domingo, 17 de dezembro de 2017

Amor sem sentido

Por Oswaldo Antônio Begiato




Tu me pedes que eu seja.


Me tomo pelas minhas mãos,
Já cansadas de tantas conduções,
Vou lá e me transformo,
Com o corpo em carne viva,
No que de mais belo posso ser.
Depois, sem mais nem menos, queres que eu deixe de ser
Todos os caminhos que abri.
E lá vou eu, sem eira nem beira, povoar ruas escuras.
 Jogo fora todas as minhas valiosas experiências.


Tu me pedes que eu tenha.


Andarilho sem bens nem heranças,
Deixo as ruas por onde existo,
Vou lá e me empenho,
Com os nervos à flor da pele,
Para ter o que de mais caro posso ter.
Aí me pedes que eu me livre
De todos os sorrisos que inventei.
E lá vou eu, pobre de espírito, buscar o meu tormento.
 No lixo ficam as tantas coisas que tanto me custaram.


Tu me pedes que eu faça,


E eu, feito o Corcunda de Notre Dame,
Apaixonado por uma Esmeralda insensível,
Vou lá e me mutilo,
Das tripas então faço o coração,
E te conquisto o mais belo dos mundos.
Então, descontente e infeliz me mandas desfazer
Todas as plásticas que me serenaram.
E lá vou eu, médico e monstro, suturar todas as feridas.
 Torno-me a cicatriz exata de um amor sem sentido.


Haja paciência!

sábado, 16 de dezembro de 2017

Fantoche

Por Meriam Lazaro




Danço os fios do viver.
Sou palco e palpitação!
Mão rubor tambor no peito...
Toco as cinzas à razão.
Marca o passo o pé direito...
Fá Sol Lá Si amor-paixão!
Tão baixinho e tão sem jeito...
Move as cordas o coração.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Promessas

Por Mayanna Velame




Não prometo amor. O amor e o ódio são necessários e nem sempre um exclui o outro. Não prometo afeição. A frieza também aquece a alma. Não prometo milagres. Os santos não são desprovidos de falhas. E o sagrado e o profano se atraem, enlaçam-se em labirintos imaginários.


Não prometo acertos ao longo da vida. Perceba que os erros são nossos melhores professores. Também não prometo luz. A escuridão possibilita mais agudez e apuramento ao tato. Não devo prometer ligações. O frente a frente ainda capta verdades no olhar.


Entenda: não quero prometer carinhos. Como disse sabiamente Augusto dos Anjos, "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Para que prometer decência, se somente com a quebra de regras é possível enfadar o conformismo? Não devo prometer a sensatez, porque é na incoerência que vive a liberdade.


Compreenda: não prometo prometer. Prefiro ser dúvida à definição. Sou o talvez, a reticência do discurso. O infinito das indagações, a pergunta sem resposta, a ausência da conclusão.


Não devo prometer o amor imponente, a paixão escaldante, o sonho dos românticos. Que a loucura de cada dia seja abençoada. A embriaguez de viver, o vento da mudança, o delírio do existir e do ser.


Não vou prometer usar sapatos. Quero meus pés nus, sentindo o frio e o calor que adormecem (entranhados no pó da terra). Na aridez que me abriga, não prometo desistir. A fragilidade não representa a derrota. Resistência é sinal de força. Diante disso, não me peças sorrisos e gargalhadas. Lágrimas são capazes de amenizar a dor. Já o riso mostra, sem reservas, o desespero.


Prometer não basta. A todo momento somos colocados à prova. Palavras ditas ou escritas podem virar cicatrizes na pele de quem nos ama. Por isso, não prometo o Sol e muito menos a chuva. Há uma função neste mundo para cada um. E nós saberíamos, realmente, o que devemos fazer?


Não, não possuo a destreza de prometer aquilo que meu abraço não é capaz de aninhar. É preferível sermos a promessa  não fidedignos daquilo que almejam para nós.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Venha até a mim

Por Nana Yamada




Venha até a mim
Não tenha medo
De dar seus passos
Até a mim


Não vou te fazer
Nenhum mal
Meu querido,
Não tenha medo


Venha até a mim
Escute sua respiração,
Feche seus olhos,
Sinta-me em seus braços


Deixa meus olhos
Se perder nos seus
Venha até a mim
Só quero te sentir

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Aconteceu no lançamento

Por Fabio Ramos




estava escrito


na
camisa
do
autor:


me leve
para Sorocaba


(...)


o nome
na lombada
se autoexplicava


(...)


puxou a orelha
do livro


leu
as
cascatas


impressas na contracapa


lançou o
livro
do vigésimo andar


e pulou
junto


(...)


está escrito


no
túmulo
do
autor:


uma vida de reticências
que termina
com


um ponto final

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Crédito

Por Denise Fernandes




Desde a morte do meu irmão, me senti sem crédito no céu. Como se Deus estivesse muito desgostoso comigo. Muda, oração recolhida, repleta de silêncio. O luto se transforma em medo. Medo de Deus, do destino, do imponderável, da morte, da perda, da dor, das células. E também o medo do Medo, o medo maior que corrói diante do abismo. Luto sem fim.

