Por Mayanna Velame
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
Ruídos urbanos
Na tentativa de não
dar audiência à solidão noturna, desligo a TV. Acendo um cigarro e logo me
sinto como animal sufocado pelo próprio destino. Na cozinha, preparo o café. Tomo
três goles. Até que a bebida acolhe minha alma atormentada.
Entre as paredes
deste apartamento, fantasmas do passado alimentam a angústia.
Angústia de quê?
Com o corpo
febril e a mente cansada, afasto as cortinas. O silêncio é rompido. Sirenes,
buzinas, motores de carro, vozes. Os cães ladram longinquamente – ruídos
urbanos que, de certa forma, me animam. Lá fora, a cidade nos rodeia com prédios,
antenas de TV, e ilumina meu semblante com luzes.
Por um momento,
sinto-me feliz. No céu, aviões cruzam o horizonte (deixando retalhos de nuvens para
trás). Eu poderia estar a bordo daquela aeronave. Desvendando seus segredos e seu
destino...
Desço do
edifício, ando pelas ruas, tropeço entre as calçadas. Pessoas vêm e vão. A
cidade não para. É gigante. É cenário da nossa rotina e decadência. Divido espaço
com homens, mulheres, mendigos e ratos. Seres que se perdem e se acham no
asfalto úmido.
Com o velejar das
horas, volto para casa. Esqueço o passeio noturno. A janela é um quadro
pincelado por estrelas minúsculas, que piscam sem cessar. Elas continuam lá,
vibrantes, com um cintilar ritmado. Talvez queiram permanecer assim até a
chegada dos primeiros raios de sol.
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