quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Tamanha Indiferença

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
ela
é livro
na estante


em
posição
de
destaque


com visual tão
sedutor


mas
que ninguém
folheia


(nem as traças)


tal
ensejo
não manifesto em
suas páginas


é
parar
nas mãos
de algum leitor


amante
literato


a
sorver
(cada poema)


como
um
vinho
de excelente
safra


a
decifrar
(cada entrelinha)


como
um
SHERLOCK
portando sua lupa


(...)


na
ausência
de
qualquer
indício auspicioso


ganharia
mais
sendo enviada à
reciclagem

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

esmeralda

Por Ana Paula Perissé




                                         taça sinuosa
                                         em lugar de luz esmaecida
                                         há rubor´quase´esmeralda
                                         de giros anteriores



                                         mexendo os quadris
                                         ele te balança
                                         tal como fêmea
                                         emocionada¨
                                         ¨cio de cristal
                                          tcheco



                                         quando terminar
                                         de gemer ao vidro
                                         todo meu sangue
                                         ondulado
                                         restará nesta taça



                                         (teu perfume
                                         me gira em náuseas
                                         generosas)



                                         e a cada tez
                                         acarvalhada
                                         que me desfizer
                                         nua
                                         será recomeço
                                         de final intenso
                                         para 1´mundo
                                         sem terroir
                                                          ¨novo
                                         de outrora



                                         ancas rosadas
                                         elegíacas
                                         .
                                         .
                                         .
                                         só e espiraladas.

domingo, 28 de agosto de 2016

Máscaras

Por Oswaldo Antônio Begiato




É por trás de máscaras
Que escondo meus alumbramentos;
É por trás da alegria
Que escondo meus desalentos;
É por trás da tristeza
Que escondo meus arrebatamentos;
É por trás dos sonhos
Que escondo minhas máscaras.


Só não consigo mesmo
É esconder de mim
E de minhas máscaras,
Os meus olhos.


Pelo efêmero brilho deles
Minha alma escapa de meu corpo
E vai a cata de outras fantasias.


Das máscaras cuido eu,
Mas quem cuidará
De minha alma?


Sempre há para elas, almas,
Um perigoso jogo de fantasias,
Um perigoso baile de máscaras.

sábado, 27 de agosto de 2016

Perdas e ganhos

Por Meriam Lazaro




Perdida está a poesia desde o instante em que nasceu.
Intangível e fugaz,
em asas de vã partilha,
abriu-se à eternidade
ao passamento do agora.
Murmúrio não mais se encontra...
Daqui partiu a palavra, em rodopio foi-se embora.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Atletas

Por Mayanna Velame




Por duas semanas de agosto, a Cidade Maravilhosa tornou-se palco do maior evento esportivo mundial. Apesar da correria diária e dos contratempos, não pude deixar de assistir a alguns jogos e modalidades. Em certo momento vibrei, chorei, engasguei-me, gritei, xinguei. Enfim, reagi como qualquer torcedor. E, tudo isso, independentemente do resultado (favorável ou não).


A cada fim de partida ou luta, uma reflexão permanecia em minha mente: não é fácil ser atleta. Conviver com a derrota e a vitória não é tarefa para fracos.


Os atletas são movidos por desafios, atiçados pela superação, e desejosos de recordes. Sacrificar-se, então, é item necessário. Tal se sucede com horas de treino, alimentação balanceada, abstinência alcoólica, tratamento de lesões – sem contar os dias longe dos familiares e amigos.


Os verdadeiros atletas doam-se, gemem, transpiram, respiram e suspiram. Do olhar de decepção ao sorriso da glória, eles nos servem como exemplo de garra, força, foco e determinação. O equilíbrio entre o racional e o emocional podem lhes garantir a tão sonhada vitória, o lugar mais alto do pódio.


Também em nossa vida, somos desafiados. Dia após dia. Como os atletas, algumas vezes somos colocados em quadras, campos e tatames. Lutamos, perdemos, ganhamos. Criamos jogadas, saltamos barreiras, golpeamos nossos inimigos.


Nós não somos esportistas profissionais, munidos de corpos perfeitos, com músculos bem definidos e tonificados. Jamais seremos como Bolt, Phelps, Zanetti ou Simone Biles. Em nossa olimpíada diária, somos verdadeiros campeões quando ofertamos nosso perdão. Somos vencedores a cada ausência desbravada, a cada vontade de recomeçar o que parece perdido. Somos competidores. A vida cobra decisões; em que o tempo nos sucumbe, ou transfere-se como um aliado.


