terça-feira, 19 de novembro de 2019

Sociedade do desempenho

Por Maurício Perez



Acho que foi Gilles Lipovetsky quem cunhou este termo: sociedade do desempenho. Vivemos em uma sociedade onde tudo é competição, tudo é ranqueado, avaliado. Temos metas, exigências por resultado e, no fim, sobrarão apenas campeões ou fracassados.


De fato, repare à sua volta. Qual a posição da escola do seu filho no ranking do Enem? Sua universidade tem quantas estrelas? Sua empresa está na lista da Fortune? Você vai medir seu desempenho de corrida naquele aplicativo e publicar no Facebook? As revistas femininas cobram desempenho na cama. Qual a porcentagem de gordura no corpo? Que prêmios você já ganhou? Tem algum certificado? Esse filme ganhou quantos Oscars para merecer uma conferida? Sua página tem quantos seguidores no Instagram? Qual a nota do seu carro na revista Quatro Rodas?


Tenho visto não poucos jovens macerados pelo desejo de dar certo, de crescer, de serem bem-sucedidos; de uma forma que ultrapassa o sadio. É obsessão. Seus pensamentos, inconscientemente, são sempre um mantra: "Tenho que vencer, tenho que dar certo, tenho que superar, tenho que alcançar aquela meta, devo fazer isto e aquilo, preciso conseguir". Estão vivendo com um alarme interno que nunca desliga. Olham para o lado e veem seus colegas imersos, dedicados, empenhados. É uma competição. E a possibilidade de ser ultrapassado, de ficar para trás, é insuportável para eles.


Algumas consequências são bem conhecidas. Perdem a saúde: gastrite, cefaleia, insônia, ansiedade, depressão. Os relacionamentos se deterioram: namorados vão embora, a família se afasta (amigos, idem). A cara sorridente dos campeões esconde muita frustração, dor e solidão.


Outras consequências são menos conhecidas. Há um empobrecimento da alma. A vida se reduz a um jogo, onde o que importa é ganhar ou perder. Vejo profissionais de sucesso que já possuem dinheiro e solidez, mas querem algo mais: IPO, aquisições etc. Uma nova etapa no videogame da vida. Isso é muito pobre! A vida é bem mais do que jogar, competir, ter boa imagem diante dos demais. Descubra pessoas. Nossa cultura e civilização. Invista nas aventuras do espírito. Descubra a família, onde somos queridos por ser  independente dos nossos resultados. Na família, não somos promovidos, rebaixados ou demitidos. Descubra Deus, que é Pai, e não gerente.


Aprenda a fracassar também. Aprenda a ficar para trás. A rir. Aprenda a se levantar. Vamos trabalhar, crescer e lutar, mas em paz.

É autor do blog Correio Chegou.

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