quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vossa Timidez

Por Fabio Ramos



 
              não vão enxergar
              além da introspecção
              porque essa batalha
              tem dono:

              é você contra você
              mesmo e mais
              ninguém

              muros erguidos
              ao longo de uma existência
              projetam sombras que mantêm
              os outros à distância

              livre-se disso, rapaz

              quando a confiança
              for maior que
              o medo de desagradar

              quando sua voz proferir
              desejos inconfessos

              quando o entusiasmo
              prevalecer ao receio
              subterrâneo

              perceberás algo valoroso:
              tais pavores enraizados
              respaldam fantasias

              só existentes na sua cabeça

              acima da intuição, somente o céu

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Medo do Fofo...queiro

Por Rosimeire Soares

 

– Sabe qual é o maior medo do fofoqueiro?
– Ser descoberto?
– Não.
– Então, nem imagino.
– Pense.
– Humm...
– Falo daquele cujos objetivos sejam realçar a vida dos outros em detrimento da própria rotina.
– Compreendo. Aqui há alguém?
– Pensemos... eles estão em toda parte...
– Mas qual é o maior medo desse “profissional”?
– Ao fofoqueiro, aquele que sempre ouve algo e o leva ao possível “adversário” com o intuito de se promover, de se mostrar prestativo ao chefe...
– Mas esse não é o “puxa-saco”?
– Pertencem à mesma família.
– Sei.
– ... resta a ele, somente a ele o dissabor, temor, terror de perder seu posto no instante em que outro fofoqueiro se mostrar mais eficiente.
– Como assim?
– É questão de “produtividade”!

domingo, 28 de outubro de 2012

Nego Gato

Por Érika Batista


 
 
            Era uma vez, não faz muito tempo, em uma aldeia sul-africana, uma moça muito, muito bonita. Quando ela tinha uns 12, 13 anos, estava colhendo ervas para fazer curativos na perna do seu pai, que fora mordido por um crocodilo. De repente, bateu um vento e duas folhas voaram de sua mão. Elas caíram sobre um pedaço de carvão que tinha sobrado da fogueira da noite anterior. A menina olhou e, achando muito bonito o contraste entre o negro do carvão e o verde intenso das folhas, suspirou:

            – Eu queria ter um menininho assim, negro como esse carvão e com os olhos verdes, feito essas folhas – disse para a irmã, que estava com ela.

            – Deixa de besteira, menina – replicou a irmã. – Vamos logo levar isso para a mãe.

            O tempo passou. O pai delas sobreviveu. As meninas cresceram e ficaram lindas. A nossa amiga foi pedida em casamento por muitos, então seus pais deixaram que ela escolhesse o melhor. Mas ela não escolheu nenhum.

            E assim foi até que um dia uma empresa inglesa comprou aquelas terras para procurar diamantes. Os nativos foram expulsos ou “convidados” a trabalhar no garimpo por um preço baixíssimo. A família da menina ficou ali trabalhando.

            Certa vez, o dono estava fazendo uma inspeção nos “seus” territórios e tinha levado junto o filho, um loiro alto, bonito, de olhos verdes. Ele viu a nossa menina, que então contava dezoito anos incompletos. Ela também o viu. Foi amor à primeira vista. O rapaz foi falar com ela, fingindo displicência, e descobriu seu nome e sua história. Ficou ainda mais apaixonado. Quando, mais tarde, falou ao pai do projeto de casar-se com uma das suas empregadas, o velho teve um ataque. Disse que nunca um filho dele se casaria com uma mulher de classe inferior, muito menos com uma negra! Se o rapaz insistisse em desobedecê-lo, seria deserdado. Mas o moço estava mesmo apaixonado, nem ligou para a ameaça. Na mesma noite foi visitar sua amada. Eles combinaram de fugir e fugiram. Casaram-se na capital e passaram a lutar pela sobrevivência.

