sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A fantasia

Por Mayanna Velame
 
 


Época de carnaval. Muito bom. Não digo necessariamente por causa dos três ou, sei lá, quantos dias de folia – em que o Brasil se embriaga numa exorbitante alegria. Até porque essa cronista aqui não tem um mínimo preparo físico para pular, brincar ou sambar.

Feriado de carnaval, para mim, é sinônimo de ficar em casa de molho, sem fazer nada, contemplando a fuga das horas e lendo minhas pendências literárias. Viva o ócio!

Acontece que, em todo período de carnaval, sempre recordo de um fato que ocorreu em minha inesquecível e bem vivida infância.

Quando estava prestes a completar oito anos de idade, mamãe resolveu comemorar meu aniversário com um baile à fantasia. Todas as crianças da rua chegaram à minha casa vestidas de tudo quanto era modelo e personagem; tinha pirata, odalisca, homem-aranha, marinheiro e por aí vai. E eu, como anfitriã, acabei me fantasiando obrigatoriamente de bailarina.

Confesso que me senti ridícula. Eu, uma criança rechonchuda, presa num apertadíssimo colã rosa que delineava muito bem o meu excesso de gordurinhas. Para completar, calcei uma sapatilha nada confortável e uma meia-calça que pinicava nas pernas sem trégua. Meu cabelo, escovado para trás, amarrado num coque, deixava à mostra as maçãs do rosto coradas pelo excesso de rouge; que acabou me tornando mascarada.

O tempo seguia em passos tétricos. E mamãe, eufórica com os convidados, não hesitou em colocar as tradicionais marchinhas de carnaval. Todo mundo dançando, fazendo trenzinho e eu, com os dedos dos pés doloridos, tinha que acompanhar os foliões.

Devo dizer que tentei me animar jogando serpentinas, confeites e purpurinas sobre os convidados. Exteriormente, meu semblante parecia satisfeito e contente. Porém, no interior, tudo que desejava era simplesmente retirar minha fantasia, abrir os presentes e ir dormir.

É interessante como há determinadas situações da vida que nos encontramos dessa forma: vestimos uma alegria falsa, exibimos um sorriso formidável quando, na verdade, estamos tristes e descontentes.

Escondemos nossos medos e decepções, com máscaras de hipocrisia, só para sermos aceitos pela sociedade e suas convenções. Não sei o porquê, mas todo carnaval me traz essa lembrança e a sensação que tal festa popular representa, literalmente, uma alegria efêmera.

Tanto é, leitor, que tudo acaba em cinzas.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Visão

Por André Vianna 
 


Quem é você?
Que nos cabelos tem a imensidão do Céu noturno
E também a luz da manhã raiada
Um paradoxo de seda
 

Quem é você?
Que os olhos sendo água seriam oceanos
Sendo terras, continentes
Sendo o tempo, eternidade
 

Não te conheço sonho
Não te percebo realidade
Só te sei divindade...
E mulher 

 
Quem é você?

 


Nasci no Rio de Janeiro em 1978. Publiquei em diversas antologias poéticas e também tenho um livro de contos - Sobre o Natural e o Sobrenatural - lançado pela Editora Multifoco.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Luz Própria

Por Fabio Ramos
 
 

 
ajeita
o cabelo
atrás da orelha
 
entre
esse ou aquele
vestido
qual usar?
 
salto
combinando
com
a
bolsa
 
batom
nos lábios
 
óculos
no
rosto
 
perfume no
corpo
 
é
rainha
é
garantia
 
teu
sorriso atrai
olhares
e até causa
inveja
 
quem
pode estragar
seu dia?
resposta = ninguém
 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Sou uma boa ex

Por Denise Fernandes
 

         Sempre gostei de teste de revista, desde criança. Aprender a ler era, para mim, um objetivo essencial. Comecei a ler e, depois de um tempo, devorei revistas femininas. Respondia aos testes ou ia atrás da minha mãe, preenchendo com a ajuda biográfica dela. Ela me dizia que esses testes eram besteira, mas era inútil: eu já gostava deles.

