Por Rayane Medeiros
"O que sinto muitas vezes
Faz sentido e outras vezes
Não descubro um motivo
Faz sentido e outras vezes
Não descubro um motivo
Que me explique porque é
Que não consigo ver sentido
No que sinto, que procuro
O que desejo e o que faz parte
Do meu mundo..."
(Eu Era Um Lobisomen Juvenil, Legião Urbana)
A verdade é que tenho estado sozinho. Costurando retalhos. Tragando o ardor do silêncio habitual. Não é nenhum incômodo. É um misto de prazer e soberania. Reinar o vazio. Fantasias pessoais tão possíveis quanto o resto.
As lembranças vagam pelos cômodos. Fingem não ver-me. De longe contemplo-as. Instigado a voltar, recomeçar, devorar sensações extintas. Não me ferem, não me entristecem. Mas há o desconhecido. O desejo de não ser, de não estar-se aqui, agora. Construir um estranho que não me seja.
Há o ruído da vizinhança, o prazer verbalizado, as ruas noturnas que gritam seus segredos, o mundo que me convida para seus devaneios. Porém, não me rendo, não porque não queira, mas já não seria o meu senhor. Seria a somatória da insanidade alheia. E me desfaleço em tinto, prostrado no comodismo dos que se negam ao pecado, saboreando da janela o rumor da vida, enquanto a ânsia queima devagar, alternando entre os dedos e os lábios, estes já, quase torpes. É mais que um mau-hábito, é uma necessidade. E me desfaço em abstinência quando destes me privo. Não é um simples teste. Ponho-me à prova, e volto rastejando para os confins do meu desalento.
Encho os pulmões de ilusão, sopro no ar sonhos que se desfazem como nuvens de algodão. Impregnadas de um desejo qualquer. E fervo meu sangue em grandes doses, tão amargos quanto o eco das paredes que respondem indolentes, às minhas blasfêmias rotineiras.
Não é uma vida, é um passeio indesejado. Só observo. Estático. Passivo. À espera da plataforma de chegada. Não é destino, acaso ou passos mal dados. É puro e simplesmente articulado. E me reprimo em minha própria insanidade em despeito do que pode vir.
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