sexta-feira, 30 de novembro de 2018

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Levando a pior

Por Fabio Ramos




achou
no
sebo


um disco


que
ele


sempre quis


e
não
se conformou


ao ler


o
selo
do bolachão:


o LP


no
plástico


interno era da Whitney


(...)


a mulher
que
escolheu


para
ter


ao
seu lado
mostrou os dentes:


aquela
gata


manhosa


virou
cobra


peçonhenta


(...)


do
filé
mignon


solicitado no açougue


mais
um
dissabor:


em
casa


descobriu


que
lhe


venderam


FILÉ
MIAU


(ou seria FILÉ AU AU?)

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Ponte

Por Denise Fernandes




Então, tem essa ponte dentro de mim. É onde chego ao meu ser, essencial, com o plano de sempre. A ponte leva à ilha onde tudo acontece.

Antes de qualquer coisa, observo a mim mesma, e estou perplexa. Passeio pela rua e um mendigo canta para um casal, que também mora na rua: "Estou de volta pro meu aconchego...".

Ele canta afinado, o som se espalha bonito pela tarde. Sua interpretação traz uma verdade. E vejo como o aconchego é invisível no meio da vida. Não é casa, nem sombra e água fresca, é esse canto sentido no meio do dia.

Agora percebo como o sentimento de solidão me abandonou. Desde que pisei naquela ilha, minh'alma se aquietou. Morna, como a água do lago no meio do cerrado.

Só agora sei onde é meu centro. É nessa ponte. Longe materialmente de mim, e sempre presente. Onde me iluminei.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

contorcionistas passageiros

Por Ana Paula Perissé




                            fique só ao meu lado
                            deixo apenas
                            de ser-me
                            ainda.


                            o rio é denso
                            .
                            de desejo mas
                            de pulsos caídos
                            e de violência travestida de boas intenções
                            ,


                            fique cá só
                            ao lado de minha mão. poros no chão, juntos
                            mambembes de muita vida
                            nua
                            para poucos.
                            somos contorcionistas passageiros
                            daquele ardor
                            .
                            que nos atravessa
                            quase de nós
                            .
                            pulsionantes
                            descendo
                            rio espesso
                            .
                            mas aceso

domingo, 25 de novembro de 2018

Fazedora

Por Oswaldo Antônio Begiato




A melhor parte de mim
são as tristezas
que ainda não escrevi,
por medos, incertezas e inseguranças.


Não sei se as escreverei.
Não sei se vale a pena roteirizar
essa minha parte.


Gosto dela assim
porque ela
me é a parte desconhecida,
o lado escuro de minha alma,
jardim intocado
onde nascerão flores
e ervas daninhas
sob um sol que há de iluminar,
ou quem sabe,
de queimar. Só a mim. Só.


É o segredo meu essa minha parte,
que preciso descobrir
nas minhas horas de solidão,
nos meus lugares de abandono,
no sítio de meu isolamento
e que somente a dor da humilhação,
essa fazedora de sentimentos,
vai me fazer encontrá-la
no meio de um amor perdido,
no cume agudo de uma despedida.


E sei que quando
estiver frente a frente
com essa parte minha,
revelarei,
não a foto indecifrável
de meus questionamentos,
mas a luz quente
que vai inculcar
em minha alma
o roteiro escrito por mim
da película em preto e branco
dos meus tempos
de cinema mudo.


A produção será minha,
a direção será do acaso.


A plateia serei apenas eu.

sábado, 24 de novembro de 2018

Instantâneo

Por Meriam Lazaro




Neste porto eu passarinho...
Passa avião, trilho de trem,
carro veloz, passos vazios,
garça, balsa, jet ski...
Os pensamentos do homem só
navegam no Laranjal.
Enquanto tudo viaja,
passa a noite,
o dia vai, eu com ele
e não contigo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Português amoroso LXXXI

Por Mayanna Velame




Se até mesmo algumas
classes gramaticais
são flexionadas,
por que teu coração
é tão invariável?

