quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lápide

Por Fabio Ramos
 
 


nome?
 

Antônio Miguel
dos Santos
 

estrela
indica nascimento
em 06-01-1918
 

cruz
indica
falecimento
em
28-06-2013
 

inscrição na
pedra?
 

“Ô,
Zabelê,
peça ao Velho
Guerreiro
a comida do
pituco!”
 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Talvez

Por Denise Fernandes
 
 


 Talvez você não saiba
como é duro dizer
"o que eu faço?"
Estou atenta como um
relâmpago que estilhaça.
Faço faxina descalço
até não sentir o pó.
Já não tenho dó.
Tenho piedade congelada
em pia de mármore
para não magoar
aos gregos e aos troianos
que espiam e combatem
longe de mim
(até quando?)
Talvez você não saiba
como é duro não dizer
o que faço: o silencioso
espaço em que não me iludo
não converso não temo
simplesmente confesso
 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

perfume

Por Ana Paula Perissé
 
 
Imagem: Italia Ruotolo Art


                          sob o reverso
                          de teu único gesto
                          está a gritar
                          uma chuva de fluidos

                                                                        (perfume viscoso)

                          tão quente
                          quanto te sinto
                          aqui.
                          que de tão nua
                          despeço-me de mim
                          para te engolir
                          em pele
                          decantada,
                          rubra
                          por uma única
                          .
                          .
                          .
                          fricção.


 

domingo, 27 de abril de 2014

Mutilação

Por Oswaldo Antônio Begiato
 
 


                                        sou a bailarina da noite escura
                                        dançando no espelho liso de um lago
                                        onde cisnes negros se entregam à morte
                                        desesperadamente
 

                                        sou a bailarina frágil
                                        que queria ser doméstica
                                        ou freira
                                        ou feirante
                                        ou médica
                                        ou médium
                                        ou professora
                                        ou prostituta
 

                                        no entanto estou aqui
                                        mutilando meus sonhos
                                        rasgando minha pele
                                        porque o cisne negro insiste em não morrer
 

sábado, 26 de abril de 2014

Rotina

Por Meriam Lazaro
 
 


Olha o sol que principia
luminar o horizonte,
ouve só a harmonia
do gorjeio lá na fonte.
Segue o voo de uma nave
longe na imensidão!
Põe a toalha na mesa
sem que esqueças o pão,
o café e a framboesa
doce como na canção
dos canteiros de Cecília,
solo em voz e violão.
Deixa a porta sempre aberta
ao labor e à diversão...
Põe os óculos do dia,
pois não és poeta não.
 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A refeição

Por Mayanna Velame
 
 


Não me importei com a garoa que descia do céu, naquele fim de tarde. Às seis horas, tomei o casaco e me dirigi ao Café Lebon’s. Debruçada sobre o balcão, deparei com uma variedade tentadora de sanduíches. Minha fome deveria ser saciada, imediatamente.

Da minha escassez, ainda consegui alguns trocados. Pedi então ao garçom – de mangas arregaçadas, corpo esquálido e olhar tétrico – um sanduíche de pernil e uma caneca de cerveja. A displicência de seu atendimento enrubesceu-me, mas não a ponto de cancelar a refeição.

Durante a interminável espera, atentei-me para as vozes e os risos que ecoavam na atmosfera do ambiente. O tilintar dos talheres e copos acossavam-me. Da cozinha, eu podia ouvir a gordura da carne crua, salpicando na chapa quente.

As garrafas coloridas decoravam as prateleiras por trás do balcão. Meus olhos fadigados e sem esperança permaneceram arregalados, com a oferta abundante de bebidas. Num momento, pensei em acender um cigarro, espantar em definitivo a solidão e o tédio daquele lugar. Porém desisti e continuei a contar quantas teias de aranha enfeitavam o teto.

Minutos depois, o moribundo garçom apareceu-me equilibrando, em uma de suas mãos, a bandeja que continha o sanduíche e a caneca de cerveja. Sem me olhar, entregou a refeição. Com a voz tímida e discreta, me ofertou um “bom apetite”. Agradeci-lhe, acenando positivamente com a cabeça.

