quinta-feira, 29 de junho de 2017

Olhos fechados

Por Nana Yamada




Fecho os olhos porque não quero sentir
Sentir um aperto no peito
Peito agoniado
Agoniado quando vejo você
Você que insiste em ficar
Ficar aqui dentro
Dentro que já não possuo nada
Nada mais pode ter sentido
Sentido que perdi
Perdi quando me envolvi
Envolvi com o amor
Amor que me ensinou tudo
Tudo foi quase levado
Levado para bem longe
Longe sei que está
Está tão presente quanto ausente
Ausente de você
Você que não quis
Quis tanto ser feliz
Feliz eu vou ser de novo
Novo caminho apareceu
Apareceu como um flash
Um flashback da lembrança
Lembrança que guardarei
Guardarei de olhos fechados.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Quanta ignorância!

Por Fabio Ramos




o SOL
que vinha
por LÁ


deu marcha RÉ


com pena
de SI


(...)


e o FÁ


pôs
a culpa na
MI?


(...)


ora
tenha DÓ

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pálpebras

Por Ana Paula Perissé




                                           Tal como o silêncio
                                           pleno de vozes
                                           de uma flor
                                           há superfícies macias
                                           superpostas
                                           do passado
                                           semente que se foi.


                                           Pétalas
                                           em pálpebras,
                                           extensões de nós.


                                           as flores nos reconhecem
                                           no mundo
                                           e a rosa
                                           respira
                                           nosso ritmo
                                           embriagada
                                           pela essência original
                                           de sempre.


                                           há um frescor
                                           nas palavras
                                           necessárias
                                           a dizer
                                           tal como um suave beijo
                                           de pétalas
                                           pupilas abertas
                                           reservadas de nós
                                           a sermos
                                           amantes.


                                           FALE-ME
                                           como o explícito diálogo
                                           do florescer.

domingo, 25 de junho de 2017

Brisa do tempo

Por Oswaldo Antônio Begiato




Primeiro era um banco
Frente ao mar calmo.
Sentados nele, calmos também,
Dois marinheiros,
Que dividiam a mesma alma,
Falavam de amores passados
Que nunca passaram.


O mais velho tinha um porto em cada amor,
O mais moço tinha um amor em cada porto.


Havia neles uma solidão
Que o mar não continha.


No dia seguinte era um banco
Impregnado de vazios,
E um navio à procura de um porto
Que pudesse lhes conter a alma.

sábado, 24 de junho de 2017

Fenômenos da natureza

Por Meriam Lazaro




Chico precisava desesperadamente de dinheiro. Sua mulher, Dodô, estava com maleita, após o parto do oitavo filho. Este, quase à morte por falta de leite e por não ter sido ainda benzido. A benzedeira morava rio acima e precisava ser trazida por um barco de aluguel, pois o seu estava com o casco partido. Até ali, Chico e seu povo, viviam do que o rio dava, mas com "a peste do cipó", como chamavam, os peixes haviam morrido. Boiavam como folha caída, com a diferença que havia um mau cheiro impressionante.


Foi assim que, contra os ensinamentos do velho "vô", se dispôs a participar da expedição à mata virgem, que agora via como a única fonte de sustento naquela região perdida de Deus. Lá na mata, onde as árvores e os animais reinavam absolutos até pouco tempo, se embrenharia junto com os outros homens e os instrumentos para trabalhar. Eram vinte e tantos homens, mais robustos ou mais franzinos do que ele, alguns tinham a timidez e a conformação com a sorte do caboclo ribeirinho, outros sonhavam enriquecer de alguma forma e ganhar mundo.


A seringueira, uma das mais altivas dentre as damas verdes, de longe avistou aqueles homens se aproximando como animais ruidosos. Já vira que aqueles instrumentos eram ferozes e destruidores, pois haviam serrado algumas árvores, repletas de cipós, inclusive timbó e, derrubado-as no rio com algum gás, envenenaram a água, matando os peixes. Coisa de humanos.