            Depois de algum tempo, a moça engravidou e deu a luz a um menino, o menino mais lindo já visto. Ele herdara a pele profundamente negra da mãe e os olhos verde-intenso do pai. Parecia uma pantera e todos se admiravam com a beleza dele. Seus amigos achavam que Nego-Pantera era um apelido meio ofensivo e passaram a chama-lo de Nego-Gato, que é um animal menor e macho. A família tinha uma vida feliz, lutando contra o Apartheid, uma lei que legalizava o racismo na África do Sul, naquela época. Quando a família ia passar por uma daquelas escadas divididas, andavam todos de mãos dadas, o menino sobre o corrimão, sendo a ligação entre os pais. E eles também nunca jantavam fora ou iam a lugares onde não pudessem entrar juntos. Se tinha guerrilha armada, os pais do menino nunca hesitavam em ajudar o lado dos negros.

            E essa foi, por ironia do destino, a causa do infortúnio do nosso querido Nego-Gato. O menino tinha nove anos num dia em que seu pai chegou sozinho na humilde casinha em que moravam, chorando copiosamente. Abraçou o menino e continuou a chorar, acariciando-lhe a cabeça e murmurando “Ah, meu filho... meu filho...” O menino não era burro, entendeu o que tinha acontecido. Chorando, também, tentou consolar o pai:

            – C-calma, papai... Nós ainda temos um ao outro.
            – É v-verdade...

            Sim, mas não por muito tempo. O avô do pequeno Nego-Gato, aquele dono da mineradora, nunca mais havia visto o filho, mas ainda se lembrava da mulher que o roubara. Quando abriu o jornal e reconheceu-a entre os mortos na foto, exultou, e imediatamente fez um testamento deixando tudo ao filho, se ele se casasse novamente “e com uma mulher decente, desta vez”. Já havia perdoado o seu rebento por aquilo que chamara de “insensatez da juventude”. Não lhe agradava mesmo a ideia de que seus bens saíssem da família. Pouco depois o velho morreu, sem ter conseguido encontrar o herdeiro.

            Mas o seu advogado conseguiu. Quando fez a proposta ao loiro, o primeiro impulso deste foi recusá-la, pois a lembrança de sua negrinha ainda estava muito viva na memória. Depois pensou que poderia dar uma vida melhor ao filho se aceitasse e foi o que fez.

            Quando correu a notícia de que ele era muito rico, choveram interesseiras. Ele tinha três meses para casar-se novamente e acabou se decidindo por uma linda morena, de olhos azuis e pele rosada, mas que era tão má quanto bela. Logo de início odiou o Nego-Gato, pois seu pai o amava mais que a esposa, e determinou que acabar com o garoto seria o objetivo de sua vida.

            Com muita sedução e persuasão foi fazendo o marido desistir da causa dos negros. Por causa do trabalho, ele passava cada vez menos tempo com o filho. Quando saía, o guri ainda estava dormindo, e quando voltava, já tinha ido dormir. Descuidou da educação do menino, que ficou nas mãos da madrasta. Ela tirou-o da boa escola onde estudava e botou-o para trabalhar fazendo consertos na mansão onde morava, cuidando do jardim. Nego-Gato vivia com os empregados e tinha um ótimo humor, mesmo assim. Gostava do pai e, quando estava com ele, não queria perder tempo queixando-se dos maus tratos.

            No aniversário de onze anos do garoto, o pai tinha prometido passar o dia com ele. Mas a mulher tramou tudo de um jeito que o fez esquecer a promessa. Quando Nego-Gato veio cobrar do pai o compromisso, este falou que não podia ir, pois tinha um almoço de negócios marcado. Meio decepcionado, o garoto sugeriu ir junto com o pai, ao que este retrucou que não seria possível, pois almoçaria num restaurante só para brancos.

            O mundo do Nego-Gato caiu. O garoto nunca tinha pensado que seu pai fosse capaz de uma coisa destas. O mordomo veio conversar com ele e convidou-o para um passeio. Isso eram instruções da madrasta: ele ganhou mil libras para sumir com o menino, matá-lo, vendê-lo como escravo, qualquer coisa. Essa era a intenção do empregado, mas quando viu o rosto desolado do garoto, pensou que ele já sofria o bastante. Contou tudo a ele e ajudou-o a fugir da madrasta, dividindo o dinheiro com ele e colocando-o em um navio para o Brasil. A viagem foi agradável, apesar dele não poder viajar na primeira classe nem que pagasse muito mais caro.