Diante de mim, o sanduíche apetitosamente reluzia, pedindo para ser devorado. A caneca de cerveja, gelada, suava em minhas mãos. O líquido amarelo, com espumas transbordantes, almejava inundar a garganta ressequida.

No entanto, antes mesmo de abocanhar o primeiro pedaço daquela refeição faraônica, pressenti que alguém me observava. Hesitei em olhar para os lados. Quando, de repente, uns dedos finos e trêmulos pousaram sobre meu ombro direito. Voltei-me para trás e, surpreendente, achei-me com a presença de uma velhinha. Seus cabelos eram totalmente grisalhos e presos num rabo-de-cavalo mal penteado. O semblante baço, triste (como aquele início de noite).

A senhora trajava roupas mofentas e de cheiro nada agradável. As mãos enrugadas seguravam sacos plásticos brancos e vazios. Nos pés, sandálias sem fivelas. Naquele momento, algo aconteceu comigo. Durante alguns minutos, a pobre mulher permaneceu intacta e imóvel, feito uma estátua corroída pela chuva.

Encabulada, tomei uma decisão. Já não suportava ver aquela mulher plantada ali – sem esboçar qualquer reação. De sua boca, nenhuma palavra foi proferida. Seu silêncio consumia-me. A fome, que antes imperava, havia sido extinguida.

Foi então que ofereci à velha senhora o tão almejado sanduíche de pernil. Abruptamente, ela o tomou de minhas mãos. Abriu um sorriso sincero, deixando à mostra seus poucos e mal conservados dentinhos.

Pensei em lhe chamar para sentar-se comigo. Mas, antes de qualquer tentativa, a mulher deu-me às costas. Procurei segui-la, percorrendo seus rastros. Ao dobrar uma esquina, choquei-me com transeuntes apressados e amuados. Até que, do outro lado da rua, eu a avistei. Lá estava ela, recostada num muro úmido, oferecendo seu sanduíche de pernil para um cachorro abandonado. Durante certo período, fiquei observando, sem pressa, aquelas duas criaturas que, embora solitárias e esquecidas pelo mundo, se tornaram recíprocas (e únicas) para mim.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Missões cumpridas

Por Amilcar Neves*



- Levá-lo para casa, isso que eu quero.
 
- Desculpe, dona, mas só transportamos doentes. E ele está recebendo alta.
 
- Ele quem? Como é que vocês se referem assim, com tamanho descaso, ao meu marido? Por acaso vocês o conhecem? Sabem o que ele fez de bom ou de ruim na vida? Sabem se é apenas mais um canalha que envelheceu ou um cidadão decente que merece todos os cuidados possíveis e todo o respeito devido a um ser humano honrado? E se ele for alguém tão importante para o mundo quanto é para mim?
 
- Desculpe, dona, não tivemos intenção de ofender, é que...
 
- Mas ofenderam! Vocês ofendem a dor suprema de uma mulher dedicada, de uma amante orgulhosa do seu amor, de uma família que paga seus impostos rigorosamente em dia! O que vocês pensam que são? Deuses? Vereadores? Vendedores de seguro?
 
- Desculpe, dona, a senhora precisa entender que obedecemos ordens, que temos regras rígidas e severas a seguir, que há procedimentos básicos a cumprir, que...
 
- Basta! Não vou discutir com vocês. Muito menos nesta situação dramática. Meu marido vai para casa agora e vocês é que irão levá-lo - com ordens, com regras, com procedimentos ou sem nenhuma dessas porcarias.
 
- Desculpe, dona, o que nos complica a vida é essa alta que ele, desculpe, dona, que o seu marido acaba de receber do hospital. Entenda, dona, por favor. Só podemos transportar doentes graves, pessoas em agudo risco de vida. Seremos drasticamente punidos se a empresa de emergências médicas que nos emprega sequer suspeitar que estamos, digamos assim, fazendo concorrência desleal ao serviço de táxis. Especialmente nesta cidade em que os casos de emergência se multiplicam num final de semana como este, mesmo numa manhã de sábado como esta.
 