Chamou o tucano e outros pássaros para que urgentemente espalhassem pela floresta a notícia da aproximação dos homens com serras. A fala da floresta se dava desse modo, os seres de raízes, que não podiam se locomover, falavam com os animais de asas, se precisassem que a notícia fosse o mais longe possível, ou com os animais de quatro patas para divulgação pelas redondezas. Além disso, contavam, em último e grave caso, com os ventos para atravessar oceanos e clamar por fenômenos do outro lado do mundo.


A resposta veio de imediato, na forma de tempestade, raios, trovões... Chuva. Muita chuva. Choveu durante quarenta dias e quarenta noites, sem cessar. Era chuva grossa, chuva em pé, chuva deitada, fina que nem uma carícia, tempestades que fustigavam como uma surra demorada. Molharam toda a face da terra avistada em meio aquele verde antes fechado, que agora lá de cima as nuvens sombreavam desertas clareiras.


Encharcados, os homenzinhos enrolavam-se em lonas, mudavam de um lado para o outro, enquanto rezavam para que nenhuma árvore lhes caísse em cima. Não poderiam retornar, pois haviam chegado muito longe. Ali estavam protegidos dos olhos contrários a extração de madeira nativa e também de qualquer socorro ao se perderem. Alimentavam-se das castanhas que caíam, de pupunha cozida com sal que levaram consigo e de outras frutas que encontravam. Fogo não havia, pois a chuva não permitia mantê-lo aceso. Calor, somente o dos trapos que usavam para se abrigar.


Finalmente o arco-íris surgiu e as aves foram vistas em bando retornando às arvores centenárias. Seria a hora da derrubada para salvar a expedição, antes que os patrões não quisessem mais pagar-lhes pelo trabalho. Se alguns ainda tinham condições de trabalhar, o mesmo não acontecia com os que haviam adoecido. Mais da metade. Não dariam conta de retornar para casa. Além dos doentes, havia outros problemas. Como levariam de volta as toras se o rio estava muito cheio e suas águas descontroladas? E mais! Como encontrariam o caminho de volta em meio a tanta água e sem nenhum barco? Se ao menos houvesse um cachorro...


Chico fazia parte dos que já estavam doentes. E doente sonhava com as histórias do "vô" holandês, que contava das coisas lá de sua terra distante, do frio intenso, da neve que caía em flocos ou granulada, como era a luta pela sobrevivência por viver abaixo do nível do mar. Todos chamavam seu antepassado de "vô" por causa do seu nome que tinha Van e depois uma porção de sílabas difíceis de pronunciar. Com um frio que parecia impossível de cessar, lembrou-se da beleza dos fogos fátuos, ou "fogo corredor", que era avistado lá pelos pântanos, ou por cima do mundo dos mortos. Ali deveria ter calor, aquela luz azulada que o aqueceria e o faria subir mais alto do que estava por olhar acima da mata.


Seu velho "vô" agora o chamava, de abraços abertos, sorrindo. Foi ao seu encontro e ouviu dele: – Tenha certeza que a natureza é sábia e tem sua própria linguagem. Ela existe há milhões de anos e continuará existindo, além de todos nós, meu filho.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Perdoe-me

Por Nana Yamada




Perdoe-me
Se eu deixar de te amar
Se eu te deixar nas lembranças
Se eu deixar de falar seu nome
Se eu parar de pensar nesse amor
Se eu esquecer do seu rosto
Se eu esquecer do seu cheiro


  Perdoe-me
Não posso mais viver de ilusões
Não posso mais alimentar essa dor
Não posso mais te querer
Não posso mais implorar que me ame
Não posso mais deixar de viver
Não posso mais sentir isso


  Perdoe-me
Nada disso eu quis
Nada disso eu planejei
Nada disso foi a minha vontade
Mas meu tempo chegou
Chegou a hora da tristeza ir embora
Chegou a hora de ser feliz


  Perdoe-me
Se todo esse tempo te amei
Se todo esse tempo fui fiel
Se todo esse tempo te quis
Se todo esse tempo acreditei
Se todo esse tempo não desisti
Se todo esse tempo foi você


  Perdoe-me
Por esse amor ter brotado
Por esse amor me entreguei
Por esse amor eu vivi
Por esse amor eu morri
Por esse amor eu lutei
Por esse amor eu peço perdão

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Fevereiro, 31

Por Fabio Ramos




quem
pede


a sobremesa


antes
de
provar


o prato principal?