Primavera que alegra o coração esmigalhado. Digo pra mim mesma que não adianta chorar. É quase um sentimento de dever, que não entendo: segurar o choro assim, com tanto motivo pra chorar. Mas o sentimento é de reter o choro, como uma cozinheira regulando os temperos na panela. Preciso obedecer meus próprios comandos. Mesmo sem entender.

O barco virou faz tempo, e agora é esse mar. Fiquei fora de moda. O fracasso me ama.

Medo de nunca mais reencarnar, de sumir para sempre na escada infinita da evolução. Medo de ser meu buraco negro, minha sombra. Medo de ser tudo o que eu não queria ser.

Então fico muda e curvada perante Deus. Medo de rezar, medo de irritar a Deus. Medo que Deus seja evangélico ou católico, medo que Deus seja esse louvor exagerado da Bíblia, medo que Deus seja alguma seita islâmica, medo que Deus seja Jerusalém.

Ando descalça, em busca de espinhos para meus pés. Sou o pecado em todas as religiões. Vontade de me perder de Deus, de acordar ateu.

E, então, vem o Papai Noel e eu sinto uma esperança besta, ridícula mesmo, com aquele cheiro de fim de feira. O Papai Noel me traz um cartão de crédito para eu começar a sonhar tudo de novo, me lembra que vem ano novo. Pego a caneta e começo a lista: sonho um, sonho dois e, rápido, já tenho dez sonhos novos, num carro cheio de desejos me carregando para um novo ano, onde sou eu que me renovo, sou eu que viro número, antítese, solução. Sou eu que tento me iludir, como um bêbado que abraça sua garrafa ainda não totalmente vazia, fico colada no Papai Noel, sentindo seu cheiro vermelho e de farsa, farsa boa, sim, me engana que eu gosto. Minha árvore está pronta. Por favor, Papai Noel, fique comigo. Neste mundo confuso, de pouco Deus e tantas religiões, sua generosidade obesa me conforta. Quero seu abraço macio, enquanto aproveito esse crédito que me resta.

Feliz Natal e Feliz Ano Novo a todos!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Chamas- Duetto

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Natalia Baykalova


                                            uma vez que te fosse
                                            livre
                                            eu te daria
                                            insensada,
                                            toda
                                            a variante que nos pega
                                            de fogo
                                            sempre.


                                            e, se eu fosse.
                                            
                                            guardaria cada scintilla
                                            em meus poros
                                            veias
                                            da vida que se faz
                                            quente
                                            dentro,
                                            acto de existir-mos.


                                            (sempre)


                                            hoje.

domingo, 10 de dezembro de 2017

O silêncio de quem ama

Por Oswaldo Antônio Begiato




Hoje serás apenas
O quadro breve pendurado na cerca
Que guia a estrada.


Não te querem amante
E não te querem mãe
E não te querem filha.
Eles te querem apenas mulher
Mundanamente retratada no quadro.
No quadro breve.


No quadro roto e mal pintado
Que um dia descuidado de suas obrigações
O destino pendurou entre os arames farpados
Da cerca que guia a estrada.


Enquanto isso, eu te amo... Breve e silenciosamente!

sábado, 9 de dezembro de 2017

Adeus ano velho

Por Meriam Lazaro




Quando muda o calendário,
Com o virar da folhinha,
Leves são os fogos que se erguem no cenário,
Queimam olhos que aplaudem quando descem as cortinas...
Mas por que no abecedário a morte antecede a vida?
Ó rito humano sumário!
Breve ensaio da partida.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Quero você

Por Nana Yamada




Te quero,
Te desejo,
Você me faz arder
De vontades
Oh...!
Depois que você entrou
Na minha vida
Perdi o rumo
Da minha vida.
Passou como um furacão,
Tirou todas as coisas
Do lugar como um terremoto.
Eu só queria uma
Noite de amor
Uma noite de promessas
Jurando no seu ouvido...
Com você
Faria,
Iria,
Aconteceria,
Tudo seria possível
Desde que você queira
Sentir,
Compartilhar,
Esse sentimento que
Nunca soube
Controlar...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Deleite

Por Fabio Ramos




bateu o olho
e não
quis
disfarçar


também pudera:


a beleza
da
mulher


(hipnotiza)


e
não
apenas ele:


são
maxilares
em
queda


a contemplar


(...)


no
caminho
para algum local


o inusitado
se dá:


um
vento
a surpreende e


LEVANTA


sua
saia


(...)


o que
esses admiradores
veem


você pode imaginar

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Spin

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Dorina Costras


                                        nuances em
                                        caleidoscópicas matizes,
                                        onde fui estancar meu sentir?