         Os dois últimos testes de revista a que respondi me revelaram o que talvez eu já soubesse a meu respeito. Mas foi bom ser lembrada. Um deles deu o resultado que todos já sabem: sou uma boa ex. Esposa acho que não fui tão boa assim, mas ex eu sou. E deu no teste, confirmando tudo. Quando preenchi que recebia a esposa atual do meu ex na minha casa com alegria, sabia que o resultado ia dar positivo. Ser ex é simples. Partir, por mais que seja dolorido, é mais fácil do que ficar. Nascemos de novo quando nos separamos de alguém que amamos. E nesse novo nascer, há mais conteúdo, mais desejos a realizar. Ser ex é ser você mesmo – e isso é mais simples e verdadeiro que tentar ser o que seu casamento te pede. E tem também o fato de que eu cansei de passar as camisas dele. Ele me pedia, eu passava, mas camisa a camisa eu desconstruía a felicidade do nosso casamento. Até que só restou o vento, como num livro de Érico Veríssimo. Disse a ele: te amo como a um irmão, mas não sei se ele entendeu. Porque junto com as camisas, cansei de esperar que ele entendesse.

         O outro teste diz que, como amiga, preciso melhorar. Foi algo como se eu tirasse cinco como amiga; quando a nota máxima é dez. Quando preenchi que esquecia com frequência o aniversário de amigos e raramente dava presentes, senti que ia pegar mal. Mas não vale a pena  mentir num teste, perde a graça. Também me pareceu muito bom para meus amigos, que me aguentam. Como tenho amigos leais e compreensivos, que me amam muito além dos meus presentes e da minha presença concreta em suas vidas. Meus amigos me amam como se realmente me conhecessem. São capazes de entender como me distraio e esqueço até o facebook me lembrando dos aniversários. Meus amigos sabem que viajo sem poluir o ambiente, imaginando, filosofando, refletindo. As rugas da minha testa são testemunho da minha preocupação com o mundo. Enquanto esqueço, o profundo tece sua teia no meu destino. Quando fico mais distante, chego mais perto.

         Quando eu melhorar como amiga, terei pequenos presentes encantadores para dar aos amigos, serei uma presença encantada em todos os aniversários. Talvez estendendo, estarei presente também no aniversário dos filhos dos meus amigos e também no aniversário dos animais de estimação dos meus amigos. Esse será meu período de aposentada onde me dedicarei a esse ócio festivo, quando serei então uma amiga melhor do que tenho sido.

         Mas mesmo não sendo uma amiga tão boa, tenho a sorte de ter amigos sinceros. Espero que os amigos sejam os mesmos de agora, neste tempo de aposentada. Que surjam também novos. Mas gostaria que nenhum amigo se perdesse; esse meu cinco como amiga é importante porque diz de cada amigo. É a minha base até agora. São os sentimentos, em tantos matizes. São as minhas trocas. São os melhores momentos. São muitas boas lembranças. Se perder algum amigo, fico sem algo essencial.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

verão

Por Ana Paula Perissé


Imagem: Françoise Nielly


                                            (em
                                            pétala inerte
                                            há calor)

                                            suave calafrio
                                            calado
                                            meio mato
                                            sem jeito
                                            à procura de flor briosa

                                            em verde
                                            quieto
                                            com vida intensa
                                            assusta-te
                                            com o azul em fuga
                                            de teu olhar

                                            nervuras.

                                            fugidios são os movimentos
                                            de te fazer
                                            arder
                                            no inferno
                                            destes dias.  