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Minha brisa

Por Nana Yamada




A minha calmaria é a brisa da tua sombra
Seus cuidados são tão detalhados
A sinceridade mais verdadeira
O que fazer com tantas ilusões reais?
No meio de tanto mistério,
Fui atingida sem perceber
E o tempo congelou
No instante em que te vi


Tudo muda a cada dia
Tudo evolui e acontece
Nada como planejamos
Mas do jeito que sempre acreditamos
Quão doce é poder viver
O inesperado mais indescritível
O mais diferente
De todos os acontecimentos


A brisa mais suave
Vem das suas palavras
Poder compartilhar
As batidas do meu coração
A sensação de estar viva
No mundo em que vivemos
Arriscando a cada segundo
Mesmo sem entender nada...

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Semeadura

Por Fabio Ramos




teimou de chover


pelos
olhos


e de ventar


pelo
sopro


(...)


um jorro


de
sêmen


(no útero caverna)


e a flor
da


PERFEIÇÃO pulsa:


aquecida
pelo
corpo


e nutrida pelo cordão

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O que sobrou da universidade e da cultura?

Por Maurício Perez



Austríaco que imigrou para o Brasil e trabalhava como jornalista da área cultural, Otto Maria Carpeaux escreveu um ensaio intitulado A ideia de universidade e as ideias das classes médias em 1942.


O que chama atenção, após todos esses anos, é a falta de jornalistas com a cultura desse homem (basta ver os cadernos de cultura nos jornais de hoje), a redução da universidade a uma fábrica de diploma e a cultura transformada em ideologia.


Vale a pena ler alguns trechos:


"Por toda parte, as universidades são doentes, senão moribundas, e isto é grande coisa. Os iniciados bem sabem que não é esta uma questão para os pedagogos especializados. Das universidades depende a vida espiritual das nações. O fim das universidades seria um fim definitivo. O abismo entre o progresso material e a cultura espiritual aumenta de dia para dia, e as armas desse progresso nas mãos dos bárbaros é fato que clama aos céus. Os edifícios das universidades resistem ainda, e neles trabalha-se muito, demais, às vezes, mas o edifício do espírito, esta catedral invisível, está ameaçado de cair em ruínas.


O utilitarismo é o inimigo mortal da Universidade. Mas o que quer dizer 'prático', 'útil'? A resposta não é tão simples. Para a mentalidade média do nosso tempo, a utilidade das ciências é determinada segundo as aplicações práticas: a física e a química, que nos forneceram a luz elétrica e os gases asfixiantes, são as ciências úteis; a história e a filosofia, que não nos fornecem nada, são ciências 'inúteis'.


Queixam-se de que as universidades já não fornecem elites. Sim, mas em compensação fornecem verdadeiras massas, porque as ciências modernas e suas investigações têm menos necessidade de cérebros que de batalhões de estudantes; e para isto eles satisfazem. A inteligência que é precisa para estudar uma profissão, mesmo acadêmica, não é tão grande como os leigos imaginam. É o regredir de uma elite à condição de massa ornada de títulos acadêmicos.


É preciso que se digam, aqui, algumas verdades muito impopulares e muito desagradáveis. Existe Inteligência e existem 'intelectuais'. Intelectuais são os médicos, os advogados, os funcionários superiores de toda espécie, os especialistas científicos de toda sorte. Mas deve-se dizer que somente uma parte desses 'intelectuais' pertence à Inteligência, que é, por seu lado, o resto dos 'clercs', da elite de outrora.


O resultado mais frequente da moderna educação universitária é um decidido adeus aos livros. Mais tarde, combaterão as 'línguas mortas' na escola. Enfim, declararão inútil todo o ensino secundário, com as suas ideias vagas e inúteis duma 'cultura geral'; talvez toquem, com isso, no ponto nevrálgico da discussão. Todo o problema espiritual dos nossos dias é, pois, um problema de falta de educação humanística, um problema pedagógico; e todo o problema pedagógico dos nossos dias é um problema da escola específica das classes médias, da escola secundária.


