Por Daniella Caruso Gandra
Ao ler a crônica de Martha Medeiros (intitulada “O amor e
tudo que ele é”), inspirei-me a escrever sobre isso nestas linhas sucessivas.
Embora pareça simples, não é uma tarefa fácil, porque todo aquele desejoso de
ser bom escritor deve se fazer compreendido ou, no máximo, tocar.
E mesmo que eu e você tenhamos experiências amorosas
diferentes, acharemos algo em comum nelas. E o mais difícil é quando nos
descobrimos uma espécie de bússolas amorosas; servindo de algum direcionamento
ou orientação na vida do ser amado – como ímãs a atraí-lo para algum lugar que
ainda não percebeu em si mesmo. Falo por experiência própria: já fui muito útil,
sabe...
Mas a autora fez um belo discurso sobre o sentimento tão
buscado, mas pouco praticado, fragmentando-o ao senso comum. Eu gosto muito do
que ela escreve, e acredito que, ao atingirmos a maturidade emocional, base
para nos sustentar diante dos percalços desta vida, não mais idealizamos o
amor, nem nos preocupamos em defini-lo. Tampouco o buscamos. Amamos, e só.
Entretanto, é melhor não confundir sentimento com emoção.
Não quero conceituar, mas caracterizar. Afirmo isto sem me desfazer de ambos,
inclusive, porque, quando emocionados, somos muito mais criativos, verdadeiros
e nos sentimos mais vivos; mesmo que depois venha o arrependimento. Já amando,
deixamos, muitas vezes, ali, guardadinho em nosso peito, esse sentimento
profundo. E dispensamos a necessidade de extravasá-lo.
Essa coisa de que amar dói é bobagem, pois algo bom de
sentir não pode fazer mal. O que machuca por dentro é a falta do que nos é
querido. É a mudança brusca acometida pelo outro que nos afeta. É lembrar-se de
um final nebuloso e pleno de tanta coisa que ficou por dizer, fazer e sentir. É
o desperdício de um tempo indiscriminadamente curto e não aproveitado; ou gasto
em desaforos recíprocos e desconfianças.
Tão importante quanto sentir é a franqueza. É não deixar
lacunas aos olhos de quem, um dia, foi especial para nós. É resolver mal-entendidos,
o desinteresse repentino, o medo do ridículo, o ciúme na hora errada, enfim, é
dar atenção a quem já se amou ou, pelo menos, achou que se amava.
Invadimos o outro e nos permitimos invadir, seja por um
beijo, uma transa, um olhar ou um gesto mais demorado... Sim, o amor é uma
invasão porque é força. Quando penetramos, de algum jeito, no mundo alheio,
conquistamos nosso espaço ali. Ocupamos pensamentos, influenciamos ações,
ganhamos recompensas por isso e, assim, nos apoderamos.
E não é legal de nossa parte ignorar isso, simplesmente
“saindo de cena” ou “desistindo do jogo” (numa atuação fria e dissilábica).
Para mim, é covardia com algo que já fez algum sentido; mesmo que hoje não faça
mais.
Por fim, indiscutivelmente, mesmo brincando ou se
distraindo, seja franco. Não prometa o que não queira cumprir. Ponha-se no
lugar do outro. Tente perceber como ele se sente. Não seja egoísta e nem decida
sozinho – por convicções e dissabores passados.
E continue amando, sempre.
Nenhum comentário :
Postar um comentário