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Incumbência

Por Oswaldo Antônio Begiato



Levar a trouxa

Lavar a roupa

Secar a louça

Tirar a poupa

Limpar a bolsa

Olhar a lousa

Ouvir a mouca

Curar a bouba

Amar a louca

Casar c’a moura


sábado, 22 de fevereiro de 2014

A prova de toque

Por Meriam Lazaro



Manhãzinha, o céu com faixas de arco-íris rosa-cinza-azulado surge em meio à cerração que esconde o rio. Patos voam sobre o prédio formando dois grandes cordões rumo leste. Depois do banho, o creme que protege a pele do ressecamento trazido pelo frio outonal. O roupão vermelho é substituído pelo uniforme grafite. Cabelos penteados, brincos escolhidos, finas sapatilhas calçam os pés dentro dos chinelos de lã. Sapatos pretos esperam a hora da saída frente à porta para não fazer barulho. Do fogão recende o café para despertar o último sentido dormente até então. A caneca sobre a toalha xadrez recebe o líquido quente adoçado por duas pequenas colheres de cristal orgânico. Cultivada desde a infância, a náusea à primeira hora manhã impede de comer a fatia de pão integral. Com a caneca aquecendo as mãos, se contenta em bebericar o café enquanto observa pela janela da cozinha os carros que dão pressa ao dia. Dentes escovados, bolsa pendurada no ombro, lixo ensacado para deixar na lixeira, hora de sair de casa. Verifica se a vidraça da janela e a porta do banheiro estão fechadas. A boca do fogão e sua tomada, desligados. A gata ficou trancada no banheiro? Não. Sob a cama estão dois olhos brilhantes. Porta e grade abertas. O ferro de passar roupa está ligado desde a noite anterior? Não. Passou roupa no domingo e hoje é quarta-feira. Fecha a porta. Movimenta a maçaneta. O aromatizador... Lembrou-se que utilizou eucalipto para perfumar a casa. Desligou. Será? Volta e confere. A porta do banheiro, a janela da cozinha, as tomadas, as lâmpadas, o lixo, a gata... Fecha a porta da sala. Movimenta a maçaneta. Tranca a grade. Chama o elevador. Sente-se observada do olho mágico. Envergonhada, faz a última prova de toque. Gira novamente a maçaneta e vai embora. No elevador, toca as orelhas e ri. Está com apenas um brinco.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Carnavais da vida

Por Mayanna Velame
 
 


Todo mundo pode ser o que quiser no carnaval: pirata, marinheiro, odalisca, gênio da lâmpada mágica, diabo, bailarina e por aí vai. Talvez nisso resida a graça dessa festa popular – sair em bloco, cantarolando marchinhas e trajando fantasias de todos os tipos, modelos e gostos. Sem dizer daqueles foliões que saem mascarados, satirizando celebridades, políticos corruptos, atletas e outros personagens diários.

Todo carnaval é assim, uma mistura de alegria e tristeza. Alegria porque o povo se esbalda durante os dias de folia. Tristeza porque todo carnaval chega ao fim (metáfora da nossa felicidade instantânea).

É assim que se compõe a vida. Há momentos em que as alas da alegria estão abertas. A bateria do coração batuca em sintonia compassada, com um enredo que satisfaz os ouvidos. Tudo é festa, nossos sonhos parecem ladeados de serpentinas, confetes e purpurinas. Qualquer alegoria é pouca para expressar o quanto estamos felizes.

No entanto, os ventos com seus uivos desafinados, nas circunstâncias da vida, de vez em quando desfilam na passarela da nossa essência. Retira de nós o cintilar do sorriso – a nossa comissão de frente. Sopram para longe as fantasias que carregamos dentro de nós.

A avenida da vida se comporta desse jeito. Somos sambistas, que ora dançamos no ritmo certo, ora tropeçamos em nossos próprios erros. Não evoluímos como pessoas, não nos empolgamos com a rotina, não nos alegramos com os resultados.

