quinta-feira, 30 de julho de 2015

Louca Vontade

Por Daniella Caruso Gandra
 
 
 
 
A vontade que tenho é louca,
não meio, mas flui em totalidade.
 

Te pôr no colo e ferir teu orgulho,
Festejar tua dor na rasa ousadia que te escraviza.
 

Teu calcanhar de Aquiles transgride meu sonho,
É aquilo que te mina, dilacera...
 

Devoção minha na tua conjuntura,
A satisfazer o meu desejo que de ti toma conta.
 

Tua pouca imaginação é o playground
Que de mim não se distancia.
 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Aguaceiro

Por Fabio Ramos
 
 

 
embaixo
da marquise
 
 
enquanto
a
chuva
não passa
 
 
veio
de
repente
 
 
e
(engrossou)
 
 
um
automóvel
depois
do
outro
 
 
o
pedestre
se
esquiva
 
 
(tudo em vão)
 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Medo

Por Denise Fernandes




O que mais me assusta nessa pessoa é a sua impossibilidade.

Quando ela partiu, esqueceu-se de levá-la.

Sinto-a no ar que respiro.

É o terror que me impele a olhá-la todo dia, de frente.

Como se fixa o oceano, entre a terra e o Céu.

Diante dela, minha força se esmaece.

Mas como poderia eu enfrentá-la,

Se não a mirasse?

Tenho medo.

Minha imaginação é um túmulo para esta quimera.

Está na foto, mas vai além.

Seus sonhos não são meus.

Suas ideias, só suas.

Sua impossibilidade é o limite.

Somos completamente diferentes.

Minha gata velha me ensina a ter coragem e paciência.

Tudo que é passado é tão mais bonito.

Penso nisso e já me arrependo.

A gata finge não ter memória.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

sem vestido

Por Ana Paula Perissé



 
                                             sem vestido
                                             roubado de mim



                                             quedo-me nua
                                             ainda mais
                                             intensa
                                             toda´tua
                                             rendidos
                                             à nossa lua
                                             particular&perpétua
                                             cálida



                                             traçados d´1 só
                                             em mui´ardoroso
                                             leito



                                             ( travessas possuídas
                                             de nós
                                             vestido de mão única)



                                             feitiçamentos,
                                             sem feitiços
                                             darling.



                                             (só)

domingo, 26 de julho de 2015

sábado, 25 de julho de 2015

Poema de roda

Por Meriam Lazaro




Que eu possa ver de tudo
À flor da imaginação,
Pela barba azul do céu
Branca espuma de algodão.
Que em um galope alado
Toque a aba do chapéu
Pedindo tempo emprestado
Pra esta mesma dimensão.
Que o anjo sopre ao léu
Beijo de trombeta ou banjo
Pelo aquário do universo,
Com mar abaixo e acima,
Que a todos nós envolve,
Afasta, une e fascina!

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Gaivotas

Por Mayanna Velame




Uma revoada
de gaivotas
visita o horizonte
todos os dias.
 


E o pôr-do-sol a transforma
em um desenho de alto relevo.
 


Uma revoada de gaivotas
risca o céu sem deixar rastros.
Para elas, o céu é o mar
e o mar alimento.
 


Uma revoada de gaivotas
desliza no teto de Deus.
 


E, num voo desenfreado,
ruflam suas asas...
E desaparecem entre os filetes
dourados do Sol.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Feliz Efemeridade

Por Daniella Caruso Gandra
 



Graças damos ao que nos atinge em cheio: o coração na contradança com a razão, em embalos sonoros a camuflarem abalos silenciosos. 

Tudo ao redor é volátil, na memória jaz; o que hoje coincide, amanhã, só quimeras, já que a vida é um ensaio a perdurar... 

Momentos flutuantes que arrancam o riso, tiram sarro dos sentidos, formando abismos. Emoções a usurparem a certeza casta, hoje, já nem tão inabalável, brindando o funesto antes desconhecido. 

Na fugacidade do tempo, sou anti-heroína, num recreativo antagonismo, em permanentes cismas diante do transitório, a socorrer-me na vastidão que habito, xérox de mim. 

Ao se extinguirem os versos da poesia hipotética, em contato com lambedores de egos, insuflarei o que há de recente, transpondo venturas, sem ser inconsequente. 