            Nego-Gato tinha ouvido falar desse país. Lá os negros e os brancos tinham direitos iguais. Achou que seria feliz num lugar como esse. Mas a realidade não era bem assim.

            Ele não era aceito senão nas pensões mais pobres. Mesmo lá recebia uma vigilância maior. O aluguel era alto e seu dinheiro acabou em pouco tempo. O rapaz tinha recém aprendido a língua portuguesa (eles falam inglês na África do Sul) e não tinha arrumado trabalho. Um dia, estava andando pelas ruas com muita fome quando viu uma pitangueira no quintal de uma casa. Adorava pitangas. Subiu lá e estava matando sua fome, quando uma senhora gordinha saiu de dentro da casa.

            – Desce daí, moleque!
            – Desculpa, senhora. Eu não queria roubar, não, só estava com fome e...

            Nisso, mais seis velhinhas saíram da casa e rodearam Nego-Gato, que a essa altura do campeonato tinha doze anos e era de admirar, de tão bonito que era. Elas ficaram com pena do garoto e resolveram ficar com ele. Em troca, ele era menino de recados e cuidava do pomar da casa, que era muito importante pois dali as velhinhas, que formavam uma cooperativa de doceiras, tiravam o seu sustento. Ele também entregava as encomendas. As velhas gostavam muito dele, todas, embora umas fossem mais ranzinzas, e outras bem humoradas, e assim eles viveram muitos anos bem tranquilos e alegres.

            Enquanto isso, na África do Sul...

            Quando o pai de Nego-Gato soube pela esposa que ele havia “fugido” de casa, ficou inconsolável. Por mais que ela falasse que a culpa não era dele, que o menino é que era um ingrato, ele não ficava menos triste. Acabou morrendo de desgosto, pois por mais que fizesse, não conseguia encontrá-lo. Suas posses foram todas para a esposa, que era o “parente” mais próximo depois do filho. E ela curtiu a vida.

            Vários anos depois, o mordomo, que tinha sumido no mundo, reapareceu na casa da megera. Disse que o menino estava vivo no Brasil e que ele queria determinada quantia de dinheiro para não abrir o bico a respeito do que ela fizera. Ela pagou o chantagista, que sumiu. Mesmo assim a mulher ficou preocupada e resolveu acabar de vez com o herdeiro para que ele não viesse reclamar o que era seu por direito. Então mandou detetives reconstituírem os passos do Nego-Gato desde que ele se fora. Descobriram onde ele estava. A mulher resolveu ir pessoalmente dar cabo do rapaz pois, desde a chantagem do mordomo, ela acreditava que se quer algo bem feito, você mesmo deve fazê-lo.

            Nego-Gato, nessa época, tinha acabado de fazer dezoito anos e era um negro alto, forte e lindo, com olhos mais verdes que os do Brad Pitt. Ele estava terminando o segundo grau. Muitas meninas viviam no pé dele, mas o rapaz não ligava para elas. Vivia ocupado por seus estudos e pelo trabalho com as velhinhas.

            Um dia foi chamado para entregar uma encomenda em um hotel. Normal, ele sempre fazia isso. Bem que achou estranha a mulher de olhos azuis que recebeu a encomenda, mas não viu mal em aceitar as pitangas que ela lhe oferecia. Botou-as no bolso e só lembrou-se de comê-las quando fazia as tarefas debaixo de uma árvore no quintal de casa.

            Quando uma das velhinhas foi chamá-lo para jantar, encontrou-o desacordado. Por mais que sacudisse Nego-Gato, o danado não acordava. Então encontrou sobre os cadernos do rapaz umas frutinhas de mata-cavalo. Ele tinha comido aquele veneno pensando que eram pitangas! Seu choro atraiu as outras velhas. Elas resolveram dar-lhe um enterro digno. E ficaram velando-o no jardim. No outro dia, cedo, foram providenciar o funeral.

