terça-feira, 6 de novembro de 2018

Geração pós-pílula

Por Maurício Perez



Na França, há um surto de mulheres abandonando a pílula anticoncepcional. Logo o produto que é visto como um rito de passagem para a vida adulta de muitas mulheres do Ocidente e também como símbolo máximo da libertação sexual. O que acontece?


Passados 50 anos do seu uso massivo no Ocidente, a poeira assentada, é possível ver as coisas com um pouco mais de serenidade. Os efeitos colaterais de um fármaco  que não é remédio para uma doença e que mexe com o delicado equilíbrio hormonal  são muito fortes para continuar sendo ignorados.


Já são vários livros publicados por mulheres no exterior contando suas experiências nefastas com a pílula (Sabrina Debusquat em J'arrête la pilule ou Holly Grigg-Spall em Sweetening the Pill: Or How We Got Hooked On Hormonal Birth Control). Há também o caso de Barbara Seaman, jornalista americana, que foi banida dos jornais onde escrevia, sob pressão da indústria farmacêutica, porque dava informação clara para as mulheres sobre os efeitos colaterais dos contraceptivos. Agora, todas essas mulheres contam com a ajuda de alguns grandes jornais; que passaram a dar espaço para o tema. O progressista Le Monde recolheu mais de mil testemunhos de francesas que largaram a pílula.


O momento crítico foi em 2012, quando 30 mulheres entraram na justiça contra 4 fabricantes da pílula, após sofrerem acidentes vasculares graves, embolias pulmonares e tromboses venosas. Elas tomavam pílulas de 3ª e 4ª geração, que são as mais modernas. Tendo em conta esse risco, o Ministério da Saúde francês decidiu suspender o financiamento que dava para fabricarem essas pílulas. Uma em cada cinco mulheres deixaram de usar esse método e migraram para o método Billings (natural) ou para o preservativo.


Já são muitos os estudos que apontam os efeitos colaterais: em 2006, o Mayo Clinic Proceedings apontou que o risco de câncer de mama cresce 19% em mulheres com menos de 50 anos que usaram a pílula. E para as mulheres que usaram a pílula antes da primeira gestação, esse risco de ter câncer de mama sobe mais 44% (um fato que costuma ser ignorado nas fofas campanhas do Outubro Rosa). Um estudo mais recente, de 2016, da revista JAMA Psychiatry, relaciona o uso da pílula com eventos mais frequentes de depressão e transtornos do humor. Isso para não falar em aumento de peso, fadiga e perda da libido.


Na França, uma mulher de 60 anos dialoga com sua filha de 30:
 Mas, filha, a pílula foi um instrumento de libertação da mulher da minha geração...
 Eu sei, mãe, mas eu quero me libertar também da indústria farmacêutica!


A pílula converteu a mulher em dona absoluta da fecundidade; que ainda teve que lidar sozinha com todos os riscos e problemas. Agora, por ironia da história, as que migram para os métodos naturais obrigam os homens a compartilhar o fardo das suas decisões.

É autor do blog Correio Chegou.

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