(...)


louça
de
porcelana


é
um


MIMO


reservado aos
visitantes?


(...)


por que
abrir
champanhe


somente
no dia


de São Nunca?


(...)


algo
lhe
impede?


SIM e NÃO


dependendo de
quem responde


à
essa
pergunta

terça-feira, 20 de junho de 2017

Falta

Por Denise Fernandes




silêncio na montanha

pequenas flores catando o vento

​sua falta é ainda presença

rocha, terra calma

sem fim definido

segunda-feira, 19 de junho de 2017

ao homem blasé

Por Ana Paula Perissé




                                       Vem!
                                       Turvar-me de ardor
                                       em reticências
                                       prolongadas vozes silenciosas
                                       monossílabos pronunciados
                                       de pronto.


                                       (livre e nu
                                       de palavras
                                       minha solidão se inquieta)


                                       Vem!
                                       Dançar comigo
                                       no retilíneo acorde
                                       sôfrego,
                                       ao fundo...
                                       Respira! Arfa!
                                       Suspira!


                                       Vem!
                                       Dizer-me
                                       que te ardes calado
                                       ou quieto, pleno de mim
                                       um desejo de ir-se
                                       sem me ter
                                       querendo se fazer
                                       uma só carne
                                       tórrida
                                       desfigurados de nós.


                                       (Uno ao silêncio)


                                       Grite!
                                       como no movimento eloquente
                                       do teu espaço
                                       Subamos!
                                       paredes com tua elegância
                                       ardências ditas por teu olhar
                                       errante


                                       Venha!
                                       Morreremos imensamente
                                       a cada instante
                                       intensos
                                       sem palavras
                                       do nosso ritmo dito
                                       clamado
                                       em acordes surdos
                                       de tudo
                                       nosso
                                       guardado.

domingo, 18 de junho de 2017

sábado, 17 de junho de 2017

O segredo

Por Meriam Lazaro


Imagem: Vincent van Gogh


Sentia o cheiro de pinho e da grama orvalhada, ladeando o caminho de cascalho. Havia o casal de mãos dadas no jardim. Ele, chapéu cor de palha, pescoço e rosto combinando com a calça verde clara. Ela, bolsa na mão, vestido musgo fazendo par com o terno do poeta.


Ouviu um som, seguido de instantes de torpor. Seus pés afundavam no mangue enquanto suas mãos seguravam as raízes aéreas. Diminutos caranguejos fugiam em direção à margem, para a qual ela seguia. Era tudo visão e olfato. Até o odor que vinha dos dejetos, em meio às touças de bananeiras, trazia boa sensação. Não lhe chegara ainda o mundo de palavras para censurar os sentidos.


Novamente o som da campainha, não mais do interfone, e sim da porta do apartamento. Procurou ao lado da cama o controle remoto inventado especialmente para ela.


Num tempo diferente daquele do carrilhão da sala, enquanto a fisioterapeuta subia as escadas, sentira-se menina em meio ao sonho, caminhando para além do quadro na parede. Esse seria possivelmente o segredo, com que o cérebro lhe recontara a longa passagem de vida em poucos segundos – o mesmo que diziam às pessoas que tiveram experiência de quase morte.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

O paciente

Por Mayanna Velame




Abriu a porta do consultório e deitou-se no divã. Exibia um rosto cansado e abatido. Tentava, de alguma forma, encontrar forças para desabafar tudo aquilo que sentia. Coração pesado. Olhar malogrado. O silêncio era imponente entre o paciente e seu analista.