            Um grupo de patricinhas saiu da casa do vizinho, onde houvera uma balada na noite anterior. Ao passar pelo jardim das doceiras, viram o cadáver de Nego-Gato.

            – Que gato! Por que ele está dormindo ali?
            – Sei lá. Vamos perguntar.
            E entraram.
            – Ele não tá dormindo não, tá morto!
            – Não parece. É tão bonito...

            Uma loira – que era a líder do grupinho – aproximou-se de Nego-Gato e acariciou seu rosto. Ele acordou. Não tinha morrido porque era mais forte que um cavalo. Mas as frutas ainda estavam em seu estômago, e ele vomitou nos pés das garotas, que saíram correndo e berrando, enojadas. Só uma ficou. Uma linda índia, de cabelos compridos e negros e olhos amendoados.

            Pela segunda vez nessa história, foi amor à primeira vista. Os dois começaram a conversar, um contou sua vida ao outro. A índia disse que seu pai era um acionista rico, que tinha se separado da mãe daquela loirinha líder das patricinhas para casar com uma índia que encontrara em uma viagem. Quando ficou viúvo, reatou com a ex-mulher, que se vingava da rival na filha desta, fazendo-a servir de dama de companhia para sua própria filha, uma consumista fútil e sem cérebro.

            O sonho da amada de Nego-Gato era voltar para o Amazonas, para a tribo de sua mãe. E eles resolveram correr juntos atrás desse sonho; com a ajuda e conivência das doceiras, que estavam muito felizes por seu Nego-Gato ter ressuscitado.
 
            Com pouco dinheiro e algumas caronas, eles chegaram a seu destino: a mesma tribo Yanomami onde se tinha alojado um certo astro do rock inglês e célebre. Como Nego-Gato sabia falar inglês, esse músico ensinou-o a tocar alguns instrumentos e depois de alguns anos na tribo, Nego-Gato e sua índia saíram numa turnê musical pelo Brasil. Contavam suas histórias nas músicas e conseguiram um bom dinheiro, que doaram. Ainda hoje fazem seus shows e vivem muito felizes. Combinaram que quando a morte os separasse, o outro trataria de contar sua história no estrangeiro. Mas nenhum dos dois está ansioso por deixar o país.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Canção Daquele Agosto

Por Sérgio Bernardo



                               Drummond  
                               mineiro velho  
                               quando o teu barco de palavras te levou  
                               de volta ao não-sei-onde  
                               ficou em todo jardim  
                               despetalada
                               a rosa do teu povo  
                               e bem no meio do caminho  
                               a eterna pedra  
                               tumular


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Bicho Solto

Por Rayane Medeiros




                                                   Não!
                                                   Por favor,
                                                   Não me rotulem,
                                                   Não minimizem a possibilidade;
                                                                           A Probabilidade,
                                                   De Ser-me inacabadamente;
                                                                    Infinitamente,
                                                   Bicho solto na vida.
 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Americanizados

Por Fabio Ramos


 

nosso filho
vai ter nome
gringo

um desses
repletos
de W, H e Y

só vai curtir
cinema americano
e black music

vai viver
no Golden Towers
Palace Center
da vila jacira

vai
desde cedo
vestir roupas
importadas
com dizeres em
inglês

não importa
que ele desconheça
o significado do
idioma

nós também ignoramos
mas e daí?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Café do Ponto

Por Rosimeire Soares

             

             Naquele dia, pude contemplar o nascer do Sol, a pastagem seca, a vegetação desprovida do direito cabal à fotossíntese. O calor, como eterno acompanhante daquela viagem, suscitava, além da sede latente, um gigantesco desejo de saborear o banquete que poderia me aguardar no lar progenitor.

             Inevitavelmente fui atraída por um cheiro de gordura. Cheiro de infância.

             Bolinhos fritos! Como poderia? Àquela hora, após o estabelecer da alvorada, o convite através do olfato tornou-se irrecusável.

             Pude então pegar o bolinho frito (daqueles de polvilho). A sensação prazerosa já estava próxima. Mordi a referência de meus 8 anos. Quantas recordações. Fome inocente, hoje transportada para a realidade que adverte o perigo do colesterol.

