domingo, 28 de fevereiro de 2021

Meu pai, meu poeta!

Por Oswaldo Antônio Begiato


Arquivo pessoal


Meu pai foi poeta sem nunca ter escrito um único verso.
Poeta do amor mais puro e profundo que já vi.


No dia em que completei trinta anos
mandou buscar para minha mãe a orquídea mais bonita de Jundiaí.
O cartão dizia que há trinta anos ela o tinha feito, pela primeira vez,
o homem mais feliz do mundo
(sou o primeiro filho deles).
Minha mãe disse com todo encanto do mundo:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.


Minha irmã caçula, depois de onze outros partos de minha mãe,
nasceu no dia nove de maio de mil novecentos e setenta e um
(dia das Mães, naquele ano).


Meu pai deu a ela o mesmo nome de minha mãe Regina – Rainha.
Quando chegou com a certidão de nascimento em casa
minha mãe com o mesmo encanto de sempre disse:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.


Quando estou muito triste gosto de imaginar
o quanto de poesia ele fez entre o primogênito e a caçula deles.
E rio. Apenas rio.


Com eles aprendi que poetas são bobos.

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