Por Denise Fernandes
Sempre gostei de teste de
revista, desde criança. Aprender a ler era, para mim, um objetivo essencial. Comecei
a ler e, depois de um tempo, devorei revistas femininas. Respondia aos testes
ou ia atrás da minha mãe, preenchendo com a ajuda biográfica dela. Ela me dizia
que esses testes eram besteira, mas era inútil: eu já gostava deles.
Os dois últimos testes de
revista a que respondi me revelaram o que talvez eu já soubesse a meu respeito.
Mas foi bom ser lembrada. Um deles deu o resultado que todos já sabem: sou uma
boa ex. Esposa acho que não fui tão boa assim, mas ex eu sou. E deu no teste,
confirmando tudo. Quando preenchi que recebia a esposa atual do meu ex na minha
casa com alegria, sabia que o resultado ia dar positivo. Ser ex é simples.
Partir, por mais que seja dolorido, é mais fácil do que ficar. Nascemos de novo
quando nos separamos de alguém que amamos. E nesse novo nascer, há mais
conteúdo, mais desejos a realizar. Ser ex é ser você mesmo – e isso é mais
simples e verdadeiro que tentar ser o que seu casamento te pede. E tem também o
fato de que eu cansei de passar as camisas dele. Ele me pedia, eu passava, mas
camisa a camisa eu desconstruía a felicidade do nosso casamento. Até que só
restou o vento, como num livro de Érico Veríssimo. Disse a ele: te amo como a
um irmão, mas não sei se ele entendeu. Porque junto com as camisas, cansei de
esperar que ele entendesse.
O outro teste diz que,
como amiga, preciso melhorar. Foi algo como se eu tirasse cinco como amiga;
quando a nota máxima é dez. Quando preenchi que esquecia com frequência o
aniversário de amigos e raramente dava presentes, senti que ia pegar mal. Mas
não vale a pena mentir num teste, perde
a graça. Também me pareceu muito bom para meus amigos, que me aguentam. Como
tenho amigos leais e compreensivos, que me amam muito além dos meus presentes e
da minha presença concreta em suas vidas. Meus amigos me amam como se realmente
me conhecessem. São capazes de entender como me distraio e esqueço até o
facebook me lembrando dos aniversários. Meus amigos sabem que viajo sem poluir
o ambiente, imaginando, filosofando, refletindo. As rugas da minha testa são
testemunho da minha preocupação com o mundo. Enquanto esqueço, o profundo tece
sua teia no meu destino. Quando fico mais distante, chego mais perto.
Quando eu melhorar como
amiga, terei pequenos presentes encantadores para dar aos amigos, serei uma
presença encantada em todos os aniversários. Talvez estendendo, estarei
presente também no aniversário dos filhos dos meus amigos e também no
aniversário dos animais de estimação dos meus amigos. Esse será meu período de
aposentada onde me dedicarei a esse ócio festivo, quando serei então uma amiga melhor
do que tenho sido.
Mas
mesmo não sendo uma amiga tão boa, tenho a sorte de ter amigos sinceros. Espero
que os amigos sejam os mesmos de agora, neste tempo de aposentada. Que surjam
também novos. Mas gostaria que nenhum amigo se perdesse; esse meu cinco como
amiga é importante porque diz de cada amigo. É a minha base até agora. São os
sentimentos, em tantos matizes. São as minhas trocas. São os melhores momentos.
São muitas boas lembranças. Se perder algum amigo, fico sem algo essencial.
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