terça-feira, 7 de julho de 2020

Tupi

Por Denise Fernandes




Quando eu era criança, uns oito anos de idade, quis escrever um poema. Sentei debaixo do ipê amarelo que havia na minha casa, com a máquina de escrever usada, que meu pai me havia dado, e esperei horas pela inspiração do tal poema. Achei que não ia acontecer. Depois de muito pensar, escrevi: "E um dia todas as mãos se uniram num único cantar".

Acho que esse foi o meu melhor poema até agora, o mais profundo e sintético. Nesse período, eu e minha turminha brincávamos de ser índios. Mais difícil que escrever um poema é resumir tudo que as comunidades indígenas representam para a humanidade. Elas não são o nosso passado. Elas são a raiz de toda a cultura humana. São os nossos ancestrais  independente do sangue e do genoma.

Outro dia, minha mãe disse que acha possível que tenhamos sangue indígena. É provável que sim. Mas como temos gene de pobre, a história de nossa família se perdeu. Como se perderam muitos parentes na luta do dia a dia: sem registros, sem heranças, sem casas imensas para a reunião de todos. Sem a latitude e a longitude de nossos territórios. Esquecidos de tudo, prosseguimos sendo familiares e sendo êxodo. Deixamos nossa tribo há tanto tempo, que a saudade é uma dor cega que faz chorar.

E nesse tempo em que já parei de procurar as respostas, ou as peças perdidas desse quebra-cabeça, encontrei minha tribo perdida. E ela dá cursos. Cursos diversos que ensinam sobre os ciclos, as plantas, o Deus eterno que tem nome indígena, as histórias que curam e ensinam a viver com mais coragem e sabedoria. A coordenada dos cursos e dos trabalhos maravilhosos que meus companheiros de fé realizam estão AQUI.

Vou fazer o próximo curso, nos dias 18 e 19 de julho, sobre ciclos femininos. Estendo o convite a todos. Vamos participar dessa grande tribo que alimenta nossa alma e espírito. Com sua força, conseguiremos a harmonia necessária para uma sintonia maior com nosso propósito. Não somos uma espécie. Somos uma única raça, com cabelos e peles de muitos tons. Temos muitas línguas, mas somos um único cantar.

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