quarta-feira, 31 de julho de 2013

Apertamento

Por Fabio Ramos
 
 


taís
dança tango
sapateia
no
chão
de taco
 

seu
antonio
do 6º
entra em
pânico
 

melissa
do 8º
tira pó da
mobília
i
elimina
teia
com rabanada
de cabelo
 

do 12º
pula pro
14º
(não
existe
13º andar)
 

rubens do
15º
cria um
doberman
no
apertamento
i
leva ele
pra cagar nas
redondeza
i
não recolhe
fezes
 

visão
da
cobertura
tapeia
dona stella:
 

ela
confunde
pedestre com
formiga
 

terça-feira, 30 de julho de 2013

Black Bird

Por Denise Fernandes

 

         Na rádio da minha cabeça toca há dias "Black Bird". Cantarolo a música e faço um refrão com o mesmo inglês que tinha aos seis anos de idade. É difícil segurar o riso com a cena. O Lucas procura a música na internet e põe pra gente ouvir. Coloco o vinil do "Abbey Road" e ouvimos. Beatles forever. Eu também atravesso na faixa com os Beatles, estou quase na capa do disco.

         Mas mesmo com muita música, o Black Bird ficou insistindo, solitário, na minha memória. Talvez seja porque tenho uma asa quebrada. Da janela olho o mundo. Ele passa sem banda nenhuma e não sou Carolina. Sou tão parecida com esse black bird, que sinto que saí da boca dos Beatles, de suas mãos sábias, tenho vários lados meus que são canção, que escuto no silêncio da minha alma.

         Na feira livre que frequento, o pássaro preto empoleirado vigia e alegra a barraca dos temperos. Livre, solto, mas preso aos seus afetos, o casal que o alimenta, acaricia. Da casa para a feira, da feira para a casa. Enquanto sua dona muda seu cabelo de um tom alaranjado para um mais alaranjado ainda, o pássaro estável, tão frágil e tão profundo, o pássaro preto nos aguarda.

         Tive um vizinho que ouvia todo dia, num período de alguns meses, a música "Black Bird". Ele gostava de ouvir alto, ele no décimo andar, eu no nono, o quarto dele em cima do meu. Enquanto ele teve essa fase "Black Bird", eu também tive. Depois do primeiro mês, eu já esperava a música tocar. Fazia parte do dia. Como uma emoção. Um dia alguém me deu uma frase de um poeta chamado Tagore. A frase dizia que Deus gostava de mim quando eu rezava, mas gostava mais ainda de mim quando eu cantava.

         Acho que é porque uma parte da alma do homem tem tudo de pássaro e voa. Talvez alguns homens tenham alma de pássaro preto mesmo. Pode ser que haja também um coração de pássaro dentro do meu peito. E uns ovos para colocar. Pode ser que, nessa parte que ainda em mim sangra, haja muitos ovinhos capazes de gerar pequenas plumas cercadas de olhinhos. Enquanto eu penso estar na minha casa, estou num ninho. E é por isso que o pássaro preto ainda está aqui.
 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

vida ao contrário

Por Ana Paula Perissé
 

Imagem: Ana Paula Perissé
 

                                        vida ao contrário:
                                        encontros à mediatriz
                                        efeméride
                                        tão longa
                                        quanto desejos
                                         de eclipses /

                                        Soturno

                                        eferverscência
                                        ao meio
                                        como se fosse déjà vu
                                        em temporais
                                        insanos
                                        a cada mudança
                                        mundana de ciclos/

                                        Sinfônico

                                        existir apenas o possível
                                        escolher estritamente o necessário
                                        para colorir
                                        em chamas
                                        o broto envelhecido
                                        de todos nós/

                                        Vivente

                                        (em semi-dodecafonia.)


domingo, 28 de julho de 2013

Poesia II

Por Érika Batista
 
 


                            A poesia, hoje, só fala de sexo ou morte.

                            Merda!
                            É, merda sim, merda.
                            Pelo menos é algo diferente. 

