domingo, 20 de dezembro de 2015

Impossível

Por Oswaldo Antônio Begiato




Quero pra mim nesse amanhecer
A boca cheia d’aguardente,
Os olhos cheios de paisagens,
Os ouvidos cheios de bemóis,
E um sorriso que seja eterno.


Quero pra mim nesse entardecer
Uma melancia vermelhinha,
Um mar repleto de horizontes,
Uma pauta e uma clave de sol,
Nos dentes a brancura d’alma.


Quero pra mim nesse reencontro
O beijo ávido e imaculado,
A nudez santa e pecadora,
A melodia impertinente,
E uma alegria inescusável.


Quero pra mim, mesmo morrendo,
A tua mais preciosa presença.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Alameda

Por Meriam Lazaro




Nasce o sol sobre os plátanos
Que margeiam a rua calçada de pedras...
Conhecem a pressa
De pernas e carros pra ir trabalhar,
Mas sem que se peça,
Suas palmas permeiam, no dia inda verde,
As notas primeiras de um sabiá!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Vida

Por Mayanna Velame




Os dias se fragmentam. São capítulos que ajudamos a protagonizar. Acordamos, levantamos e procuramos o par de chinelos, perdido embaixo da cama. Observamos nosso rosto no espelho do banheiro. A exaustão é notável, porém, continuamos.


Essa água gelada irrita os poros. Em um ritmo veloz, iniciamos a rotina diária. Na cozinha, o apito da chaleira anuncia mais um café da manhã. Pão quente sobre a mesa. Primeiras notícias sendo veiculadas nas rádios. Aos poucos, outro dia vai se modelando; ganhando forma.


Trabalho, relatórios, colegas, broncas do chefe. Nove, dez, onze, meio-dia. Metade da jornada foi cumprida. No almoço, temos carne, arroz, feijão e farofa. É preciso tomar cuidado com a saúde. Colesterol e glicose devem ser controlados. Isso impera nas dicas de saúde, que são recomendadas pelos guias da boa alimentação.


O mundo gira, mas a vida parece estagnada, acorrentada, emaranhada nas teias do descontentamento.


Viver é correr riscos, leitor! Viver é machucar quem está ao redor. Viver é saber dizer adeus. É chorar, cantar, sorrir, viajar, amar, odiar.


Viver é uma aventura. E é balanceada entre perdas e ganhos. Somos personagens de nossas emoções e frustrações. Resultamos das nossas vitórias e derrotas. Viver é um sonho que acreditamos ser a vida.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Filho ingrato

Por Fabio Ramos
 

 
 
em
seu lar
Ele
não entra


é
preciso
um
convite
para trespassar
os muros


em
sua mente
Ele
não entra


é
você
que venera
estes
pés de barro


em
seu coração
Ele
não entra


e
nos
festejos
será preterido


(por ti)

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Enfim, o lançamento

Por Denise Fernandes




Tive vários pesadelos com o aguardado lançamento do meu livro. Antes de escrevê-lo, já os tinha. E na véspera do grande dia, de novo. Sonhei que não havia luz no local, o ambiente era todo escuro... Também não havia livros! Meu pai e minha irmã chegavam e perguntavam: onde estão os livros? Corria desesperada, de um lado para outro, na escuridão (sem conseguir buscá-los). No próprio sonho, uma voz generosa disse: calma, Denise, é só um sonho, não é o lançamento. Ufa!

Enfim, o livro. Gerado, construído, bordado ponto por ponto. Mais que palavra por palavra. Difícil explicar o que converge, o que nos une, o que sela os bons momentos. São pensamentos, são sentimentos. “O que você escreveu nesse livro?”, me pergunta um jovem que acabo de conhecer. Sim, escrevi pensamentos, sentimentos, observações, surpresas. Mas é, antes de tudo, um livro com um lançamento perfeito, amor, amor, e tantas pessoas que gosto, que fazem meus dias ter sentido. Pessoas para quem eu escrevo, vivo, e que estão no livro comigo, nas páginas, na luta, nos Sonhos que não morrem – e se realizam.

O lançamento com mais abraços que braços, com mais sorrisos que tristezas, com mais do melhor da Vida. Crianças correndo pelo salão. Eu nem sentindo meu corpo. Um lançamento puro espírito e realização. Para sempre agradecida a todos que estiveram de corpo (ou de alma) neste evento. Havia tanta luz. Ficou claro que não estou aqui só de passagem, estou aqui para escrever.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Fricção Feminina

Por Ana Paula Perissé


 
 
                                 Com quantas nuances se fazem
                                 alma de 1`mulher?
 
