Por Mayanna Velame
Tentou ser forte, implacável. Os
olhos se negando a voltar ao passado. O corpo dizia “não”, mas a alma queria
gritar para o mundo um único sim, definitivo e eterno. Na verdade, o que
poderia ser eterno? O amor? A paixão? Ele queria ficar.
Os escritores sabem que tudo na
vida é efêmero. Ele sabia disso. Nunca havia amado de fato, almejado ninguém. A
primeira despedida é sempre arrebatadora. “Nunca entregue seu coração” – dizia o
pai.
O apaixonado quis ser racional, o
sentimento é arquiteto de armadilhas. Qual o segredo para trancar a porta do
coração?
Procurou encontrar respostas nas
estrelas. Subia os montes mais altos da cidade, percorria escadas para chegar ao
último andar dos prédios. Tudo em vão: as palavras escritas nas cartas de amor,
o telefonema em meio à lúgubre madrugada, o beijo recebido na silenciosa sala de
estar.
O adeus óbvio o agonizava, na
medida em que as roupas eram postas na mala surrada e sem zíper. A vida é
tétrica, mesmo quando os sonhos se projetam fantásticos em nossa mente tão ínfima.
Olhou ao seu redor. O quarto? Lugar
secreto das noites de promessas que nunca foram cumpridas. A cama coberta por
lençóis frios, a chuva amaldiçoando as vidas. O que mais poderia acontecer? A
resposta saía naturalmente de sua boca: nada.
Sentou-se à beira da cama. A
mala ao lado, entreaberta. Deita fora suas vestimentas. Abaixou os olhos e
lembrou-se do tempo em que a felicidade se resumia a abraços, beijos, sexo. Um
novo horizonte se lançava: um filme extraordinário, protagonizado por dois
seres tentando se completar.
O adeus é completo. O que ele
tinha em mãos seria roubado pela vida. A vida não é círculo perfeito, ela tem o
seu fim muito bem elaborado. Filosofias à parte, o tempo se espatifava no ar. A
penumbra escondia seu rosto. Suas emoções alojadas no âmago das recordações
mais sinceras.
Por que pensar nos bons momentos?
Ele sabe que o passado é preso no seu próprio tempo. Recordar é ferir,
apunhalar cada vez mais o que chamamos de sentimento. Balançou a cabeça como se
não entendesse, ou melhor, não queria aceitar o fim de tudo: o fim do amor, da
paixão, da felicidade.
A mala em mãos suadas, o olhar
fixo na janela que também chorava – queremos sempre vencer, quando a vitória
não é a nossa melhor amiga. A porta estava ali, pronta para ser aberta; o
quarto ficaria vazio, sem vida; os móveis não fariam sentido, não teriam
utilidade. O benefício do amor é a solidão.
Pensou em tudo, menos em si. O
melhor era esquecer o que jamais seria esquecido. Fatos marcantes são
cicatrizes na alma. Em passos curtos partiu. A mão na maçaneta, a porta lhe
apresenta o corredor escuro. Nenhum bilhete escrito, nenhum recado enamorado.
Não! As palavras, muitas das vezes, nos fazem sofrer.
Mas ele estava convicto que o silêncio de uma pessoa assassina qualquer
esperança. Ele fecha a porta, segue seu caminho. A sombra reflete nas paredes. É
sua última permanência naquele prédio, onde conheceu a outra face do amor: o
amor não eterno.
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