domingo, 11 de abril de 2021

Quando chega o cheiro da uva

Por Oswaldo Antônio Begiato




Com o final do ano chegam à minha cidade
as barraquinhas onde se vende uva em caixas de madeira.
Elas se proliferam nas esquinas. Nas encruzilhadas.
Nas ruas estreitas. Nas ruas largas.
Nas estradas. Nos becos sem saídas.


Há na minha cidade sítios onde mãos rudes,
na iminente chegada do Natal,
santamente se aveludam para a colheita da uva.
É um ritual onde veludos se abençoam: o da mão do viticultor
e o da pele do fruto maduro.


Minha cidade é a terra da uva;
Uva Niágara -
rosada, branca.
Uvas de mesa.
Minha cidade é terra de uvas e de mesas.


Quando a uva por aqui chega
chega também a chuva.
Chuva de fim de tarde. Chuva fina.
Chuva de verão. Tempestuosa.
Chuva de granizo. Chuva granítica.
Tem chuva que a uva gosta, porque acaricia.
Tem chuva que a uva não gosta, porque machuca.


Minha terra é terra de uva no final do ano.
Minha terra é terra de chuva no final do ano.


E quando as uvas passam e as barraquinhas se vão,
pode-se ver por toda a cidade
flores brancas e dóceis,
pequeninas como um olhar
ternas como um perdão;
e minha cidade hospeda em suas ruas poesias órfãs.


Minha terra é terra de flor o ano todo,
de poesia dentro de mim desde sempre.


E é por isso que a lua,
tão distante, tão fria, tão pálida
vez por outra se despenca do céu
enfeita-se de flores
e se embebeda de vinho
nas noites chuvosas de minha cidade.


O alto falante do serviço de som da quermesse,
onde acontece a Festa Italiana
anuncia que o desvio de conduta não será tolerado.
E não será mesmo.


É nessa ocasião que a lua se parteja toda
em poesias rubras. Em poesias prateadas.

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