 
                                 algumas partículas de miudezas
                                 enormes
                                 bruxuleantes
                                 mas perenes
                                 opacas e densas
                                 de vida.
 
 
                                 como um beijo que sopra ao longe
                                 como o encontro de olhos distantes
                                 como o sorriso esquivo que não se fez
 
 
                                 ou
 
 
                                 como os ventos que sopram
                                 e nos voam
                                 como a luz que falta
                                 nos escuros tênues de fantasias
                                 vibrantes.
 
 
                                 (esmero-me no silêncio
                                 que namora o abismo
                                 fricção na ficção,
                                 janelas para ser)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Barro e sopro

Por Oswaldo Antônio Begiato




As pessoas
intensas
imensas
e densas
são feitas
de barro,
de sopro...


De barro
para que as
sementes
germinem.


De sopro
para que as
sementes
se espalhem.


Tudo mais
é pedra,
é vácuo.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Exílio

Por Meriam Lazaro




Com quantos dós te perdeste
Neste solo reprisado?
De ti mesmo te exilaste,
Ou será de teu passado?
Verdes anos, horas mortas...
Tudo, tudo hoje assoma
E na noite te desperta
O presente agraciado!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Ruídos urbanos

Por Mayanna Velame




Na tentativa de não dar audiência à solidão noturna, desligo a TV. Acendo um cigarro e logo me sinto como animal sufocado pelo próprio destino. Na cozinha, preparo o café. Tomo três goles. Até que a bebida acolhe minha alma atormentada.


Entre as paredes deste apartamento, fantasmas do passado alimentam a angústia.


Angústia de quê?


Com o corpo febril e a mente cansada, afasto as cortinas. O silêncio é rompido. Sirenes, buzinas, motores de carro, vozes. Os cães ladram longinquamente – ruídos urbanos que, de certa forma, me animam. Lá fora, a cidade nos rodeia com prédios, antenas de TV, e ilumina meu semblante com luzes.


Por um momento, sinto-me feliz. No céu, aviões cruzam o horizonte (deixando retalhos de nuvens para trás). Eu poderia estar a bordo daquela aeronave. Desvendando seus segredos e seu destino...


Desço do edifício, ando pelas ruas, tropeço entre as calçadas. Pessoas vêm e vão. A cidade não para. É gigante. É cenário da nossa rotina e decadência. Divido espaço com homens, mulheres, mendigos e ratos. Seres que se perdem e se acham no asfalto úmido.


Com o velejar das horas, volto para casa. Esqueço o passeio noturno. A janela é um quadro pincelado por estrelas minúsculas, que piscam sem cessar. Elas continuam lá, vibrantes, com um cintilar ritmado. Talvez queiram permanecer assim até a chegada dos primeiros raios de sol.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Escaldar

Por Fabio Ramos
 



o
sapo
chafurda


(no lodo)


ele pensa
que é
seu


(dono)


e quase engasga
ao coaxar


o
sapo
com barbas


(de molho)


ele incha
nas
águas


(morno)


nem percebe
a fervura
lhe
cozer

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

pássaro

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Ana Paula Perissé


                                       ele tem fuga para pássaros
                                       e é tão cheio de furos
                                       que sai muito de sua alma
                                       até a nossa



                                       e o encanto de um
                                       voo raso
                                       em píer deslocado de desejos
                                       chama pela cor
                                       de um silêncio maroto
                                       que só os bêbados
                                       de muita vida
                                       põem-se a bailar
                                       com a cor de teu vestido
                                       de amanhecer lilás



                                       ( eu vi um pássaro
                                       a filosofar
                                       aquilo que não sei)

domingo, 6 de dezembro de 2015

Rondel a meu amor

Por Oswaldo Antônio Begiato




Eu te amo com a alma cheia de esplendores
Nos cantos mais obscuros do infinito;
Eu te amo com a intensidade das dores
Que me deixam inconsequente e aflito.


E dos sonhos que tive de amores
Tu és a que vens cumprir o escrito,
Como o orvalho rouba frescor das flores
E a eternidade tudo que é finito.


Como não sei fazer um verso bonito,
Para aliviar teus doidos temores
Apenas repito o que tenho dito:
Eu te amo com a alma cheia de esplendores
Nos cantos mais obscuros do infinito.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Fim do dia

Por Meriam Lazaro




Uma árvore se acende!
Um feixe de galhos nus dança aos últimos raios,
como a pedir um minuto de silêncio:
o sol morreu no rio.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Jasminum polyanthum

Por Fabio Ramos
 

 
 
menina
flor


projeto
de
mulher


que
um dia
(sem aviso)
irá
brotar


menina
flor


olhos
de
espelho


se
teu
jardineiro
é
omisso


se
teu
beija-flor
tem
compromisso


azar
o deles!


que a distância
estarão


que
privados
serão
de
teu
perfume


(poema)
 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Álea Perversa

Por Ana Paula Perissé



  
                             aprendi como os rostos se despedaçam
                             em despedidas disformes
                             ( inexistência de vida)



                             quem há de chorar
                             enquanto a voz triste
                             dos violinos
                             encanta 1´só alma
                             perdida ou despida
                             em álea perversa?



