Por Mayanna Velame
Época
de carnaval. Muito bom. Não digo necessariamente por causa dos três ou, sei lá,
quantos dias de folia – em que o Brasil se embriaga numa exorbitante alegria.
Até porque essa cronista aqui não tem um mínimo preparo físico para pular,
brincar ou sambar.
Feriado
de carnaval, para mim, é sinônimo de ficar em casa de molho, sem fazer nada,
contemplando a fuga das horas e lendo minhas pendências literárias. Viva o ócio!
Acontece
que, em todo período de carnaval, sempre recordo de um fato que ocorreu em
minha inesquecível e bem vivida infância.
Quando
estava prestes a completar oito anos de idade, mamãe resolveu comemorar meu
aniversário com um baile à fantasia. Todas as crianças da rua chegaram à minha
casa vestidas de tudo quanto era modelo e personagem; tinha pirata, odalisca,
homem-aranha, marinheiro e por aí vai. E eu, como anfitriã, acabei me
fantasiando obrigatoriamente de bailarina.
Confesso
que me senti ridícula. Eu, uma criança rechonchuda, presa num apertadíssimo colã
rosa que delineava muito bem o meu excesso de gordurinhas. Para completar,
calcei uma sapatilha nada confortável e uma meia-calça que pinicava nas pernas
sem trégua. Meu cabelo, escovado para trás, amarrado num coque, deixava à
mostra as maçãs do rosto coradas pelo excesso de rouge; que acabou me tornando
mascarada.
O
tempo seguia em passos tétricos. E mamãe, eufórica com os convidados, não
hesitou em colocar as tradicionais marchinhas de carnaval. Todo mundo dançando,
fazendo trenzinho e eu, com os dedos dos pés doloridos, tinha que acompanhar os
foliões.
Devo
dizer que tentei me animar jogando serpentinas, confeites e purpurinas sobre os
convidados. Exteriormente, meu semblante parecia satisfeito e contente. Porém,
no interior, tudo que desejava era simplesmente retirar minha fantasia, abrir os
presentes e ir dormir.
É
interessante como há determinadas situações da vida que nos encontramos dessa
forma: vestimos uma alegria falsa, exibimos um sorriso formidável quando, na
verdade, estamos tristes e descontentes.
Escondemos
nossos medos e decepções, com máscaras de hipocrisia, só para sermos aceitos
pela sociedade e suas convenções. Não sei o porquê, mas todo carnaval me traz
essa lembrança e a sensação que tal festa popular representa, literalmente, uma
alegria efêmera.
Tanto é, leitor, que
tudo acaba em cinzas.
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