                            Parece que quanto mais figuras de linguagem
                            mais poético é.
                            Chega de tanta sinestesia
                                        de tanta anestesia
                            Na nossa razão 

                            Ilogismo não é igual subjetividade.
                            Só porque eu não entendo algo,
                            não quer dizer que ele seja profundo.
                            Isso é a roupa nova do rei! 

                            Eu quero escrever no sentido Denotativo
                            D, de dicionário
                            E se você não me entender
                            É porque eu posso estar querendo dizer outra coisa...
 

sábado, 27 de julho de 2013

O Copo que Filosofava

Por Meriam Lazaro
 
 
Era um copo de garrafa verde cortada. Cabia nele um mundo de especulações, ideias e soluções para qualquer espécie de problema. Quando à mesa, acompanhava o passar das mocinhas sorridentes, que andavam aos pares, trios, quartetos, cheias de assunto e muita alegria, lançavam olhares furtivos e se retraiam como convém à idade de menina-moça.

O copo topava todas. Cheio até a borda das mazelas do mundo se empenhava em destilada filosofia. Suas anedotas, declarações e discursos (copos adoram discursar) eram a graça do lugar até certa hora. Depois de trair e ser traído, lá pelas três da madrugada, ninguém mais ouvia ou se importava com o copo. Era a vez da vassoura e do “pé-na-bunda”. Do contrário, o copo amanheceria como de fato amanhecia.

Um dia o copo foi atravessar a rua e conheceu uma taça, que se dizia poeta. Apaixonaram-se à primeira gota. Com o tempo, era tanta lágrima que o copo foi se enchendo e transbordou. Foi assim que caiu num bueiro, até que reciclado virou CD. As canções? Nem se fala...


sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Escritor

Por Mayanna Velame

 
Um conto para escrever. Personagens a serem criados. Palavras para cativar. No entanto, minha mente apenas flutua. Acendo um cigarro, inspiro um pouco de ar que ainda me resta. No computador, a tela em branco. Passeio meus dedos entre as suas teclas, folheio dicionários, afago os cabelos. Meu gato, sobre o peitoril da janela, esquadrinha-me. Tento acariciá-lo e sua reciprocidade enobrece o meu coração. Diante de nós dois, a cidade e suas luzes iluminam as ruas vazias. Vozes longínquas ecoam em meus ouvidos. No céu, um avião se esconde entre as nuvens ruborizadas. Gostaria de vê-lo novamente, mas é tarde, ele já foge para seu horizonte.

Uma lufada de vento aviva minha alma. Sinto-me inquieto e meu gato eriça seus pelos. Estamos vivenciando a solitude noturna. E, de certa forma, somos companheiros um do outro. Parece que estamos conhecendo as angústias que nos redimem nesta noite. Estou cercado de palavras, porém não me sinto disposto para convidá-las a ingressarem no meu conto. Devo obrigá-las? Devo subjugá-las? Não sei...

Um conto para escrever. Agora, o gato sentado no meu colo, acompanha os movimentos desenfreados dos meus dedos sobre a tecla do computador. Seus olhos esbugalhados e as pupilas dilatadas me deixam eufórico.  Escrevo, penso, penso, escrevo!

A noite se alonga, fantasmas me abraçam. Sinto um calafrio. Escrevo, penso, penso, escrevo! Palavras tomam posse do espaço em branco da folha. Escrevo, penso, penso, escrevo! Sinto-me cansado, meus olhos ofuscados sentem um imensurável desejo em dizer adeus. Não, ainda é cedo, preciso terminar este conto. Antes que as sílabas que formam as minhas palavras morram e desapareçam junto com o meu coração...
 
 
O escritor desperta, os raios de sol que penetram pelas venezianas iluminam sua cama como fogo. Contrito, ele se levanta, segue em passos curtos, esfrega os olhos, boceja, tenta se dirigir ao banheiro. Mas, de repente, algo inesperado lhe acontece. Seu gato debruçado sobre o teclado do computador, digita sem parar as seguintes frases: escrevo, penso, penso, escrevo!
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Explícito

Por Rayane Medeiros
 
 


                              Eu não lhe quero versos,
                              Nem palavras de amor eterno.
                              Quero teus puxões em meu cabelo;
                              Teu amargor em minha boca;
                              Teu fluído instigando o meu...

