quarta-feira, 31 de julho de 2019

Muito sentido

Por Fabio Ramos




(mistério)


vem
do
latim


MYSTERIUM


que
significa


OCULTO OU INICIADO:


e deixa
de
ser


mistério
quando revelado


(...)


(intriga)


vem
do
latim


INTRICARE


que
significa


ENTRELAÇAR OU EMBARAÇAR:


e torna-se
um


FATO


se
for
confirmado


(...)


(segredo)


vem
do
latim


SECRETUS


que
significa


À PARTE OU ISOLADO:


e vem
de


(dentro)


e
causa
rompimentos


quando
revelado

terça-feira, 30 de julho de 2019

Sagitário

Por Denise Fernandes




O fogo interior das ideias. A política. A religião. A organização. A administração. O fogo interior dos projetos. As viagens para o estrangeiro. O progresso, o desenvolvimento.

A sabedoria. O aconselhamento. As universidades e os cursos de pós-graduação. Os músculos. O fígado, a vesícula e as vias biliares. Os ombros. O olhar a longo prazo. Os objetivos.

O desenho, a fotografia. O gerenciamento. A programação. O conhecimento organizado. A preguiça. Nossa capacidade de adiamento. Tudo aquilo que é grande.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

catadora de absurdos

Por Ana Paula Perissé




                                          sou catadora de palavras
                                          encantadora de absurdos
                                          num céu ensimesmado de
                                          palidez oblíqua


                                          sou tua
                                          e sou nada
                                          só e despencada
                                          de lonjuras inadequadas


                                          sou feto, encurvado
                                          velho
                                          nos galhos de uma árvore
                                          que me acolhe
                                          como órfã
                                          do poema
                                          que ainda não me vem
                                          tampouco me toma
                                          com o ardor
                                          que te anseio


                                          ;
                                          ereto

sábado, 27 de julho de 2019

Sem nada dizer

Por Meriam Lazaro




Cresceu em francês,
sua língua-metade,
ouvindo Piaff na vila, no morro.
Fez-se melodia, mulher e vontade
à margem do livro, que sempre levou
na fila, no bar, na missa, no trem
grudado consigo.


Mirou-se na capa,
reconheceu a autoria
do poema, o significado.
Palavras recontadas,
versos tangidos ao meio,
um velho senão do novo mundo.
Oferta em demasia, vagos cordéis,
metáforas que crescem no jardim sem nada dizer.


Teve o sol em suas mãos, jardineiro e flor.
A autenticidade dos lírios.
Brancos como
devem ser
fantasmas nos becos,
seus passos em cruz,
a lavra dos dedos,
gatos no lixo de latas vazias.


Já passa das seis!
No céu vazado em luz,
nem ela, nem Ave Maria,
a implorar o silêncio cansado
de aves que voltam pra casa,
livres, em asas de nunca sofrer.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Cacos

Por Mayanna Velame




Quebre-me
em pequenos pedaços.
Dos meus cacos,
reinvento um vaso de flores
para te decorar em mim.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Minha casa, minha vida

Por Fabio Ramos




sabe aquelas
tralhas


que
são
enfiadas


DEBAIXO DE UMA ESCADA
na garagem


ou
no
quartinho dos
fundos


e
você
nunca precisa?


(...)


veja
bem


quando é


que
esse
entulho


finalmente será levado?


até
quando


isso
ficará
tomando espaço?


(...)


sabe aqueles
medos


que
são
varridos


PARA DEBAIXO DO TAPETE
do armário


ou
da
mesinha de
centro


e
você
nunca recolhe?


veja
bem


quando é


que
a sujeira


finalmente será limpa?


até
quando


isso
ficará
contaminando


a casa?
a alma?


A CALMA?

terça-feira, 23 de julho de 2019

Escorpião

Por Denise Fernandes




As águas de um lago, com sua superfície iluminada. São as águas das profundezas da alma. Na aparência, a calma da superfície das águas de um lago. Na profundidade, o mistério que não se revela na aparência. A alma com todos os seus mistérios.

As intenções. A vida interior. Os desejos. O sexo, e seus mistérios. A falta de controle que sentimos (em relação à nossa sexualidade). A espiritualidade, relacionada ao sexo.

A arqueologia. A psicologia. A pesquisa científica, relacionada à observação. A busca pela Verdade. A transformação, a metamorfose. A morte e o renascimento. A mortalidade, essa realidade com a qual temos que conviver, e que nos define.

A profundidade, o indizível. A regeneração. A força interior. Os olhos e os ouvidos. Os genitais. O olhar, e tudo que ele transmite. A força de um olhar.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

esquivas

Por Ana Paula Perissé




                                        transpassam-se ausências
                                        em cada recanto
                                        de mim
                                        presenças tão marcantes
                                        que me tiram o sono
                                        e o juízo de ser


                                        uma menina
                                        apenas
                                        à beira de nossa
                                        enseada


                                        rastros e espera,
                                        amor de pupilas.

domingo, 21 de julho de 2019

Dique

Por Oswaldo Antônio Begiato




Quando eu pensar em ti
E minha boca se esgotar em saudades,
(Tu sempre saberás com uma eternidade de antecedência
quando minha boca estiver se rompendo de saudades) Venhas!


Venhas e venhas logo, mulher!
Tu não sabes o quanto sofro nessas horas,
De mais sincera angústia,
Com tua ausência inexplicavelmente infinita,
Infinitamente inexplicável.


Há uma dor que vem de dentro de meus vulcões,
Corrói toda sanidade que trago nos olhos
E jorra boca afora como se fossem serpentes
Se misturando às minhas multiplicadas línguas,
Línguas na saudade estupidamente esculpidas.