No tique-taque das horas, nenhuma palavra saía dos lábios daquele cidadão contrito. A verdade é que não havia nada a ser declarado. Suas mãos mostravam-se calejadas. Os ombros encolhidos revelavam a falta de autoestima. Diluído em suas corrupções, ele olhava para o analista como se pedisse ajuda. No entanto, nosso cidadão estava sem voz, sem força e sem ânimo.


Por outro lado, o analista (com seus óculos de lentes arredondas) o esquadrinhava; buscando demonstrar seriedade. Observações à parte, era nítido que aquele paciente atravessava uma crise interna grotesca. Seu psicológico percebia um abalo. Suas estruturas estavam completamente comprometidas. O analista sabia que aquela omissão simbolizava resquícios de ambição, ganância, egoísmo e mentira.


No entanto, o paciente precisava de ajuda. Queria, de algum modo, livrar-se de suas transgressões. Gostaria de ser íntegro e, ao menos, compactuar suas atitudes com a ética e a moral. Pensamentos, ideologias, erros e acertos. O paciente engolia a seco sua falta de palavras. Sôfrego, tentou enxugar as lágrimas. A decepção o dilacerava. Diante do futuro, sua esperança lhe parecia quase nula.


Alguns minutos depois, o paciente se levantou. Tétrico, afastou as cortinas da janela e passou a examinar o dia. Lá fora, chuviscos umedeciam o asfalto. Pessoas cruzavam a avenida e carros dobravam as esquinas. O paciente, então, pensou: "A vida com seus malfeitores, países entregues ao desgoverno". Exausto, retornou ao divã. Desejou tornar-se um sabiá para gorjear pelas palmeiras. Tinha certeza que, dentro de si, havia um céu estrelado, várzeas a florescer e bosques resplandecentes em vida.


Confuso, o paciente fitou as mãos do analista. Viu que elas eram calejadas como as suas. Ambos se entreolharam. Cada um reconhecia a dor impregnada em seus respectivos corações. Fatigado, o analista perguntou: "Qual é seu nome?". Envergonhado, o paciente respondeu: "Meu nome é Brasil, e o seu?". O analista disse: "Pode me chamar de povo". No resto da tarde, paciente e analista permaneceram dialogando a respeito da vida, dos fantasmas, das fraquezas dos homens e dos sonhos ainda possíveis.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Te amo por mais um dia

Por Nana Yamada




Pai,
Em Ti eu acredito
Em Ti eu deposito confiança
Em Ti eu descanso
Em Ti eu me entrego
Preciso de Ti todos os dias
Perdoe meus pecados, minhas falhas,
Meus medos, meu egoísmo, minha teimosia…
Perdoe-me por me ausentar
Perdoe-me se te deixei quando me chamou
Perdoe-me se falhei, por favor, ensina-me a fazer o certo.
Ensine-me a ser melhor.
Guie-me através de Sua luz
Deixe-me continuar a ser Sua serva
Pai, tenha total autoridade sobre minha vida
Não posso me afastar de Ti
Puxe-me de volta para Seus braços
Chame por mim novamente
Estou aqui
Não me abandone
Eu conheço Teu coração,
Não há nada que possa ser comparado
Não há ciência que possa explicar
Não há teologia para traduzir
Não há nada igual
Não há nada maior e melhor
Teu amor me acertou de primeira
Teu amor é o único amor que conheço
Foi através do Teu amor que aprendi o significado
E o poder dessa palavra
Pai, enche-me de Ti
Venha cuidar de mim
Sou novata por aqui
E desconheço o mundo em que vivo
Pai, aceite minha oração
Que faço do fundo da minha alma
Pai, meu Deus…
Te amo por mais um dia.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Vento em movimento

Por Fabio Ramos




galhos
em
agitação


enquanto
os pássaros


batem em retirada


(...)


esse vento é
melodia


um
assobio
nessa direção


e
as folhas
despencam dos
galhos
em


seu tributo


(...)


que
o vento
una corações


e
sopre
as
iniquidades


para
bem


LONGE


(...)


que
assim seja


AMÉM