Esses são os carnavais da vida. Saibamos seguir em frente, não olhando para as cinzas deixadas para trás. O importante é nunca perder de vista o estandarte da perseverança, da apoteose, para quem deseja viver nos bailes daquilo que nomeamos de vida.
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Amar

Por Valéria Lima
 
 


Encontrar o amor é como encaixar a última peça do quebra-cabeça da vida.
É como achar um pedaço de nós, por aí, perdido.
É como decifrar o enigma intrínseco na pele.
É criptografar as digitais do pensamento.
É como ter um espelho diante da alma. E ver nesse espelho tudo aquilo que a gente deseja.
É pensar "como consegui viver sem ele todo esse tempo"?.
É se reinventar a cada momento.
Amar é sentir-se com asas. Liberto de qualquer sombra de medo.
É como ganhar super poderes. Capaz de lutar contra os piores monstros, mesmo que o monstro sejamos nós mesmos.
É questionar a lei da física. Deixando dois corpos ocuparem o mesmo espaço.
É a matemática incerta. A certeza de que 2 + 2 nem sempre será 4.
É deixar de viver por si.
É se doar por inteiro sem exigir moeda de troca.
Amor é tudo isso e tudo aquilo não cabe num poema. Há quem confunda com burrice.
 
 
Já me sinto jornalista. E como todo profissional, adoro ler e escrever sobre tudo.
Poesia não é de quem escreve, mas de quem precisa dela.
 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Contratempos

Por Fabio Ramos
 
 


quis
espirrar
com a boca
cheia?
 
 
as costas
coçam
e o braço
não
alcança?
 
 
mordeu a
língua
sem
querer?
 
 
esqueceu
do
sonho
ao acordar?
 
 
relaxa & goza
como diria Martaxa
 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Uma rosa é uma rosa

Por Denise Fernandes
 
 


                                       Tava passando e vi a rosa no lixo
                                       A flor linda enfeitada para presente
                                       assim, bem viva, jogada de propósito
                                       num ato impensado, quem pensaria
                                       em matar uma rosa?
 

                                       Ai de mim, não cato a rosa
                                       e também não avanço
                                       é cor e perfume ali no lixo
                                       quero voltar salvar a Rosa
                                       quase toda aberta, e não volto
 

                                       Você também não volta
                                       a flor sem sentido ficou sentindo
                                       você também sem sentido
                                       aberto ao acaso, fluindo
                                       cor e perfume no vento.
 

                                       Você jogou a rosa,
                                       venha buscá-la, venha aguá-la
                                       venha amá-la. Que culpa tem a rosa
                                       de ser só e sem amor,
                                       dói no peito a solidão de quem ama.
 

                                       A rosa aberta nunca mais fechará
                                       flor da existência,
                                       o amor que existe além do amor,
                                       prova de tantas ideias e sonhos que
                                       sonhei com você e do meu ser
 

                                       O que está no lixo é antes alegria
                                       corpo seu que pensava meu
                                       olhar seu que eu pensava que era
                                       para mim, luz da alma sua
                                       que se unia a minha.
 

                                       Dentro do lixo, você, eu
                                       aquilo que eu pensava de nós
                                       meus sentimentos como restos de lixo
                                       A rosa sabe melhor, o meu amor
                                       em suas pétalas.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

mordida de lábio

Por Ana Paula Perissé
 
 


                                            e vai que ela viaja
                                            de vez.

                                            ( e aí, moço?)

                                            profetizando horizontes
                                            ciscando na boléia
                                            de sua vida
                                            avulsa

                                            a falha que
                                            a trouxe de
                                            volta
                                            aqui.

                                            ciranda muda.
                                            vento sem roda.

                                            (1´poente na prôa:
                                            sem mais azul
                                            abaixo)

                                            ele mordisca.

 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Inglória

Por Oswaldo Antônio Begiato
 
 


                Quando eu me encontro comigo mesmo
                Dentro de minha consciência,
                Acontece ali um duelo de vida e morte
                Entre minha alma boa e meus ímpetos ruins,
                Onde não há vencedor, apenas extenuado.

                Preciso criar coragem e perder o escrúpulo.
                Aprender a lutar comigo mesmo buscando a paz
                Escondida no equilíbrio do bem e do mal,
                Como se eu fosse dois usando a mesma armadura.

                Há males que vêm para o bem; a derrota.
                E há bens que vêm para o mal; a vitória.
                Até aonde vencer uma batalha é coisa boa?

                O sol hoje vai nascer às seis e trinta e três
                E se pôr às dezoito e trinta e seis.