- Alta médica? Vocês estão loucos ou o quê? Quem falou em alta do hospital? Meu marido precisa, meu marido quer dar uma chegada em casa, ver seu canto, suas coisas, e se despedir de tudo. Logo estará de volta, seu quarto e sua cama aqui no hospital continuarão reservados para ele. Ele está bem pior do que antes, vocês não conseguem enxergar isso? Vocês entendem por acaso de fim da vida? Psiu!, sem uma palavra. Não me venham com experiência profissional, eu falo de experiência de vida. Vocês estão acostumados com a morte de pessoas, mas não sabem nada sobre como as pessoas verdadeiramente morrem. Por isso é que vocês vão levar meu marido para casa, como ele pede para ir, e depois irão buscá-lo para trazê-lo de volta quando ele achar que terá chegado o momento de voltar. Quando tiver chegado a hora dele, a hora de ele voltar.
 
- Desculpe, dona, tudo bem, até podemos levar ele...
 
- Levá-lo!
 
- … para casa, a senhora tem aí esse documento do médico, mas se nos chamar em menos de uma semana terá de pagar a taxa de reincidência, como a gente chama, que custa 500 reais.
 
- Quinhentos reais. Perfeito. Então eu ligo para a polícia, conto o que vocês estão querendo cobrar de um segurado fiel e nós vamos passar o resto da vida discutindo esses 500 paus na Justiça.
 
- Desculpe, dona, nós temos que falar tudo isso para os clientes, está na nossa descrição de função. Nós entendemos sua situação, percebemos que seu marido vai passar o final de semana em casa...
 
- O final da vida.
 
- … para se despedir do mundo, câncer é mesmo uma doença danada, mas não se preocupe, tudo dará certo, nós vamos levar ele...
 
- Levá-lo!
 
- … para casa e depois, quando a senhora ligar, a gente traz seu marido de volta para ele cumprir enfim sua missão neste mundo de Deus.
 
* Conto publicado no jornal "Diário Catarinense" de 12.03.14

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Inversão Total

Por Fabio Ramos
 
 
Cena do filme "Animal Farm" (1954)


ele
(o dono)
 

bebe
café em copo
de
requeijão
 

come
a feijoada
em lata
de
goiabada
 

se banha na
fonte
da
praça
 

mas
ele
(o bicho)
só come em prato
de porcelana
usando
talher e faca
 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Olhos Tristes

Por Denise Fernandes
 
 


Você me disse que eu estava com olhos tristes. Perguntou o que era. Disse que não era nada, que não estava triste. Talvez meus olhos estivessem irritados pela maquilagem. Você ficou bravo pensando que eu estava mentindo. Disse que não estava mentindo, se eu tivesse triste, eu falava. Geralmente, quando fico triste, eu falo, expliquei a você. Você fez uma cara de quem não acredita muito. Ai, aí eu acho que também achei que não falo sempre das minhas tristezas e pensei que não estava com vontade de falar delas para você. Medo de que só de falar eu possa ficar mais triste do que estou. Medo de chorar. Medo de te envolver na tristeza envolvida, essa compaixão arrancada do outro, de você ou outra pessoa. Não quero esse sentimento implorado. Deve ser orgulho ou bobagem da minha parte, mas quero alguém que sinta compaixão sem lágrima alguma, sem chantagem. Sei que são sonhos. E não tenho certeza se esses sonhos são causa desses olhos tristes, que também me assustam.
 
Não consigo entender, mas meus olhos parecem mais tristes do que a tristeza que estou sentindo agora. Será que carregam tristezas de antes? E a tristeza dos meus olhos me deixa um pouco triste. Da onde saíram esses olhos tristes me olhando? Acho que fico um pouco triste com a tristeza dos outros. Pego emprestado e sofro com a tristeza dos outros; mas também pego alegria. Esses olhos mais tristes que o normal foram de tristezas que não lembro. Sentimentos de solidão que me fizeram bem sozinha mesmo. Como um morador de rua que encontrei no caminho sem nenhum cobertor velho, nenhum casaco velho, a camiseta curta, ele bem gelado. Via o gelado nos olhos dele, deitadinho no chão, sem papelão. O morador ao lado com cobertor, papelão, casacão. Sinto uma solidão danada olhando para os dois, assim desiguais, lado a lado, unidos nem sei eu pelo quê. Tem horas que entendo todas as tristezas dos meus olhos, mesmo essas que aparecem sem que eu perceba, e descubra dessa forma. Você olhando e vendo o que eu nem mesma sabia.
 
