domingo, 31 de janeiro de 2021

Adormentar

Por Oswaldo Antônio Begiato




Porque a pele é fina
e o osso fraco
qualquer batida dói
e incha e incha...


Porque a alma é leve
e a mente fraca
qualquer culpa dói
e pesa e pesa...


O corpo imenso
não cabe na cama
miúda de solteiro.
Volta e meia
ele escapa dela
durante a noite
levando junto a alma.


Não sei para onde vão.
Só sei que quando voltam
a alma vem
com um jeito diferente,
assim como quem acabou
de ser desvirginada.
Aí ficam juntos os dois,
alma e corpo,
num encontro só
me deixando abandonado.


Essa é minha tristeza sem fim
e só eu sei dela.


Viver não é tarefa fácil.


Quando eu morrer
quero pois que digam:
- Ele já foi tarde!

sábado, 30 de janeiro de 2021

Face a face

Por Meriam Lazaro




Encontro-me frente a frente
com minha face ferida,
nesse espelho, quem sabe,
em outra me vejo banida.


Neste desejo terçã,
febril de ti esquecida,
flutuo serpente e maçã
sem paraíso remida.


Antes que o dia acorde,
em uma estrela perdida
aceno pra mim distante,
como se fosse outra vida.


Recorte de um amanhã
onde não vejo guarida,
reservo-me guardiã
de outras cores despida.


Pedaço de lua nascente
pelo céu caio atrevida,
fogo e êxtase cadente,
desfolhando margaridas.


Escondo a face com as mãos
em gesto tão sem saída,
na cinza das horas vãs
sou eco de despedida.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Eu preciso de Ti

Por Nana Yamada




Sei que Deus está comigo.
Sei que Ele não falha.
Meu Pai, meu Rei, meu Herói...
Tu és a minha força e o meu ar.
Deixe-me viver para Ti.
Entre na minha vida.
Oh, meu Deus, cuide de mim.
Sou sensível demais, sou fraca demais
Para suportar tudo sozinha.
Eu preciso de Ti todos os dias.
Muito obrigada por tudo,
Amém.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Telefone sem fio

Por Fabio Ramos




ouviu da


boca
dela:


CARMEN


tira
uma


(cabra daqui e)


Eva
gaba


SIM, SENHOR


diz
Maia


(e que se dane ela)


pau


TINA MENTE

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Sylvia

Por Denise Fernandes




No dia 3 de janeiro de 2021, partiu Sylvia Leser de Mello. Para mim, foi a melhor professora que tive no Instituto de Psicologia da USP. Ela era um poço de conhecimentos: Filosofia, Psicologia, e uma ampla cultura literária. Sempre me estimulando a ler, estudar, pensar, sentir.

Todas as minhas perguntas eram respondidas com dedicação. Ela ampliava meus horizontes. Muitos colegas de faculdade me achavam o cúmulo da "cara de pau". Mesmo chegando atrasada na aula, eu me dava o direito de fazer perguntas à professora. Depois de atravessar a cidade, pegando dois ônibus e demorando duas horas (ou mais) para chegar à universidade, minha mente chegava às aulas como uma panela de água fervente; pronta para o macarrão do conhecimento.

Tinha e tenho tantas dúvidas. O tormento que elas causavam me impedia de ter vergonha de perguntar. Realmente, eu precisava interagir com os professores. E a Sylvia, mais que outras professoras, transformava minhas dúvidas em reflexões, novos conhecimentos e pensamentos.

Sempre senti uma grande admiração por ela: seu jeito feminino (sem ser "perua"), sua sensibilidade acentuada (sem ser "chorona"), seu refinamento intelectual (sem ser "hermética"). Não havia nela a frieza intelectual de tantos acadêmicos.

Mesmo pensando que ela é uma daquelas pessoas que se realizou plenamente na vida, é triste saber da sua morte. Por que há, na despedida, uma saudade eterna? Eis outra pergunta que fica sem resposta.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

dia 1

Por Ana Paula Perissé




(vc precisa ser muitaz)
.
de onde mora medos e dores,
visto meu saiote diáfano
e provoco. e respiro. não quero mais saber
se ainda finge estrelas em teu corpo nu:
do 1 ao instante, é pura imensidão
outra.
.
´so quero o relevo altivo dos dias.
a brilhar no sorriso à varanda.
sem mais brumação
ou afasias.