São beijos quentes e não dados
Que o tempo acumulou nos bueiros que me habitam
E meu corpo não suportou conter dentro de si,
Brasa que são à busca do oxigênio de seu hálito.


Quando eu pensar em ti, pois,
E minha boca se esgotar em saudades,
Venhas e venhas logo, mulher,
Com a boca dilatada e afogada em generosidades,
Porque só tu podes hospedar
Os beijos que eu nunca quis que fossem de mais ninguém.

sábado, 20 de julho de 2019

Sem saber o que dizer

Por Meriam Lazaro




A pena daqui voou.
Partiu como quem sonha,
outro lugar ou ventre
para nascer discretamente,
despida da mesmice
e dos olhos rasgados
que projetam de si
a visão no espelho.
Sem saber o que dizer
a palavra escorregou
pela garganta aberta
que a doçura desposou.
Fez-se cerne, fez-se chuva,
silenciou no vazio
como joia em outro seio,
na vertente se perdeu
sem saber nem a que veio.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Calmaria

Por Mayanna Velame




O silêncio abre as cortinas da sala. Por alguns instantes, permito que o vento me abrace. Vou no vai-e-vem da cadeira de balanço. Meu corpo pesado, agora leve, é desprovido de tempo e espaço. E a minha mente, antes cansada, festeja a constatação: o vazio é tudo aquilo que preciso.


O silêncio inicia as horas. O tique-taque do relógio já não me acossa. Como é bom assistir o balé dos ponteiros. São passos bem ensaiados que, embora tristes, exibem a vida em mim.


Na calmaria do meio-dia, pouco me importa o que virá. Pressinto a correria dos estudantes ao redor da esquina. Longinquamente, a buzina do sorveteiro é canção nessa tarde azul fumegante.


Lá fora, o cotidiano avança. Os pássaros gorjeiam melodias que ninguém se atenta em ouvir. No entanto, eu ouço a pulsação da existência. E, com ela, proclamo os ruídos vespertinos: o tilintar de talheres e copos (anunciando o almoço do vizinho), o latido dos cães (alertando o movimento de transeuntes) e o avião entre as nuvens (exaltando a partida de alguém).


Quem vai, um dia volta. Nem que seja como recordação: nas páginas relidas, nas palavras nunca ditas ou nas fotografias perdidas. Na calmaria que sinto, a tarde se aninha em mim  serena e pacífica. Enquanto isso, um casal de idosos senta no banco da praça. Ao esperar a vida, eles adormecem. E nossos sonhos fazem o mesmo...


Silêncio não é omissão. Ele é o grito maior, a rebeldia que expressa educação. Calmaria é ser sutil na hora da dor. Calmaria é navegar em tempestades.


O relógio completa as horas e, mais uma vez, condiciono minha vivência ao tempo. Deixo a cadeira de balanço. Esse fantasma interno só representa o vazio. Fujo das obrigações. Renego deveres. Para haver um amanhã, prezo pelo hoje. Do meu desvario, abro a janela. O entardecer se apresenta feito um lençol maculado, enfeitado de purpurina. Enquanto isso, o sapo coaxa no mato. Ele é tão solitário quanto eu.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Que eu ainda

Por Nana Yamada




Ajude-me a esquecê-lo
Sem sentir que está me deixando
Sem sentir que algo vai deixar de existir
Faça-me esquecer
De tudo aquilo que me fez viver
Que me fez sentir como nunca
Da maneira que me fez sorrir à toa
Apague e leve tudo isso
Não tenho espaço para nada
Que não venha d'Ele
Que não seja real
Só permaneça, agora,
Caso sinta, caso perceba
Que eu ainda estarei aqui…

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Miau

Por Fabio Ramos




a luz apagou


no
palco
ILUMINADO


para acender no palco celeste


(...)


Deus
chamou


Alberto Gattoni


para
comandar


(o sarau das moradas eternas)


(...)


Homero
Dante
e Camões


AGORA PODEM RECITAR


e
até
o poeta


sem
fama


(também declama)


pois
no
céu


todo mundo tem


valor e
voz


(...)


São
José
de Anchieta


Santa Teresinha do Menino Jesus


e São João
Paulo II


(entoam seus versos)


e repassam
à plateia


alguns
livros que
JOSÉ CARLOS RODOLFO
sorteia


(...)


os anjos
e os


(bem-aventurados)


sorvem
cada
poema como
vinho


e aplaudem o anfitrião


cujo
nome


rima com PANETONE

terça-feira, 16 de julho de 2019

Libra

Por Denise Fernandes




A busca do equilíbrio, e o equilíbrio. A beleza, e a busca da beleza. O ar da brisa, que nos refresca. A delicadeza.

Pensar nos outros, colocar-se no lugar dos outros. A gentileza e a boa educação. A moral. A arte, e o artista. A obra e o público. A justiça, e a busca pela justiça. As leis, e as regras de comum acordo.

Tudo aquilo que nos faz querer estarmos juntos. As sociedades, as parcerias. O casamento, com todas as associações e as comunhões que ele traz. A dança, e as artes plásticas.

O equilíbrio interior, e fora de si mesmo. A generosidade dos relacionamentos. A virtude do sacrifício pelo outro.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

trova em contralto

Por Ana Paula Perissé




                                          de minha trova surda
                                          resta-me o silêncio
                                          eloquente


                                          resta-me um pouco
                                          de minha vida
                                          em murmúrios


                                          se te falar
                                          em solidão
                                          apenas
                                          e um girassol a me sentir
                                          sou plena


                                          sou-me quieta
                                          mas intensa
                                          de rasgar-me em vozes
                                          surdas


                                          contraltos em almas
                                          vagantes