terça-feira, 14 de julho de 2015

Dor

Por Denise Fernandes




Que ninguém me conhecesse, antes ou depois, e eu pudesse, assim, permanecer com meu mistério claro.

Não que eu o perdesse, antes ou depois. É o medo que me faz ter esse desejo. A ameaça existe, e é palpável.

Amor é traição. Um gesto profundo e largo, que corta a pele. Qual o sentido? Qual a pergunta não feita? Dor e medo nesse mistério claro...

Acho que nem sei viver mais sem reticências... Não que eu esteja num filme de suspense.

Seguro a pedra do nosso amor, e ela é escarlate, densa, negra, herege, franca. Sou a outra metade da laranja, ou não sou? Quero morder outra fruta que não eu mesma; não foi dentro de mim que o furacão acendeu seu olho negro, seu dedo torto. Novas mentiras. Novas cores: não chore. Notícias novas nos chamam de outras galáxias. Furacão de luz: e, dentro dele, está Você. Dedos de luz, emanações e neblina. Manhãs do passado me acordam. Octavio Paz me avisa que o futuro é escuro. Tento não pensar. No sem fim da noite, a rã passeia, entre navios que imaginei.

Às vezes, penso para quem finjo. Finjo para mim mesma. As outras pessoas veem mãos, braços, pernas – então, penso o que me falta. E falta tudo. Porque tenho medo de perder o essencial.

Há dias que dá um desespero! A questão básica é: como viver. E para essa questão não há resposta. Tenho duas pernas longas que me doem. Nunca se sabe qual é a isca.

Como a impressão é frágil, não sou nada. O que se pode comprar com dinheiro? Sinto cheiro de alma, e ele é forte. Tem a força de um cometa que procurei no Céu, e não achei. Essa é minha memória: restos de festa e de Tempo. Num triste movimento, a beleza se perdia toda. De tal forma, que seria difícil reencontrá-la.

Aqueles tapetes! Minha cara tremia. Tentei ficar calma. Doce dor. Nunca se sabe direito qual é a pedra da sorte. E nem conheço o sertão do meu país. Como ser forte, quando se é frágil? Memórias de sentimentos. Quero a realidade assim, dura, intacta. Porque cada ano comemora-se alguma coisa. Consegui guardar a minha ausência de paz mais longe. Ler sem prestar atenção. Porque é assim, sua leitura de mim: com um pouco de olhar desatento. Tédio. Minha gata velha vomitou de novo.

Respiro o mar que afunda todas as guerras.

Amor, segura um pouco a minha mão. Ela se estende, pega, espreme o suco da minh'alma perpétua que é você!

Daqui a pouco vou tomar quatro comprimidos que o médico receitou. De noite, mais cinco comprimidos.

A estrada era única, pequena. No muro pichado: nenhuma curva pode entornar o amor do nosso barco.

Nos lugares errados, a esquina que a gente passava estava sempre lá. Então, eu encontrei o Fabio Ramos. E pude, numa sequência de naufrágios (onde quase me afoguei), reencontrar a mim mesma.

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