Por Denise
Fernandes
Estabeleci como meta aprender inglês e francês até os 65 anos. Como estou com 46 anos e tenho algumas noções de francês e inglês, deve dar tempo. Se o mundo não acabar, se eu viver até lá, se nenhum ditador maluco resolver proibir inglês e francês e instituir o esperanto ou outra língua como língua oficial da humanidade...
Outro dia lembrei que na minha infância
me preocupava com a minha dificuldade de arrumar tempo para estudar esperanto.
E o esperanto como esperança de uma língua universal de paz ocupou o tempo dos
meus pensamentos por muito tempo. Mas não consigo lembrar onde li. Me parece
que foi num texto de filosofia, que havia uma impossibilidade de um homem
compreender seu tempo e todo homem devia compreender isso. Na época em que li
achei que isso era cabível. Seria pura pretensão tentar ultrapassar todas as
ideologias e entender seu próprio tempo. Agora, de tanto ter tempo para pensar,
questionei essa ideia. Por que não seria essencial pensar no meu próprio Tempo?
Nem tudo que parece impossível realmente é. Será que já se sabe tanto sobre o
Tempo assim...
E notei que já faz um certo tempo que
digo "no meu tempo". As pessoas me gozam que eu não estou tão velha
assim, mas é assim que eu me sinto já que falo assim. "No meu
tempo..." Desde quando envelheci assim que comecei a viver um tempo que já
não é o meu? Qual manhã nasceu mais vermelha, mais densa, me trouxe esse suspense,
esse refletir sem fim, essa consciência da morte? Que estúpida manhã foi essa
em que o tempo deixou de ser eu e meu?
Mas no meu tempo era diferente, o que
posso fazer? No meu tempo tinha vagalume, tinha mais pé-de-moleque, menos
produtos. No meu tempo acabava a luz. No meu tempo não tinha celular, nem
computador, nem ultrassom e tudo acontecia. No meu tempo eu namorava no cinema.
Agora vivo a dura realidade de um Tempo que me interessa pensar, viver, já que
nem mais me pertence. Tenho agora toda a curiosidade sobre o Tempo. Já que sei
que ele vive, se transforma e me transforma. E no tempo que me resta me
interessa refletir sobre o Tempo de todas as suas formas.
Foi por isso que resolvi investir meu
tempo num curso sobre o tempo com uma professora maravilhosa, Lisa Baraitser,
que estuda esta questão entre outras. Não sei ainda tanto sobre ela apesar do
curso porque ainda não aprendi inglês o suficiente no tempo que tive. Ela está
na internet e fica fácil para quem domina a língua ter acesso a ela. Ela apresentou
nesse curso uma artista que também me fez refletir sobre o tempo e sobre nosso
Tempo: Mierle Laderman Ukeles. Vi uma entrevista dessa artista na internet e,
como era em inglês, entendi um pouco. Duas palavras me marcaram em sua fala
porque me interessam: free, freedom. A imagem e a ideia do caminhão espelhado
de lixo – que essa artista construiu – reflete de alguma forma o nosso estado e
nosso Tempo.
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