                             (aprendi como a vida
                             nos é indiferente)



                             e deste sonho negro
                             prefiro a vertigem de 1´abismo
                             a me rondar
                             ( promessas de dança),
                             falésias aparentes de nada
                             a deitar meu pensamento
                             no ombro lúgubre
                             de quem nunca estive.



                             quem há de chorar por rastros desapegados
                             de suor?


                             (a distancia
                             não sente
                             turvas feridas.)

sábado, 28 de novembro de 2015

Sou pássaro!

Por Meriam Lazaro




Amanheci em revolta.
Voei de lá pra cá.
Cisquei, cismei, até comi jabuticaba.
Pousei guerreiro no chão de folhas
Com a galinha, o galo, o boi.
Vi a água mover a roda,
O arado e o homem a se lavar.
Todos têm sua função.
Até o tecido da saia da moça,
Que tira o leite,
Tem bolso solto sem pregar botão.
Um tição acende
O fogo, que crepita faiscante.
O frio me faz encolher.
As asas me protegem,
Mas não me impedem de voar de cá pra lá.
A minha função?
Sou pássaro.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Ausência

Por Mayanna Velame




É inevitável: todos sentem dor no coração quando o tema é ausência. Dia após dia, cedo ou tarde, nós teremos que nos deparar com ela.


Ausência não é somente a falta de algo e/ou de alguém. Ausência é dor. É ferida que abre e, de vez em quando, volta a arder. Ausência é um hiato na alma. Ausência é saudade latente.


Mas a perda faz parte da vida. E a ausência se manifesta nos momentos em que nossa memória recorda o beijo nunca mais sentido. No companheirismo do amigo que mudou de cidade. A ausência está fragmentada naquele animalzinho de estimação (que, infelizmente, partiu para o andar de cima).


Toda ausência é cortante. Espada de lâminas afiadas. Mesmo com o passar do tempo, ainda assim, haverá um vazio. É a falta daquilo que um dia foi só nosso; como tesouro guardado no baú do coração.


Não tem jeito! Sentiremos a ausência, pois ela se manifesta no paladar, no tato, na visão, no cheiro, na audição. Ela reside encravada em nós. É parte indivisível da alma. E é por isso que somos tão subordinados a ela. A ponto de sofrermos pelas lacunas que nos são ofertadas.


Pessoas vêm e vão em nossas vidas. Deixam conosco seu abraço, seu falar. Pessoas generosas, geralmente, vão embora cedo. São passageiras, porque precisam fazer bondades para outras criaturas.


Parece que nada levamos daqui. No entanto, da efêmera jornada mundana, deixamos rastros pelo caminho. Escrevemos nossa história com tintas coloridas. Ou não. Provamos, comemos, bebemos. Somos odiados e amados. E num sopro irreversível do destino, nos tornamos ausência na vida de alguém.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Sweet recuerdo

Por Fabio Ramos
 

 
 
comeu
a
mistura


largou
o
resto
da comida


(parece criança)


lembrou-se
daquele
figo
em compota


daquele bolo
de milho


e dos
quitutes da
infância
que
já não possuem
o mesmo
sabor

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Estado

Por Denise Fernandes




Meu pai disse: o Estado é podre, só cobra impostos, dita regras, oprime a liberdade. Pensei: vai ser difícil. Lutar contra? Você vai perder, ele assegurou. Perder pode ser ganhar, sonhei.

No sistema do mundo, você luta para sobreviver, sonhar e criar. O Estado em todas as coisas. Se pudessem, esses do Estado roubavam a lua. Você aspira dar um jeito. Amanhã tentar romper o sistema, vencer o Estado. Dormimos na esperança de uma realidade alegre.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

saltus

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Ana Paula Perissé
 
 
                                         rasga-se
                                         com
                                         virulência
                                         o desfeito
                                         em acto
                                         póstumo:
                                         sou-me nova
                                         pigmentos frescos
                                         tela vazada




                                         ( e o aquilo que está
                                         por contar
                                         é
                                         imemorialíssimo
                                         salto)




                                         pois há 1´sentido que
                                         ronda
                                         ainda com pouca
                                         tinta
                                         .
                                         .
                                         .
                                         superfícies em linguagem
                                         sentida.