terça-feira, 9 de março de 2021

Vovô José

Por Denise Fernandes




Quando era jovem, vovô era padeiro. Acordava de madrugada para fazer o pão. Adulto, se tornou pizzaiolo. A pizza mais gostosa do mundo era aquela do meu avô. Ele fazia uma pizza especial para cada um no Natal. O peru ficava lá, secando sobre a mesa. Nosso Natal era com pizza.

Ele usava sempre uma camisa azul clara, com um bolso no peito, de manga curta. Não sei se lavava, secava, e ele já punha a mesma camisa. Ou se ele tinha várias, todas iguais. Talvez não tivesse muitas. Vovô era pobre. Não lembro dele ter me dado um presente material. Seu presente era pizza, misto quente. Mas também o melhor misto quente do mdo era aquele do meu avô.

Ele não sentia frio. No máximo, usava uma blusa cinza aberta. Nada de cachecol, nem gorro. Lembro dele transpirando, trabalhando no restaurante. Vovô tinha um sorriso bonito, uma voz gostosa. Teve muitas mulheres na vida, para desgosto da minha avó, que sentia uma paixão ardente por ele.

Quando ele morreu, papai ficou muito triste. Não pela morte, mas porque vovô não tinha nenhum sapato (sem furo na sola) para ser enterrado. Meu pai pegou um par de sapatos dele e colocou nos pés do meu avô. E ficou quinze dias com uma cara triste.

Vovô era pobre, mas não era triste. Meu avô tinha uma sabedoria culinária. Conhecia a fundo o alimento. Comprava os melhores ingredientes e sabia prepará-los de um jeito maravilhoso. Tudo que ele fazia na cozinha era muito saboroso. Pensar nele me dá fome de comida boa. E saudades do seu sorriso.

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