Por Denise Fernandes
Que ninguém me conhecesse, antes ou depois, e eu pudesse, assim,
permanecer com meu mistério claro.
Não que eu o perdesse,
antes ou depois. É o medo que me faz ter esse desejo. A ameaça existe, e é
palpável.
Amor é traição. Um gesto
profundo e largo, que corta a pele. Qual o sentido? Qual a pergunta não feita?
Dor e medo nesse mistério claro...
Acho que nem sei viver
mais sem reticências... Não que eu esteja num filme de suspense.
Seguro a pedra do nosso
amor, e ela é escarlate, densa, negra, herege, franca. Sou a outra metade da
laranja, ou não sou? Quero morder outra fruta que não eu mesma; não foi dentro
de mim que o furacão acendeu seu olho negro, seu dedo torto. Novas mentiras.
Novas cores: não chore. Notícias novas nos chamam de outras galáxias. Furacão
de luz: e, dentro dele, está Você. Dedos de luz, emanações e neblina. Manhãs do
passado me acordam. Octavio Paz me avisa que o futuro é escuro. Tento não
pensar. No sem fim da noite, a rã passeia, entre navios que imaginei.
Às vezes, penso para quem
finjo. Finjo para mim mesma. As outras pessoas veem mãos, braços, pernas –
então, penso o que me falta. E falta tudo. Porque tenho medo de perder o
essencial.
Há dias que dá um
desespero! A questão básica é: como viver. E para essa questão não há resposta.
Tenho duas pernas longas que me doem. Nunca se sabe qual é a isca.
Como a impressão é frágil,
não sou nada. O que se pode comprar com dinheiro? Sinto cheiro de alma, e ele é
forte. Tem a força de um cometa que procurei no Céu, e não achei. Essa é minha
memória: restos de festa e de Tempo. Num triste movimento, a beleza se perdia
toda. De tal forma, que seria difícil reencontrá-la.
Aqueles tapetes! Minha
cara tremia. Tentei ficar calma. Doce dor. Nunca se sabe direito qual é a pedra
da sorte. E nem conheço o sertão do meu país. Como ser forte, quando se é
frágil? Memórias de sentimentos. Quero a realidade assim, dura, intacta. Porque
cada ano comemora-se alguma coisa. Consegui guardar a minha ausência de paz
mais longe. Ler sem prestar atenção. Porque é assim, sua leitura de mim: com um
pouco de olhar desatento. Tédio. Minha gata velha vomitou de novo.
Respiro o mar que afunda
todas as guerras.
Amor, segura um pouco a
minha mão. Ela se estende, pega, espreme o suco da minh'alma perpétua que é
você!
Daqui a pouco vou tomar
quatro comprimidos que o médico receitou. De noite, mais cinco comprimidos.
A estrada era única,
pequena. No muro pichado: nenhuma curva pode entornar o amor do nosso barco.
Nos lugares errados, a
esquina que a gente passava estava sempre lá. Então, eu encontrei o Fabio
Ramos. E pude, numa sequência de naufrágios (onde quase me afoguei), reencontrar
a mim mesma.
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