciável
essa de sobreviver.)

domingo, 21 de março de 2021

Inglória

Por Oswaldo Antônio Begiato





Quando eu me encontro comigo mesmo
Dentro de minha consciência,
Acontece ali um duelo de vida e morte
Entre minha alma boa e meus ímpetos ruins,
Onde não há vencedor, apenas extenuado.


Preciso criar coragem e perder o escrúpulo.
Aprender a lutar comigo mesmo buscando a paz
Escondida no equilíbrio do bem e do mal,
Como se eu fosse dois usando a mesma armadura.


Há males que vêm para o bem; a derrota.
E há bens que vêm para o mal; a vitória.
Até aonde vencer uma batalha é coisa boa?


O sol hoje vai nascer às seis e trinta e três
E se pôr às dezoito e trinta e seis.


Recolherá pela manhã com seus braços de calor
O orvalho que a noite deixou esgotado sobre as folhagens,
E ao se pôr à tardinha devolverá à noite
O orvalho, agora purificado, forte e apaixonado
Para se cumprir mais uma rotina:
- Amar com seu frescor a noite que se encherá de estúrdia.


Quem sabe eu me encontrarei na busca inglória do aprumo!
Tenho desde o nascer até o pôr do sol para descobrir meu eixo.


É dessas coisas que meus dias são extraídos. Santamente extraídos.

sábado, 20 de março de 2021

Rudimentos

Por Meriam Lazaro




Seca a foz, a lágrima dança
Em meio a sacolas, papel e cães.
De restos é a voz, sem esperança,
Forte é o talho de feias afinações.


Morte em vida, praça em praça,
Do paço à catadora de sobejos.
Pedraria de dor que estilhaça,
Mó de esquecimento e desejos.


Chora seu ser que por ali passa
Seguindo féretros pelas ruas.
Nas palmas o coração ameaça,
Tão rotas são as vestes suas.


Será preciso saber a graça
E a história que ali se encerra?
O gemido do sino a abraça,
Saudade de si também enterra.

sexta-feira, 19 de março de 2021

quinta-feira, 18 de março de 2021

Nosso mundo colorido

Por Nana Yamada




Que mundo colorido é esse, onde vivemos?
Cores por todos os lados
Nossos laços se transformaram em cores
Cores com traços de alegria, amizade, compaixão e partilhas
Todas as cores que podemos criar com sentimentos


Esse mundo colorido que construímos
Está ficando sem cor e alegria
Onde é que chegamos?
Por que deixamos tudo isso acontecer?
Vi meu mundo ficar sem cor


Não sei por onde eu estive
Não te achei em lugar nenhum
Fiquei tão vazia
Como se fosse aquela mistura
Que não chega a ser cor nenhuma


E se quiser mais cor
O que eu tenho que fazer?
Tudo isso sem você?
Ah, pois… Acabei de misturar
Todas as cores para criar o nosso mundo!

quarta-feira, 17 de março de 2021

Bravio

Por Fabio Ramos




desliza


os
dedos


no piano da sala


para
não


contrariar:


por
ele


os planos


do
velho


SERIAM ANULADOS


pois
esse


dever de tocar


é um


no saco


(...)


durante qualquer
show


ele
se
coloca


na plateia e o som


é
de
aplauso


(calcanhar ritmado)


ou até
de


assobio:


que
tanto


enervam o Andrei


aqui
no
Brasil

terça-feira, 16 de março de 2021

Descaminhos na pandemia

Por Denise Fernandes




Não diria que estou em "lockdown". Estou arriada. E agora descobri que há o descaminho. Como uma mandala de areia que se desfaz. Como as sombras do Nepal, caminhando até aqui por causa do covid.

Adoro usar meias. E nesse momento, isso parece ótimo, porque há o prazer da suavidade - do mágico momento em que meu pé encontra a meia. Nunca gostei de usar sapatos; embora tenha minhas galochas, tênis para caminhadas, e o ar para respirar.

Sem vontade de pegar covid. Tá tão bom aqui no meu cafofo. Conheço a sujeira acumulada embaixo do sofá. Economizo perguntas. Desentendo-me.

Chuva na feira. Colírio para cachorro. Jogo os papéis todos dentro da gaveta. Pirâmide saqueada. Desejo de placebo. Não que eu goste de ser enganada, mas estou confusa no meio de tantos nomes e estatísticas. Engordativa. Sim, descobrindo receitas novas para sonhos antigos. Sem me preocupar com meu próprio cheiro. Inspirando a vida. Soltando o ar com a vertigem da lucidez. Presa em minha casa cheia de cantos, recantos, roupa suja, pelos de cachorro.