Nossa medalha de ouro é conquistada assim: na não desistência de viver a vida, com suas alegrias e deslizes, quedas e realizações.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Desvariando

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
será
que os
cães sonham?


pois
seus olhos
(giram sem parar)
no interior
das
órbitas


(...)


será
que os
bebês sonham?


pois
há chutes
(tão involuntários)
no
útero
e no berço


(...)


será
que as
rosas sonham?


após
arrancadas
do solo
e
perecendo
num jarro d’água?
 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Árvores nas sombras da política

Por Francisco Coluço


A Maria Antônia, em Vila Buarque, é uma rua arborizada. Em seus 860 metros de calçadas, considerando os dois lados, vivem 43 árvores; sendo 17 no lado ímpar e 26 no lado par. Isto oferece uma razão de uma árvore para cada vinte metros de calçada. É uma boa medida em arborização, mesmo se considerarmos que 14 delas são jovens, mudas recém-plantadas pela prefeitura da cidade de São Paulo.

Numa rua com tanto comércio, escolas e cada vez mais prédios, não deixa de ser interessante e notável a existência dessa manifestação natural do verde. Mas observamos de fato? Sentimo-nos cúmplices com o bem estar dessa bela proposição vegetal? Pena que não...

Senão, vejamos: o que nos conta Guy Debord em seu texto "A Sociedade do Espetáculo", de 1967?

"Em sociedades onde predominam as modernas condições de produção, toda a vida se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se transformou numa representação".

Se for assim mesmo (como este autor nos informa), o que fazer?

Simples: basta lembrarmo-nos, agora, do diálogo do artista Morandi – em seu ateliê na Itália – sendo visitado pelo artista brasileiro Darel, em agosto de 1968. Darel pergunta-lhe o que achava da arte atual. Morandi responde: "É preciso reencontrar a confiança perdida na natureza". Nesta altura, estavam os dois diante de uma janela. Darel se volta para olhar a paisagem, lá fora.

Morandi, então, complementa tudo: "Não nesta que vemos, mas naquela em que cremos". Você, amigo leitor, está agora disposto a decifrar essa charada?

De minha parte, posso avisar que isto dá o que pensar. Inclusive pensar na política que "rolou" muito em épocas anteriores, na mesma Rua Maria Antônia. Lembra-se ou sabe por ouvir dizer? Leu a respeito?

Pois bem, foi o velho e saudoso político Tancredo Neves que criou uma frase para passar como sendo a verdadeira "natureza" da política. Disse ele: "A política é como as nuvens... Cada vez que você olha, está de um jeito".

Ainda de minha parte, prefiro voltar à Maria Antônia e tomar um chopinho para filosofar. Já que é tudo assim mesmo, que tal parodiar Morandi? Sentar-me à sombra da árvore em frente ao Bar do Fernando e imaginar, cauteloso: "Preciso reencontrar a confiança perdida na política ou, melhor ainda, não nesta que vejo, mas naquela que creio".

Até a próxima sombra!

Engenheiro agrônomo formado pela USP – ESALQ (Piracicaba, 1969) e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV. Funcionário público aposentado.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

pós-vida

Por Ana Paula Perissé




                         diante da imensidão vazia
                         oceânica
                         imprevisível¨risível da vida a quem dôo
                         sentido errante
                         ou mutante
                         scintillas me agitam
                         ou arrancam-me de mim
                         as partes quentes e dolorosas
                         ao toque
                         clamando por I´chance
                         só
                         de nomear
                         resquícios como
                         sombras
                         (permanescentes como virgens imortais¨imorais)



                         mas quero aprender a sonhar com o nada
                         agora
                         para quando chegar minha hora
                         saber que deixarei
                         as mudanças
                         mudando
                         como se a vida de todos os seres
                         tivessem 1´a pós-vida
                         ecoando
                         reversos
                         a revirar a memória
                         de quem tocamos
                         de alguma forma.



                         não sei o quê escrever quando há
                         ruptura em veia
                         reaparecida
                         são quase-revelações
                         ínfimas ou desnecessárias
                         colectivas
                         de todos em mim.



                         Não é nada de altivo
                         ou grandioso
                         apenas
                         tentativa vã
                         que não me acalma
                         posto que pestanejo diante
                         da pupila oscilante do mundo



                         nem mesmo voo
                         ou rastejo
                         a implorar pelo cheiro da terra
                         úmida
                         que será meu manto
                         no instante final.



                         (pois amo-te
                         inexistência
                         cuja pós-vida
                         entranha-se cade vez mais
                         estranha
                         naquilo que sou ou fui
                         de teu legado
                         nosso)



                         remanescer eterna e desde sempre.
                         serpentear em tempos
                         ou persistir como tua bela lembrança.
                         alhures.

domingo, 21 de agosto de 2016

sábado, 20 de agosto de 2016

Canção do despertar

Por Meriam Lazaro




Se apresse, meu bem se apresse.
Aos sinos da igreja, a prece
à lua nova, às estrelas
que o brinco na orelha tece.


Se apresse, meu bem se apresse,
senão a vida acontece
e o Sol, numa nota cheia,
clareia e ao sonho se esquece!