A tristeza demorou para sair dos meus olhos. Mas não precisei chorar. Nem falar. Acordei simplesmente diferente. Depois percebi que era bom que você lesse meus olhos, que não fosse tudo indiferença, que houvesse essa pergunta sobre o conteúdo dos olhos, que houvesse verdade. Mesmo assustada pela descoberta de algo que eu não sabia que estava em mim, sinto que é luz aparecendo para eu perceber que sou mesmo um pouco transparente. Transparência que começa pelos olhos e continua; e quando você me vê, sabe como estou lá no fundo, mesmo eu não gostando tanto de ser tão transparente assim.
 
E será que temos o tato triste, os ouvidos tristes, o olfato triste, o paladar triste? A mão que tem saudades de carinhos, a pele carregará a tristeza de tudo? Fecho os olhos e ainda te vejo. Meus olhos fechados continuam tristes? A porta bate com força e eu me assusto como se eu fosse um bebê. Meus cinco sentidos continuam sentindo o que eu nem sei que sinto. Me avise quando meus olhos estiverem cheios de amor. 
 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

episódio

Por Ana Paula Perissé
 

 
 
                                            há 1´princípio
                                            errante
                                            assombrador de sonhos
                                            mas pregnante
                                            de vida.

                                            longas noites, eu temo
                                            de sons prantivos
                                            ao longe
                                            água que foge
                                            scintilla em enfarte
                                            desértico

                                            mas 1´ luz persiste
                                            à aurora
                                            primeva,
                                            uma pletora
                                            de sorrisos
                                            sobrevive
                                            sem saber-se motivo

                                            há algo de inefável
                                            entre o desejo
                                            a espera
                                            e 1´vida

                                            (façanha arriscada
                                            esse viver.)
 

domingo, 20 de abril de 2014

sábado, 19 de abril de 2014

Hoje eu vou mudar

Por Meriam Lazaro
 
 
 
“Hoje eu vou mudar/Vasculhar minhas gavetas/Jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos.”... Assim começava a canção interpretada por Vanusa, de sua composição e Sérgio Sá, segundo a internet. Mudanças estão a nossa volta, em nossa mente, em nossas ações. Nem sempre precisam de um novo espaço para acontecer. Podemos mudar no lugar em que estamos.


Evidentemente há os que preferem fazer o Caminho de Santiago de Compostela ou participar de outra peregrinação. Tudo bem! Mas até para ir a Galiza, para a maioria, é necessário uma mudança prévia, isto é, se pudermos chamar de mudança o desejo de organização. Organizar as finanças para ter dinheiro para a viagem em busca da simplicidade. Organizar os hábitos de exercícios físicos para sustentar a caminhada. Organizar a mochila dispensando tudo que é supérfluo para estar sobre os ombros. Organizar o tempo de férias, ordenar os documentos, rever as ideias sobre alojamentos coletivos...


E se não quisermos ou não pudermos sair do nosso chão? Como poderemos nos despojar desse mundo de coisas desnecessárias que carregamos? Foi assim com Noé.


                                                           ***


Um belo dia Noé acorda e vê que a barca partiu levando até seu cachorrinho de estimação. Não tem mais ligação com ninguém. Também não quer partir. Sente que o elo que deseja com pessoas, animais, coisas não virá de fora. Sentir-se ligado a outrem independe de espaço, está além do tempo, inclusive. Sai da zona de conforto (que é a mesma de desconforto). Põe-se a pensar em organização. A “zona” é total e aparentemente incorrigível! Noé desanima.