             Enquanto comia, devorava, degustava os bolinhos, meus olhos se hipnotizavam numa cena intrigante: o autor (pode-se assim dizer) do alimento que cerceava a minha fome iniciou um importante e solene gesto que, certamente, por também ter acontecido antes, culminou na minha quebra de jejum.

             Aquele homem, plenamente confiante em seus atos, apossou-se de alguns copos para lavá-los. Seriam higienizados, mas... onde?

             Um importante recipiente (balde) aguardava os copos.

             A submersão desses utensílios naquela água de cor amarelada me roubou o olhar e o paladar. O biscoito de polvilho fora abandonado na perspectiva de me saciar, pois agora meu desejo de conhecer o processo por que passam os copos na beira da estrada sobressaía e me desviava o pensamento.

             Os dedos furiosos continuavam agarrados à parte interna do vidro dos copos. Aquela aconchegante água turva abrigara muitos copos (do tipo americano) e de maneira capciosa ria dos meus lábios afoitos. Minha saliva se misturava a demais partículas microscópicas e uma importante reflexão eu fiz: quantas prostitutas eu beijei hoje?

             A vegetação seca que fielmente continuava a me acompanhar também acompanhava os caminhoneiros, promíscuos ou não, com quem pude dividir os mesmos copos, as mesmas bactérias, a mesma insensatez, o mesmo ponto e o mesmo café.
 

domingo, 21 de outubro de 2012

Eu

Por Érika Batista

 

                             Não se pode dizer que sou assim uma Helena
                             Tampouco se nega que de presença estou plena
                             Meus olhos não são de miosótis, ônix ou astro qualquer
                             Meros espectadores, tem a cor sem importância
                             Dos sobretudos de detetives em atenta vigilância.
                             Cabelos não tenho de nobre madeira ou metal
                             De fogo, mui menos – mas de ferocidade animal.
                             Nariz reto de grega ou de judia aquilina?
                             Longe de mim! Meu nariz é de menina,
                             Arrebitada bolinha.
                             Minha pele tem cor de livro
                             Rubi – cereja – botão? Não!
                             Tenho lábios de páginas – inclusive na coloração.
                             Pézinhos de meia-irmã de Cinderela
                             Não contribuem pra me fazer bela.
                             Mãos, sim, de tocador de piano
                             Mas unhas, tão tortas, não seguem o plano.
                             Meu corpo, embora não seja de “Miss”
                             É de brasileira e eu estou feliz.
                             São cérebro e língua que me dão grand-finale
                             E com quaisquer críticas não há quem me abale.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Parto

Por Sérgio Bernardo



Pode ser no banco da praça, mergulhado no caos do trânsito, olhando para o nada. Pode ser na cozinha, correndo da pia ao fogão, preparando o almoço. Pode ser no ônibus lotado, espremido entre os outros corpos, indo à luta. Pode ser em qualquer lugar, tanto faz a circunstância, não importa o verbo de ação. O poema quando chega não faz cerimônia, não pede licença. O poeta sabe disso. A poesia não tem hora certa pra nascer. A única certeza é que não morre nunca.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Boteco

Por Rayane Medeiros



                              
                               Preciso de um porre.
                               De uma vida nova.
                               Ou simplesmente de uma paixão que torne meus dias
                               um grande inferno.
                               Mas eu preciso de alguma coisa que faça-me sentir viva.
                               Estou quase morta.
                               O que é o mesmo de não existir.

                               Só preciso de mais uns copos...


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cobiça da Legião

Por Fabio Ramos
 
 
 
 
Delira
Enquanto aguarda
Ser atendido  

O motivo
Está nos cartazes:
"Mega-Sena acumulada"
"40 milhões ao
Vencedor"
 
As atendentes
Da lotérica
Não param de computar
Novas apostas  

Seria ótimo
Implodir as comportas
Do limite
Social,
Liberando
A inferioridade
Represada 

Já pensou
Nas consequências
Do tsunami?
 
O jogador
Volta à realidade
Com o resultado
Divulgado
 
- Dos números sorteados,
Só acertei o 69 e o 24.