Se apresse, meu bem se apresse...

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Paz e Guerra

Por Mayanna Velame




Pincelo um Sol opaco,
Rabisco nuvens...
Finjo ser poema.


Namoro aviões,
Engano o destino,
Descabelo a tristeza
E atiço a alegria.


Desenho gramas,
Escondo-me em serras,
Subo montanhas.


Do teu amor,
Encontro um pouco de paz,
Em minha própria e solitária
Guerra.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Acredita?

Por Daniella Caruso Gandra




O que há de tão assolador no incrédulo?
Será a sua maestria em destruir preceitos, protótipos, convicções, augúrios?
Nem a ciência se autodefine incrédula,
quando muito se atém a explicações,
não se diz empírica, porque para as coisas compreender, não há de vivê-las.
Mas o descrente de tudo também não se encontra em um estado estratificado,
pois com sua liberdade é leal.
Sem a mesquinhez dos alicerces intangíveis
que a pobres de espírito abastecem.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Duas

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
outra orquídea?
pois sim


pra
que
tanto espaço?


se colocas
no sol


(ela queima)


se
regares
com exagero


(ela)
(afoga)


sendo
correspondida
a floração
é mãe


ELA


(substantivo feminino)


brilho nos olhos
de doninha

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ilhas visceradas

Por Ana Paula Perissé




                                        sei de teu silêncio
                                        cúmplice
                                        como nódoas
                                        em luz assoberbada



                                        (dendróbios em plena voz¨
                                        voo.)



                                        sei de teu piscar
                                        soberano
                                        como vísceras
                                        de porte assombroso¨
                                        delírios
                                        em vertigens`quase cópias
                                        ilegíveis
                                        de tuas ilhas
                                        .
                                        .
                                        .
                                        visceradas



                                        sim, eu sei
                                        que há erupções de porte
                                        límpido
                                        águas rezando
                                        para caber no impossível
                                        de ti.



                                        sim, eu quase nada
                                        .
                                        .
                                        .
                                        pele`2

sábado, 13 de agosto de 2016

Uma pergunta e uma resposta

Por Meriam Lazaro




“Se você acordasse dentro do cenário do último livro que você leu, onde você estaria?”


Pela Paris de 1921 a 1925, seguindo os passos e ouvindo as memórias de Hemingway (Hem, para os amigos ou, Tati, para a primeira esposa); a tomar um bom café na Place Saint Michel ou – maravilha das maravilhas! – alugando, sem dinheiro, livros da Shakespeare and Company.


Assim responderia à pergunta acima, encontrada no grupo fechado da TAG – Experiências Literárias –, atribuído à Livraria Cultura. Com isto, também, preencheria a lista de 15 escritores que me influenciaram com mais um nome; atendendo a solicitação de amigos no Facebook. Aos 13 anos de idade, causou-me profunda impressão a depressão do personagem de “As Ilhas da Corrente” que, logo mais, eu descobri ser um alter ego do autor, e de seu fim trágico.


Voltando à Paris de Hemingway, acompanharia o escritor em suas visitas a Gertrude Stein, na Rue de Fleurus, 27. E ouviria suas conversas com outros tantos autores, inclusive Scott Fitzgerald, com quem faria uma viagem muito estranha a Lyon.


Pode existir algo melhor que conhecer a livraria Shakespeare and Company, ouvir diálogos (sobre coisas triviais) de renomados escritores, entre o período de duas grandes guerras, e conhecer F. Puss – o gato que servia de ama-seca a Bumby, filho pequeno de Hemingway? Sim, no meu entender, sim! Conhecer, um pouco melhor, seu processo criativo; que é relatado em quase todas as crônicas do livro.


Em suma, se eu estivesse no meio de um sonho assim, preferiria não acordar. E você, em que lugar estaria se acordasse dentro do cenário do último livro lido?


Livro: Paris é uma festa
Autor: Ernest Hemingway
Editora: Bertrand Brasil

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nome composto

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
mirou
em
Carlos Augusto
mas
acertou
em José Ricardo


André Luis
tentou


(com todas as forças)


pensar
em
outra coisa


mas
viu
Ana Rafaela
morder o cachorro


MEU DEUS!
(...)


fala pra
Maria Eduarda
que sua
mãe
está chamando

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

retorno

Por Ana Paula Perissé




                                    sozinha,
                                    como todos estão.



                                    nesgas de compreensão
                                    tal como o avesso do véu,
                                    a solidão que se impõe
                                    quinhão de todos



                                    fardo que arrebata-me mais
                                    do que ao outro
                                    que não me reconhece
                                    ( sempre)



                                    e um saber de pele que se esvai
                                    pois nunca haverei de te tocar
                                    mais.



                                    meu carinho liberto
                                    retorna ao esconderijo
                                    de mim
                                    que se desfez em poucos anos
                                    quando te estive.



                                    ( quase)


                                    só.