quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Amor considera

Por Daniella Caruso Gandra




Ao ler a crônica de Martha Medeiros (intitulada “O amor e tudo que ele é”), inspirei-me a escrever sobre isso nestas linhas sucessivas. Embora pareça simples, não é uma tarefa fácil, porque todo aquele desejoso de ser bom escritor deve se fazer compreendido ou, no máximo, tocar. 


E mesmo que eu e você tenhamos experiências amorosas diferentes, acharemos algo em comum nelas. E o mais difícil é quando nos descobrimos uma espécie de bússolas amorosas; servindo de algum direcionamento ou orientação na vida do ser amado – como ímãs a atraí-lo para algum lugar que ainda não percebeu em si mesmo. Falo por experiência própria: já fui muito útil, sabe... 


Mas a autora fez um belo discurso sobre o sentimento tão buscado, mas pouco praticado, fragmentando-o ao senso comum. Eu gosto muito do que ela escreve, e acredito que, ao atingirmos a maturidade emocional, base para nos sustentar diante dos percalços desta vida, não mais idealizamos o amor, nem nos preocupamos em defini-lo. Tampouco o buscamos. Amamos, e só. 


Entretanto, é melhor não confundir sentimento com emoção. Não quero conceituar, mas caracterizar. Afirmo isto sem me desfazer de ambos, inclusive, porque, quando emocionados, somos muito mais criativos, verdadeiros e nos sentimos mais vivos; mesmo que depois venha o arrependimento. Já amando, deixamos, muitas vezes, ali, guardadinho em nosso peito, esse sentimento profundo. E dispensamos a necessidade de extravasá-lo. 


Essa coisa de que amar dói é bobagem, pois algo bom de sentir não pode fazer mal. O que machuca por dentro é a falta do que nos é querido. É a mudança brusca acometida pelo outro que nos afeta. É lembrar-se de um final nebuloso e pleno de tanta coisa que ficou por dizer, fazer e sentir. É o desperdício de um tempo indiscriminadamente curto e não aproveitado; ou gasto em desaforos recíprocos e desconfianças. 


Tão importante quanto sentir é a franqueza. É não deixar lacunas aos olhos de quem, um dia, foi especial para nós. É resolver mal-entendidos, o desinteresse repentino, o medo do ridículo, o ciúme na hora errada, enfim, é dar atenção a quem já se amou ou, pelo menos, achou que se amava. 


Invadimos o outro e nos permitimos invadir, seja por um beijo, uma transa, um olhar ou um gesto mais demorado... Sim, o amor é uma invasão porque é força. Quando penetramos, de algum jeito, no mundo alheio, conquistamos nosso espaço ali. Ocupamos pensamentos, influenciamos ações, ganhamos recompensas por isso e, assim, nos apoderamos. 


E não é legal de nossa parte ignorar isso, simplesmente “saindo de cena” ou “desistindo do jogo” (numa atuação fria e dissilábica). Para mim, é covardia com algo que já fez algum sentido; mesmo que hoje não faça mais. 


Por fim, indiscutivelmente, mesmo brincando ou se distraindo, seja franco. Não prometa o que não queira cumprir. Ponha-se no lugar do outro. Tente perceber como ele se sente. Não seja egoísta e nem decida sozinho – por convicções e dissabores passados. 


E continue amando, sempre.

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