Num outro dia Noé pensa, pensa, pensa. Na imaginação faz tudo o que é necessário. Organiza as contas. Não gastará mais com livros, que levaria vidas para ler. Já não compra mais discos de música, pois o momento é de gastar com filmes. Disto não abre mão! Em pensamento troca o vídeo doméstico pela tela grande de cinema. Dois em um. Assistir filme em tela grande e som espetacular; sair de casa e experimentar o convívio com outros humanos e seus cheiros de pipoca amanteigada que ele odeia. Limpa a casa com o melhor detergente, abre janelas e portas. Tem mania de limpeza. Por enquanto, sua mania consiste em estocar material de limpeza. Depois organiza gavetas, armários, papéis, seguro de vida (deixará para quem?). De tanto pensar, Noé está fatigado. Chegou o momento de descansar. Mais um dia passou.


Noé já não aguenta mais. Deseja uma mudança. Qualquer mudança que lhe desperte felicidade. Mas por não saber bem o que é felicidade, o medo lhe impede qualquer ação que não seja a do pensamento. Um dia Noé irá despertar e a barca terá voltado.
 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Talvez

Por Mayanna Velame
 
 
 
 
Sempre admirei a palavra “talvez”. Não necessariamente por causa da escrita. Mas justamente pela semântica, ou seja, pelo significado que ela traz consigo. Na Língua Portuguesa, “talvez” classifica-se como advérbio de dúvida. E a dúvida, sem dúvida alguma, é a mãe da ansiedade (e de toda angústia).

Entre o sim e o não, existe o “talvez” neutralizando respostas que desejamos ouvir ou ler. É o talvez que nos comove, sucumbe o juízo e a razão.

Um “talvez” camufla verdades e mentiras. É o meio-termo, o “x” da questão, a omissão dos fatos, a incógnita perdida, a fala indecisa.

O fato é que a vida está cercada pelo “talvez”. Tal palavra continua impregnada nessa finita existência: “Talvez sejamos felizes”, “Talvez encontremos o amor de nossa vida”, “Talvez”...

Diariamente vivemos entre incertezas futuras, probabilidades, ausência de garantias. Tudo isso promove desconforto e insegurança. Contudo, nas nebulosidades circundantes – ministradas pelo “talvez” – encontramos motivação para aproveitarmos cada dia, minuto e segundo como se fosse a última chance.

Quando o “talvez” impera na mente, é hora de agirmos. Precisamos tomar atitudes; ganhar coragem e confiança. A falta de convencimento, em certas ocasiões, nos anula.

Talvez essa crônica não tenha sentido. Porque o sentido do “talvez” possui mão dupla. São as regras da vida que, constantemente, se sobrepõem entre nós.

Escrevemos nossa história a todo instante. Somos autores, ou coautores, da vida. E, sendo assim, esperamos que o “talvez” não esteja escrito no último capítulo da existência (para expressar o que poderia ter sido e não foi).
 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Homem gigante e povo formiga

Por Cláudia de Villar 

 

Homem gigante caminha
Pelas ruas da cidade,
Se mistura e se sobressai,
Pois é gigante.
 

Homem gigante tem.
Tem o metal, tem o poder,
Tem o domínio de outro ser,
Pois é gigante.
 

Homem gigante
Que tem o lazer, que tem o acesso,
Que tem o sucesso,
Pois é gigante.
 

Homem gigante
Se mistura entre o povo formiga.
Que trabalha, que batalha,
Que se espalha, que se joga,
Que se expõe.
Povo formiga que toca o bonde,
Que luta, que sofre,
Que chora, que grita.
 

E que grito doído tem o povo formiga!
 

Enquanto isso...
O homem gigante
Se distrai
Esquentando a água para jogar no formigueiro.



Nascida em Porto Alegre, é graduada em Letras.
Atua como professora, escritora e oficineira. É colunista em veículos
como Jornal de Viamão, Jornal Zona Sul e Revista Zona Sul.
Também colabora no site literário Homo Literatus e no portal Artistas Gaúchos.
Possui oito livros publicados, sendo sete deles voltados ao público infanto-juvenil.
Para maiores informações, visite o site pessoal da autora.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Estava Escrito

Por Fabio Ramos
 
 


ao dizer
sim
 

anjos
protegem
 

rotas
convergem
 

juras
são
trocadas
 

vidas
são
geradas
 

ao dizer
sim