Por Francisco
Coluço
A Maria Antônia,
em Vila Buarque, é uma rua arborizada. Em seus 860 metros de calçadas,
considerando os dois lados, vivem 43 árvores; sendo 17 no lado ímpar e 26 no
lado par. Isto oferece uma razão de uma árvore para cada vinte metros de
calçada. É uma boa medida em arborização, mesmo se considerarmos que 14 delas
são jovens, mudas recém-plantadas pela prefeitura da cidade de São Paulo.
Numa rua com
tanto comércio, escolas e cada vez mais prédios, não deixa de ser interessante
e notável a existência dessa manifestação natural do verde. Mas observamos de
fato? Sentimo-nos cúmplices com o bem estar dessa bela proposição vegetal? Pena
que não...
Senão, vejamos:
o que nos conta Guy Debord em seu texto "A Sociedade do Espetáculo",
de 1967?
"Em sociedades
onde predominam as modernas condições de produção, toda a vida se apresenta
como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se
transformou numa representação".
Se for assim
mesmo (como este autor nos informa), o que fazer?
Simples: basta
lembrarmo-nos, agora, do diálogo do artista Morandi – em seu ateliê na Itália –
sendo visitado pelo artista brasileiro Darel, em agosto de 1968. Darel
pergunta-lhe o que achava da arte atual. Morandi responde: "É preciso
reencontrar a confiança perdida na natureza". Nesta altura, estavam os
dois diante de uma janela. Darel se volta para olhar a paisagem, lá fora.
Morandi, então,
complementa tudo: "Não nesta que vemos, mas naquela em que cremos". Você,
amigo leitor, está agora disposto a decifrar essa charada?
De minha parte,
posso avisar que isto dá o que pensar. Inclusive pensar na política que
"rolou" muito em épocas anteriores, na mesma Rua Maria Antônia.
Lembra-se ou sabe por ouvir dizer? Leu a respeito?
Pois bem, foi o
velho e saudoso político Tancredo Neves que criou uma frase para passar como
sendo a verdadeira "natureza" da política. Disse ele: "A
política é como as nuvens... Cada vez que você olha, está de um jeito".
Ainda de minha
parte, prefiro voltar à Maria Antônia e tomar um chopinho para filosofar. Já
que é tudo assim mesmo, que tal parodiar Morandi? Sentar-me à sombra da árvore
em frente ao Bar do Fernando e imaginar, cauteloso: "Preciso reencontrar a
confiança perdida na política ou, melhor ainda, não nesta que vejo, mas naquela
que creio".
Até a próxima
sombra!
Engenheiro agrônomo formado pela USP – ESALQ (Piracicaba,
1969) e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV. Funcionário público
aposentado.
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