                              Quero teus pelos me arranhando a cara;
                              Tuas mãos marcando a pele;
                              Teus lábios pressionando os meus.

                              Eu não lhe quero versos,
                              Nem promessas dissimuladas.
                              Quero tua carne me rompendo –
                                                             Corrompendo-me;
                              Teu pudor se dissipando ao meu.
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Colóquio

Por Fabio Ramos
 


um fala
outro ouve
 
um para
outro retoma 

lábios
sem mover
agora
é a sua vez 

como no
jogo
de
xadrez 

ofereça
algo
tão
sublime
quanto silêncio 

ouvinte
que sorve cada
palavra
 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Sentimentos

Por Denise Fernandes



                          sentimentos surdos-mudos
                          meu coração é uma bandeira sem sinalização
                          seu coração é um vento que me sacode
                          sinistro.
                          insisto na solidão
                          que é uma ordem.
                          ninguém me arruma.
                          permaneço essa desordem
                          instaurada em minas, fontes
                          temo pelo futuro
                          como se não comesse há dias
                          meses e um furacão de anos.
                          sou uma pobre mortal
                          e meu coração é uma fumaça branca
                          sem duração.
 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

lemancolia

Por Ana Paula Perissé
 
 
Imagem: Ana Paula Perissé
 
 
                                           (tava difícil de ser
                                           um algo entre o mundo
                                           e o aí,
                                           tardio)

                                           sentidos que sobrevoam.

                                           então pode ser.
                                           tudo reduzido à 1´
                                           imponderabilidade

                                           obras.

                                           ( e elas dormem
                                           ao que tudo chega
                                           múltiplos de zeros)

                                           não se esgota libido
                                           lança-se
                                           por vezes
                                           às margens
                                           de ser

                                           >>>> algo.
                                           lago.

 

domingo, 21 de julho de 2013

Poesia

Por Érika Batista
 
 



                                Nem mesmo sei que rumo toma a poesia

                                Pego a caneta e ela sai, linha a linha

                                O cérebro forma as palavras,

                                Mas não interfere no conteúdo

                                Não controla a sua hora

                                O texto não é pontual

                                Sai no momento que quer

                                Trava ao luar e à maré

                                Interrompo o que estiver fazendo

                                Pego a caneta e vou escrevendo

                                A poesia é independente, dona do próprio nariz

                                (mesmo que nem todas o tenham)

sábado, 20 de julho de 2013

Brasilidade

Por Meriam Lazaro
 
 
 

Hoje venho aqui contar
Um segredinho a vocês,
Que eu resolvi aprender
Uma coisinha por mês,
Mas pra que nada me impeça
Todo caminho começa
Um passo de cada vez!


Basta ter a mente aberta,
Que até sonhar se aprende.
O saber nunca se perde,
Sei que o poeta me entende.
Convido a uma aliança:
Vem comigo ser criança!
Quem é vivo não se rende.


Mas, por favor, atenção,
Pois vou falar bem baixinho...
Diante de tanta escolha,
Por que escolher sozinho?
Foi aí que ouvi do céu:
Aprenda a fazer cordel,
Que é flor, mas sem espinho.


Se foi do bem ou do mal
A voz que se anunciou
Agora já não importa,
Ao coração conquistou.
O que é de grande monta,
Pois de promessa ou conta
O outro minha alma levou.


Que os repentistas perdoem
A minha falta de jeito.
Cordelista eu não nasci,
Mas tentar não é defeito.
No Sul levo a boa sorte,
Mas como filho do Norte
Trouxe a estrela no peito.


Sete sílabas por verso...
Tradicional redondilha.
Sete linhas por estrofe,
Derivação da sextilha,
O cordel lá no Nordeste
Sustentou cabra da peste
E toda a sua família.