Quando a dor vier, vai me encontrar ocupada: fazendo bolo de mandioca, arrumando presente pro aniversário da afilhada, estendendo a roupa no varal.

Peras macias. Enquanto termina o verão, as águas de março vão chegando caudalosas, enigmáticas, abençoadas. O luto vai diluindo-se na xícara de chá. De erva-cidreira.

segunda-feira, 15 de março de 2021

encanterias

Por Ana Paula Perissé




desafio encantamento
e nado na extensão incorpórea
de teu corpo.


só.


e de todos os rumos deste trajeto
encontro 1´espelho com 2 faces
que se encontram
em minutos
de tempo lunar:


não há simetrias
há sorrisos
mas são só desvios:
.
encantarias

domingo, 14 de março de 2021

Olhares diurnos

Por Oswaldo Antônio Begiato




Há tanta veracidade em ver a cidade
sem muitas flores em seus concretos,
sem muitas almas em suas carnes e seus ossos
movendo-se como um turbilhão infindável.


Quando eu era menino
guardava sempre pétalas de flores
no meio de meus livros. Eu preferia os livros de poesia.


A flor da qual eu mais gostava
de guardar as pétalas era a rosa.


Um dia arrumei uma namorada que se chamava Rosa.
Contei isso pra ela e ela nem ligou.
Então eu desisti dela e fui namorar uma brinco-de-princesa:
- Hoje somos unha e carne.


Ela me ensinou a questionar a quem pertence a alma:


Ao osso,
ao sangue
à carne?


A alma pertence à unha, dizia ela
com sua sabedoria de flor.


Dizia mais:


- Há em cada porto uma porta aberta.
Há em cada linho uma linha reta.
(Sempre é possível começar uma vida nova
com uma roupa limpa.)


Planejei mil folhas de alecrim
sem pauta e sem nervuras,
todas brancas como almas de criança,
a fim de escrever um lindo verso de amor.


Mas aí aconteceu essa brinco-de-princesa
fazendo-me poeta e urubu rei, dono de todas as alturas,
e meu verso ficou tão bonito que passaram a me chamar de o poeta das nuvens.


Sei que isso é exagero, mas gosto porque me deixa mais apaixonado ainda
pela flor que se instalou na orelha da princesa.
Azar o meu que fui brincar com o amor. Ou será sorte?

sábado, 13 de março de 2021

O sorriso do ipê

Por Meriam Lazaro




O céu se abriu por inteiro
Flores brotando do chão
Pinta o fiel jardineiro
Aquarela em profusão


Retrato do ipê florido
Do universo a conexão
Devolve do sonho partido
Alegria e comunhão


Do ipê roxo ou amarelo
Árvore e abrigo irmão
Sombra e florescer tão belo
Nova sina em sua mão


A rua sorriu por inteiro
Num brinde ao coração
Parou seu andar ligeiro
De tanta fascinação!

sexta-feira, 12 de março de 2021

quinta-feira, 11 de março de 2021

Você foi o único

Por Nana Yamada




Você foi o único para mim
Único a me fazer acreditar
Que era possível sentir
Todos os tipos de sentimentos
Que existem nesse mundo:
Do melhor ao mistério
Do mais complicado ao inesquecível


Com você fui capaz de aprender
Tudo aquilo que eu não conhecia
Vivi e senti tudo aquilo que desconhecia
Me fez voar como nunca voei
Me apaixonei e acreditei como nunca
Seu amor sempre me curou de todas as coisas
Com você tudo era possível e diferente


Seu toque me fazia viver em outros mundos
Paraíso era o nosso lugar
Seu sorriso era a cura dos meus problemas
Seu perfume me fascina até hoje
Sabe o que fazer para eu me perder em você
Basta olhar para mim, que já não sei de mais nada
Pegue na minha mãe e não me deixe partir


Você sempre será meu único
Mesmo que passe
Décadas e mais décadas
O seu lugar está reservado em mim
Nossas lembranças e
Nossos momentos
Ninguém pode apagar…

quarta-feira, 10 de março de 2021

Consciência pesada

Por Fabio Ramos




escolheu


viver
como


se o mundo


fosse
tudo:


como se o poder


dos
homens


bastasse e a morte


da
carne


ao
teu
vazio


pusesse um fim


(...)


na
trilha


que tomou


por
opção


SATISFEZ O VÍCIO


quando
buscou


dinheiro e prazer


(...)


teve
quem


falou mas


você
não


quis ouvir


e
seu
tempo


definitivamente
acabou