                                        num ensaio à noite aberta
                                        ...ou numa roda
                                        que gira,
                                          gira
                                        em átomos descontrolados?


                                        (spin spin.
                                        faceiros)


                                        enlouquecidos pelo rasgo
                                        de tantas vidas
                                        à fresta
                                        nuas.


                                        Mônodas pulsionais.

domingo, 3 de dezembro de 2017

sábado, 2 de dezembro de 2017

Inacabado

Por Meriam Lazaro




Um verso não concluído,
Um beijo inacabado,
Um passeio divertido,
Um doce de bom-bocado...
Tudo aquilo que deixamos
Por dizer, assim de lado,
Dar-lhe fim não concordamos...
Queremos viver dobrado!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Corda bamba

Por Mayanna Velame




Estamos equilibrados na corda bamba da vida. Todos os dias. Quando desviamos o olhar para baixo, a brevidade nos atemoriza. Somos entregues ao matadouro constantemente. Viver é uma dádiva  mas somente para aqueles que, de fato, entendem o significado de existir.


Sendo assim, indagamo-nos: existimos por quê? Viver nos sobrecarrega. Partindo de análises filosóficas, compreendemos que opiniões convergem e divergem. Porém, compactuamos em alguns pontos... Viver é uma passagem e a morte é destino.


Entre falecer e viver, aqui nos encontramos. Com a passagem ladeada de glórias e medos. Apenas respirar não basta para sentirmo-nos vivos. A corda bamba da vida exige medida, malabarismos e saltos. Caso contrário, sucumbiremos pela angústia de jamais encararmos o desconhecido.


Podemos morrer por falta de amor. Podemos morrer porque negamos momentos que, talvez, não serão mais revividos. Vida e tempo são cúmplices. A vida e a morte se alternam. E uma respeita o espaço da outra.


Entre o perene e a fugacidade das horas, sobrevivemos. A corda trêmula nos sustenta. Tentamos, de alguma forma, nos manter serenos e eretos. O mundo segue lá fora, rodopia sem cessar. No entanto é válido dizer que há, dentro de nós, um coração ardente; ansioso por mostrar-se a todos.


Não estamos enlaçados em baluartes. A vulnerabilidade nos consola. Somos seres oscilantes, como as ondas do oceano. Caminhamos sem imunidade, o risco de esmorecer é real. Tropeços nem sempre são calculáveis.


Como equilibristas, somos orientados a nos entregarmos à força da gravidade. Engolimos seco. Sentimos o suor frio deslizando em nossas têmporas. Longas caminhadas são feitas com passos milimétricos (conforme a superfície que nos sustenta). Afinal, o problema não é a queda, mas sim levantar e continuar.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Aquela chuva

Por Nana Yamada




Meu querido,
Você ainda se lembra
Daquela chuva
Que nós tomamos?


Vento frio,
Cheio de pessoas,
Você pegou na minha mão
E nós corremos


Tua mão era tão firme
Que eu não me importava
Com a chuva
Que unia nossas mãos


Debaixo das tendas
Esperando a chuva passar
Mas a química entre nós
Era tão forte


Debaixo daquela chuva
Fechei meus olhos
E você me beijou
Aonde eu estava?


Seus olhos nos meus
Suas mãos em mim
Tudo era tão real
Tudo era perfeito demais


A chuva passou
E você se foi
Aqui ficou
Apenas a vontade
Daquela chuva
Mais uma vez...

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

É teu sinal

Por Fabio Ramos




seu henrique
proseia
com


o carteiro:


tenha
piedade!


houve um tempo
em que


me trazia as


cartas
de
Beatriz


(...)


ela
escrevia


em folhas perfumadas


e assinava
com
o batom


daqueles lábios


(...)


hoje em
dia


na
caixa
de correio


me


TRAZES


a
fatura
do cartão de
crédito


do
aluguel


e mais cobrança


(...)


veja
bem


meu amigo:


se
for
boleto


pode rasgar


se
algo
trouxer


(a caligrafia dela)


corra e
me
AVISE!


(...)


no rádio
ligado


(dentro da residência)


os Beatles
cantam
Please, Mr. Postman