sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Até

Por Mayanna Velame




É noite de nuvens ruborizadas no céu. Mansamente, um avião cruza o horizonte. Grilos cricrilam escondidos entre os matinhos umedecidos pelo orvalho. Enquanto isso, cães ladram nas esquinas vazias.


As horas derretem-se na calidez do tempo. A cada minuto que se rompe, a vida apresenta-se embarcada em sua própria fugacidade. Sabemos bem: os doze meses que recebemos são doze capítulos – e nem sempre teremos a autoridade de redigi-los como queremos.


Somos personagens de um romance chamado vida. Em certos momentos dessa epopeia, nos consideram heróis. Em outros, nos enxergam como vilões. O ano, paulatinamente, ensaia sua despedida. Um tétrico 2016 se desenhou (marcado por tragédias, perdas e desencantos; bem como pela crise política, moral e institucional da nação).


Na ventura de viver, um novo ano surgirá. Com expectativas, sonhos, amores, erros e acertos. A única certeza que temos é o agora. O “até” é apenas um “pode ser”. E, talvez, o amanhã nem aconteça. Viver é um risco.


Os dias que prosseguem são chances – oferecidas a cada um de nós. Por isso, não relutemos pelo beijo roubado. Não nos culpemos pelo prato de macarronada consumido. Honremos nossos pais e abracemos nossos irmãos. Vamos ouvir, com mais atenção, o gorjeio dos pássaros. Devemos lutar por justiça e nunca nos submetermos à corrupção (seja ela qual for).


Assim viveremos, meu caro! Ora em paz, ora sentindo cócegas. Até porque, nosso coração sempre irá pulsar. Afinal, como escreveu o saudoso Ferreira Gullar, “a vida bate”. Sim, ela bate à sua maneira: dentro de cada ser, de cada vontade, de cada amor. A vida bate serena ou frenética – contanto que bata dentro de nós.

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