Nunca mais o jovem médico ou engenheiro ouve falar em história, filosofia, literatura, exceto pela imprensa ou pelo rádio, que se colocam ao alcance do espírito das grandes massas, pueris por natureza. Resultado: um espírito artificialmente preservado no estado pueril, com uma formação profissional superposta. Eles, porém, os iletrados, têm sempre razão, porque são muitos e ocupam um lugar de elite, esse 'proletariado intelectual', sem dinheiro ou com ele, isso não importa. Julgam tudo, e tudo deles depende. Leem os livros e decidem sobre os sucessos de livraria, criticam os quadros e as exposições, aplaudem e vaiam no teatro e nos concertos, dirigem as correntes das ideias políticas, e tudo isto com a autoridade que o grau acadêmico lhes confere. Em suma, desempenham o papel de elite. São os nouveaux maîtres, os señoritos arrogantes, graduados e violentos; e nós sofremos as consequências, amargamente, cruelmente".

É autor do blog Correio Chegou.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

idas.

Por Ana Paula Perissé




                                      imenso
                                      de ti
                                      há mar.


                                      intenso de nós,
                                      desvios de cais.


                                      ou montanhas sem cor
                                      desnudadas
                                      em versos
                                      palatáveis


                                      ( paralelos aos que já se foram)


                                      incensado
                                      às vezes
                                      que, por confins banais,
                                      não te senti.


                                      (foi-te)

domingo, 18 de novembro de 2018

sábado, 17 de novembro de 2018

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Tenho tanto para te contar

Por Nana Yamada




Pegue na minha mão
Sente e ouça toda minha história
Tenho tanto o que contar
Mostrar os caminhos que percorri
Até chegar ao teu encontro


Se for necessário
Enxugue as minhas lágrimas
E venha fazer parte da minha história
Vamos contemplar juntos
O brilho das estrelas


Se quiser conhecer
Te convido pra ficar
Vou te mostrar todas as coisas
Que o mundo reservou
Para nós…

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Terra no buraco

Por Fabio Ramos




seu
avô


só parou


de
avisar


quando morreu:


no
chão
do sítio


(ainda resgatarão)


um baú
que


NO PASSADO


foi
enterrado


pelo
seu
bisavô


(...)


fique
ciente


que o mesmo


inclui
ouro


e pérolas


(...)


seu
pai


(desdenhava)


sendo
assim


o tesouro é vosso


meu
neto


(...)


então pegou


na
enxada


e revirou o solo


como
TATU


num domingo


e
nada
localizou


(...)


outro
dia


(no meio do sonho)


veio
sua
indagação:


onde malocaram a bufunfa
meu velho?


(...)


o
nono
respondeu


com apenas um sorriso

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Cordel good

Por Denise Fernandes




Nasci em terras do Brasil

O duro de ser brasileiro

é morar numa colônia

o tempo inteiro

ter a Amazônia

e um litoral faceiro



Ter a língua portuguesa

e preferir o estrangeiro

comprar em Miami

inglês é mais ligeiro

chamar animal de pet

man o homem solteiro



Que chatice ser servo

caça humilhada

se a gente pensa

que vale nada

é covardia a batalha

perdida a espada



No campo e na cidade

se come cheese-salada

a farinha o feijão

valem quase nada

o povo tem saudade

de comida importada



Americano é melhor

em quase tudo

diz a lenda e o Trump

Brasil sem estudo

é trampolim e suor

lucro e escudo



Explorar a terra

destruir a cultura

semear a guerra

dizer que é feiura

nosso jeito e palavra

a falta de estrutura



Life style diz

a nova propaganda

e quem é aprendiz

descobre que manda

o político infeliz

carroça que não anda



Meu amor não é love

é força, raiz e sorte

Não é só quando chove

é mistério e morte

sem estrangeiro é norte

carinho que se move



Meu lar não é home

é pedra, pau e barro

copiar é ser sem nome

ter inveja do carro

da music do dólar

do loiro (oh yes) do sarro



Quero ser minha gramática

bandeira meu som

na minha terra inteira

levar a todos meu tom

sem comparar sem peneira

viver sempre o que é bom!