Pois pouca é a expectativa que nos testa no findável, em ritmos cardíacos um tanto tardios, a evocarem nossa presença no agora, admoestando o dorso que por ora faz festa e depois, história.
 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Falta de Inspiração

Por Fabio Ramos
 
 


a
palavra
que não vem
foi
passear
?
 
 
bem
na hora
"h"
ela
sumiu
 
 
a
cabeça
(enterrou)
em
algum lugar
 
 
dizem
por
 
 
que
"zé fini"
 

terça-feira, 21 de julho de 2015

Assombrações do Cambuci antigo

Por Denise Fernandes




                                                                                      (Para Newton Moreno)

Dentro de mim mora um anjo. Eu cantava para minha filha linda, perto do cemitério, em mil novecentos e bolinha. Liberdade. A palavra não-dita. Que não quer calar. Dentro de mim, mora um anjo, que sonha, dorme, e lava meus pés. Dentro de mim, mora uma máquina de lavar roupas.

Lembro do dia em que eu e a Bia afogamos o paraquedista de plástico do meu filho Lucas, enquanto ele dormia. O pobre do brinquedinho falava, sem-parar, que queria matar alguém. Metralhadora na mão. Nós o afogamos com uma pedra. Antroposofia no lixo. Quem rega meu jardim: Rudolf Steiner ou eu? Sou ninja brasileira. Do Japão, me trazem ikebanas de rosas. Penso tanto em ti, mas não faz mal. Sou espiritualista e ciumenta, nunca vai dar tudo certo.

E agora me vem Dona Antônia, depois de morta, me pedir para regar as rosas dela. As rosas não falam. Coincidência. Dona Carmem, minha vizinha que faleceu, que frequentava reuniões do Tao, e antes fazia parte da Eubiose, também tinha rosas no quintal de sua casa.

Tenho medo de Deus, com suas espadas, e lanças; e pessoas que ameaçam com balas perdidas, antes de atirá-las. E fingem ser pessoas do Bem; mas são só pessoas com bens. Como estar bem? Dona Antônia pede, continua, lá no céu, também tem vaga para alugar...

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, quando se olha a rosa na janela, e não se quer sofrer mais, pelo amor de Ninguém.

Olho a Rosa na janela porque sou pequenina, e Volpi me manda um buquê de Rosas pequeninas, enquanto estou presa numa casa estranha, onde mora um vilão, que se projeta no Ar. Eu pensei que era o Batman, mas não era Ninguém.

E Dona Antônia me explica que, lá no Céu, chovem pétalas de rosas. Que os deuses tudo veem, tudo bem nos inferninhos, e vigia cada um dos anjinhos. Os anjos comem Tomate no céu, e só na Terra vivem de Luz. Os anjos não voam lá no Céu. Eles só têm asas aqui. Dona Antônia, que morava na ladeira em frente à mecânica do Seu Zelão, onde tem um mecânico cego, que faz diagnóstico de qualquer carro com sua audição. Ninguém no Mundo é realmente cego, ou surdo, porque vemos com todos os nossos poros, e só choramos, não porque estamos tristes, ou alegres, mas... porque, quando nossa alma toca algum lugar muito nobre do nosso Corpo, o nosso corpo chora. Por isso, o Mystério do choro é maior que o do riso, porque, quando rimos, sabemos que Deus está por perto. E onde moram os deuses, mora o Infinito.

No Zohar, na cabala secreta da Vida, onde os deuses incendeiam, e não incendeiam o Homem, escuto o silêncio da Noite negra. Como um tufão. Ouço os relâmpagos, e não posso fazer Nada. Realmente, não sei o que fazer. Plantada como uma árvore, com saudade do dia que se transformou em gelo na Aclimação.

Sou alérgica à vida. A minha gata velha vomitou muito.

O vento rouba meus pensamentos. No fundo, luto contra caranguejos, escorpiões, restos de naufrágios, e fogo. E quando as ondas do mar se levantam, sinto medo, ou talvez seja tristeza; olho pra Cima. Penso, logo, existo. A espuma do mar se cristaliza, beija os meus pés. E ela é doce, muito doce.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

adornos em palavras supérfluas

Por Ana Paula Perissé




                                       então a noite aparece
                                       para desaparecer
                                       em múltiplos ciclos
                                       caóticos¨harmônicos
                                       e eu não sei nem ao certo
                                       por quantas estradas
                                       deverei percorrer



                                       quantas pessoas
                                       hei de conhecer
                                       ou quantos encontros
                                       guardados à solidão
                                       deverei escolher
                                       enquanto a brisa sopra
                                       e as ondas naquela tarde
                                       se tornam rosas
                                       rubras de crepúsculo
                                       um tal rubor de beleza
                                       envergonhada¨estranha
                                       aos humanos
                                       que a contemplam
                                       de seus abismos
                                       anteriores



                                       então o calor
                                       assombra
                                       e a resposta
                                       me vem em mergulhos
                                       no mar rosáceo
                                       transparente em sua densidade
                                       pura de liberdade



                                       então o espanto
                                       me vem soprando
                                       à sombra fresca
                                       de tantas perdas



                                       A resposta está alhures.