                Recolherá pela manhã com seus braços de calor
                O orvalho que a noite deixou esgotado sobre as folhagens,
                E ao se pôr à tardinha devolverá à noite
                O orvalho, agora purificado, forte e apaixonado
                Para se cumprir mais uma rotina:
                - Amar com seu frescor a noite que se encherá de estúrdia.

                Quem sabe eu me encontrarei na busca inglória do aprumo!
                Tenho desde o nascer até o pôr do sol para descobrir meu eixo.

                É dessas coisas que meus dias são extraídos. Santamente extraídos.


sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ecos da estação

Por Meriam Lazaro
 
 
Imagem: Pedro Weingartner

Olhando as primeiras folhas secas caírem das árvores, sentiu que conhecia aquele vento de outros outonos. Vento que assoviava por cima da cerca de madeira desigual, sobra das construções ao redor, a agitar as peças de roupas estendidas no varal de arame. Em vez de máquina de lavar, havia tinas e baldes sobre uma espécie de mesa rústica chamada jirau pela lavadeira. Depois de secas as roupas eram passadas, algumas com goma, dobradas e enroladas em trouxas. O ferro de passar era moderno, a vapor, trazido da América. A menina auxiliava a passar as roupas mais fáceis, como toalhas e panos de prato. Depois, de posse da trouxa menor, acompanhava a tia às casas dos patrões.

Estudiosa, seguia a pé para a escola com uniforme impecável composto de saia pregueada azul-marinho e blusa branca. O sapato Vulcabrás, do ano anterior, apertava os pés por cima das meias alvinhas. Na hora do recreio, sem dinheiro para a merenda, permanecia na classe desenhando no caderno chapéus rebuscados e vestidos de alta costura. Se não se formasse enfermeira, seria costureira. Professora, já tinha a irmã que estudava o Normal.

Ao voltar para casa, olhava ao redor para ver se alguém a observava, retirando de baixo do vaso de begônia a chave da porta. Guardar uma chave grande sob o tapete era muito arriscado. Já os vasos, como havia tantos, dificilmente um ladrão se daria o trabalho de procurar. As notícias do mundo exterior eram frouxamente acompanhadas pelo rádio, uma vez que televisão era um luxo que não cabia naquela casa. Os jornais serviam para enrolar o feijão e o charque na mercearia, onde tinham uma página de conta a ser paga toda semana. Certamente havia atrocidades, mas era um tempo em que os adultos protegiam ouvidos e olhos de suas crianças.

A cozinha e o banheiro, de alvenaria, destoavam do restante da casa de madeira. A menina fazia os pequenos serviços domésticos, como varrer, aquecer comida. Tudo correndo para sobrar mais tempo para a leitura, tanto a obrigatória para a escola, como as outras. Havia poucos livros disponíveis, de modo que aquela menina que não tinha livros aprendeu a ter nas mãos, a cada releitura, um livro novo.

Como se chamado de volta ao passado, o vento lá fora soprou mais forte e mudou de direção. Virou a folhinha para o penúltimo dia de abril.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Praça

Por Mayanna Velame
 
 


                                        Lua no céu, praça iluminada.
                                        Pipoqueiro na calçada...
                                        Postes acesos, chafariz jorra água
                                        Como meus olhos cheios de lágrimas.
                                        A praça tem crianças brincando,
                                        correndo e pulando...
 

                                        Existe uma menina que, em noite de luar,
                                        corre para a praça, senta no banco,
                                        e fica imaginando toda sua vida.
 

                                        Dia de sábado, a praça fica animada.
                                        Vozes, gritos e risadas para todos os lados.
                                        Uma criança chora, depois ela sorri,
                                        quando observa um lindo balão,
                                        bem seguro na minha mão!
 

                                        O tempo foge e todos já foram embora:
                                        as crianças, os gritos, as vozes, as risadas.
 

                                        Só ficou, no banco da praça,
                                        a menina olhando para as últimas estrelas
                                        que enfeitavam o céu.
                                        Ela tinha algo na mão...
                                        Era um balão.