terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Sísifa

Por Denise Fernandes




Todo dia essa pedra. Perdôo e desperdôo. Nova manhã e tudo recomeça. Castigo por fugir da morte. Mas quem se entrega fácil, não tem o prazer que sinto na própria pedra.

Em algum momento da vida, o fardo virou meu cocar. Também sou essa pedra, nas múltiplas identidades. Se eu fosse um prédio, seria uma construção abandonada  servindo de abrigo aos refugiados da nossa civilização. Sisífa: todo dia essa civilização. E eu trazendo uma natureza natural, me repetindo? Não!

A mesma pedra é outra também no tempo. Num outro dia. O tempo nos salva. Eternamente, Sísifo repete a tarefa, ou melhor, seu castigo. E o que repito ainda pode ser escrito em uma palavra, "pedra".

Toda noite tem recomeço. No mundo dos sonhos, são novas lágrimas, novas alegrias. Sonho com pessoas que morreram e, então, elas aparecem vivas. Estão vivas. O sonho dormindo é tão real... Uma parte muito importante de nós existe dormindo. Sísifa na cama. Agradecida. Cansada, extremamente cansada. Meio mulher, meio montanha.

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