terça-feira, 27 de abril de 2021

Finda

Por Denise Fernandes




Então, tudo finda. Finda o blog, finda o casamento, finda o sexo. O que parecia interminável, termina. E eu aqui, olhando uma cadelinha que não tem nem dois meses. Meu Deus, que graça! Mas também tem graça na vira-lata, cheia de catarata, deitada no quintal, no seu sono de velhinha.

Talvez o blog termine como uma nuvem que se desfaz em chuva. Como tantos relacionamentos que, se eram paixão, eram menos amor. Só sei que sempre fui cega: não dos olhos, não da vida, mas neguei a ferida. Fui sempre mais advérbio do que verbo. Medito de olhos abertos, vendo a bagunça da minha casa, sem nenhuma vontade de arrumar. Talvez eu esteja zen, sim, sem disciplina nenhuma. Hoje minha reza é em silêncio. Meu mal não é de amor, e eu não sinto falta de abraço. A caneta, o papel, a voz de quem eu amo me basta.

Lembro que meu filho chorou quando pegou o primeiro peixe na vida. O peixe brilhante, pleno de vida, brilhando na manhã. E seus olhinhos de criança cheios de lágrimas doces, seus lábios de criança bem vermelhos.

Nas minhas memórias, os dez anos do blog passaram num segundo. Levei mais tempo para nascer, um útero apertado, sombras e luzes do meu Brasil. Quem sabe o blog é como uma folha de papel, que pode amarelar com o tempo. E dentro da porta imaginária que se fecha, a Via Láctea aguarda quieta, infinita, melancólica e em êxtase.

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