sexta-feira, 5 de julho de 2013

O almoço acabou... E agora, Marias?

Por Mayanna Velame


"A festa acabou
a luz apagou,
o povo sumiu
a noite esfriou,
e agora, José?"
(Carlos Drummond de Andrade)


Nos últimos dias, fui convidada pelas minhas ex-colegas de faculdade a participar de um almoço num determinado shopping. É óbvio que aceitei, não poderia negar. Tanto é que escolhi a melhor roupa do armário, aparei e pintei minhas unhas com o esmalte mais bonito.

Durante o almoço, esquadrinhei as mesas que estavam ao meu redor. Muitos Josés também se confraternizavam. Foi maravilhoso relembrar os fatos ocorridos, debater o presente e questionar as incertezas do futuro. É sempre muito bom estar ao lado de pessoas que, direta ou indiretamente, nos ajudam a escrever algumas páginas de nossas vidas.

No entanto, entre conversas, risadas, brindes e confissões, as horas começaram a materializar nossa iminente despedida. A fugacidade do tempo é sempre inabalável.

O que restava para nós, Marias, era apenas aproveitar os últimos segundos que ainda nos uniam. Ainda assim, pouco a pouco, cada Maria foi dizendo um breve adeus. E, consequentemente, cada uma continuou levando, dentro de seus corações, os mesmos sonhos, os mesmos medos e as mesmas necessidades.

Sim, o almoço acabou, a comida nos fartou e o copo de cerveja esvaziou. A chama do reencontro se apagou, melancolicamente. A tristeza foi tomando consigo nossa felicidade instantânea.

Voltei para casa, fazia lá fora uma noite de restritas estrelas. E, naquele momento, senti-me como uma Maria sem José, uma Maria sem lar, uma Maria sem livros para ler, uma Maria sem forças para gritar.

A verdade é que, em alguma circunstância da vida, vamos nos encontrar dessa forma – com a sensação de que as épocas boas da nossa existência cessam, mesmo que temporariamente, transformando-nos em Josés e Marias deste mundo.

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