                                       balançando em alguma
                                       jabuticabeira de infância
                                       antes que adormeça
                                       no umbral das memórias
                                       mal´desejadas.

sábado, 18 de julho de 2015

Varanda

Por Meriam Lazaro




A samambaia com dedos finos a tudo espia do pedestal.
Balançam ao vento pontas de palmas,
Cocos que esperam pra amadurar...
Ou são falanges de uma palmeira que dá pupunha,
Palmito branco cor de manjar?
Ela é nova, novinha em folha, só tem perfume,
Espinhos moles que ferem a mágoa,
Gotejam fácil bolha de sal.
Pétalas róseas dobram na tarde
Frente à janela, caiada e limpa...
É tão amada a flor menina no roseiral.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Navegar em terras profundas

Por Amilcar Neves*


Temos que aprender novas matérias, cultivar novas habilidades, nos adaptar a novas situações. Da mesma forma como um dia aprendemos a navegar em águas profundas, assim também precisamos rever nossos conceitos sobre segurança e estabilidade para sobreviver em um mundo sob mutação física acelerada.

Os antigos marujos oravam agradecidos e aliviados ao atingir o que chamavam de "terra firme", em oposição ao elemento líquido sobre o qual exerciam uma tênue busca de equilíbrio para se manter à tona. Após muitos naufrágios, o mundo acabou se alargando –para o bem e para o mal. Apesar disso, navios nunca deixaram de ir a pique, seja por causas naturais, por incompetência e irresponsabilidade ou por ação direta do homem.

Poucas coisas haverá mais firmes do que uma rocha de 80 metros cúbicos pesando duas mil toneladas. Sobre ela construirás a tua Igreja – até que, após milhares de anos na mesma e "eterna" posição, ela se desloca no Morro dos Cavalos e cai sobre a estrada, fechando-a por completo: debaixo do enorme bloco de granito havia terra, a "terra firme" dos argonautas, que se fez fluida como pudim em cinco meses de chuvas ininterruptas.

Sozinha, sem apoios, a rocha não valia nada apesar de aparentar robustez e estabilidade. Hoje ela jaz desfeita em incontáveis fragmentos, condição única para afastá-la do caminho do "progresso", pelo qual têm pressa de passar nossos carros e caminhões.

Pensa-se que, no Brasil (uma das nossas vantagens sobre outros povos), não temos vulcões, esse terror das terras inóspitas. Talvez isto não seja propriamente verdadeiro, dada a quantidade de lavas frias que se desprendem do alto dos morros em Santa Catarina neste período de desgraças que se abatem sobre o Estado. Pior ainda aqui, pois a erupção não se anuncia com antecedência por sinais geológicos que podem ser captados, interpretados e traduzidos em alerta às populações envolvidas. Não: aqui, de repente, a montanha – qualquer montanha, não apenas aquela que abriga um vulcão – simplesmente desce ladeira abaixo, deixando um rastro de dor, morte e muita destruição.

Precisamos aprender que o solo não é firme nem sólido e descobrir maneiras de navegar em terras profundas, pastosas como mingau, enquanto nos perguntamos: e essas barragens todas por aí, hem?, estão ancoradas sobre quais bases? Sobre rochas de duas mil toneladas, talvez?

*Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 03.12.2008

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Decifra-me

Por Fabio Ramos
 
 


(senta)
(estira)
 
 
pés
no sofá
 
 
vai
botão
 
 
(obedeça)
 
 
aperta com
vontade
 
 
MAIS
 
 
tudo
na
mesma
 
 
que
merda!
 
 
e
a
pilha
do controle
 
 
ele
trocou
 
 
meia
hora
se passa
 
 
tevê
ainda
não responde
 
 
vem
o
filho
 
 
(cinco anos)
 
 
pra
matar
a charada
 
 
pai
 
 
sem ligar na
tomada
 
 
nada
funciona