sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Promessas

Por Mayanna Velame




Não prometo amor. O amor e o ódio são necessários e nem sempre um exclui o outro. Não prometo afeição. A frieza também aquece a alma. Não prometo milagres. Os santos não são desprovidos de falhas. E o sagrado e o profano se atraem, enlaçam-se em labirintos imaginários.


Não prometo acertos ao longo da vida. Perceba que os erros são nossos melhores professores. Também não prometo luz. A escuridão possibilita mais agudez e apuramento ao tato. Não devo prometer ligações. O frente a frente ainda capta verdades no olhar.


Entenda: não quero prometer carinhos. Como disse sabiamente Augusto dos Anjos, "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Para que prometer decência, se somente com a quebra de regras é possível enfadar o conformismo? Não devo prometer a sensatez, porque é na incoerência que vive a liberdade.


Compreenda: não prometo prometer. Prefiro ser dúvida à definição. Sou o talvez, a reticência do discurso. O infinito das indagações, a pergunta sem resposta, a ausência da conclusão.


Não devo prometer o amor imponente, a paixão escaldante, o sonho dos românticos. Que a loucura de cada dia seja abençoada. A embriaguez de viver, o vento da mudança, o delírio do existir e do ser.


Não vou prometer usar sapatos. Quero meus pés nus, sentindo o frio e o calor que adormecem (entranhados no pó da terra). Na aridez que me abriga, não prometo desistir. A fragilidade não representa a derrota. Resistência é sinal de força. Diante disso, não me peças sorrisos e gargalhadas. Lágrimas são capazes de amenizar a dor. Já o riso mostra, sem reservas, o desespero.


Prometer não basta. A todo momento somos colocados à prova. Palavras ditas ou escritas podem virar cicatrizes na pele de quem nos ama. Por isso, não prometo o Sol e muito menos a chuva. Há uma função neste mundo para cada um. E nós saberíamos, realmente, o que devemos fazer?


Não, não possuo a destreza de prometer aquilo que meu abraço não é capaz de aninhar. É preferível sermos a promessa  não fidedignos daquilo que almejam para nós.

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