Eis tentativa e erro.
Não quero ser um estorvo.
Sopre Deus, brasilidade,
Em nós um fôlego novo
Pra enriquecer nossa história,
Não dar azo à má memória,
De uma arte de um bom povo.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Flechas e Espadas

Por Mayanna Velame
 


                    Eu queria muito poder te amar,
                    Escrever as melodias mais singulares...
                    Te ofertar as nuvens mais belas... 

                    E, num balão colorido...
                    Pediria ao vento para nos soprar
                    aos seus mais longínquos lugares.
                    Eu queria muito poder te amar...
                    Mas será que eu deveria? 

                    Porque, se algum dia, tu caíres do céu...
                    Eu iria te engrandecer e te edificar – forte e inabalável.
                    Assim como as Muralhas da China e a Cordilheira do Himalaia. 

                    Eu queria muito poder te amar...
                    Mas as horas são como flechas, lançadas a favor do tempo.
                    E o meu coração tétrico...
                    Vendo teus lábios sendo possuídos e acariciados,
                    apenas te segue na distância – espada mortal...
                    Que divide um principado em dois reinos remotos.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Suicida

Por Rayane Medeiros
 
 


                                 De não mais aguentar
 
                                 A angústia que pendia dos ombros e
 
                                 Não cabia nos versos poucos,
 
                                 Pôs a corda no pescoço e
 
                                 Deu fim à vida que já nem vivia.
 
                                 – Antes morto que infeliz.
 
                                 Pensou enquanto se debatia.
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Olhar Analógico

Por Fabio Ramos
 
 

 
muro
com
(se muito)
um
metro 

geladeira
é
azul
fogão é
azul
armário é
azul 

malt 90
no
copo 

vitrola
reproduzindo
cassetes
&
vinis 

cor do
automóvel
parece
giz
de cera 

snapshots
em
monóculos
eternizam
a
época
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ridícula

Por Denise Fernandes



Ridícula e nua, sem fantasia.
É só meu coração que naufraga de novo.
Dentro de um copo de vinho do porto, esse coraçãozinho.
Sem palavras. E você me pede para não fazer drama.
Drama para quê? É só meu coração que parte.
Não colocaram a música dos Beatles.
Não fizeram a conta de quantas noites esperei, quantos dias.


Há só acusações em relação ao passado, taxa de juros, ordem de despejo.
Preciso sair deste quarto onde te espero e você não vem.
Preciso pagar a conta de tanto atraso: não mereço, basicamente não mereço. Acordar sozinha, andar sozinha, dormir sozinha: esse é o real, dia após dia.

Enquanto você se diverte com seu passado, seus desejos, suas novas fantasias. Enquanto você me responde com longos silêncios e a afirmação divertida de que eu não passo de uma mulher.
Enquanto isso, é meu relógio que se perde: o tempo onde o tempo não é inimigo.

Não há música no ar e meu passado não justifica suas dúvidas atuais, por mais que você tente. Não há padre nesse nosso casamento onde eu, ridícula noiva, deito num altar sem buquê. É o olhar de Deus que me lembra que, apesar de ridícula e boba, estou salva.
 
O amor é também essa faca de palavras e pensamentos com que você corta o meu coração para que ele não doa. O amor é esse vento frio em pleno verão, esse vazio no sofá, essa sensação de ridículo que eu senti de salto alto e vestido vermelho. De novo amar e não ser visível; sou apenas esse gesto, esse corpo nu na cama - sem registro; só saudade e vida a pulsar esperando.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

cliente pessoal

Por Ana Paula Perissé
 
 
Imagem: Paul Apalkin


                                          vem-me silêncio nocturno
                                          como se tudo
                                          fugisse à tua luz

                                          (indefiní-me,
                                          para sempre
                                          só ou agora)

                                          1´vitrine de afectos
                                          oscila
                                          entre lances e acasos
                                          mercadorias.

                                          ( 1´cliente im-pessoal
                                          soa impaciente:
                                          ainda há pulso...)

                                          suba e olha
                                          o céu.

                                          do parque.