Por Denise Fernandes
Saio na vila e as crianças estão
brincando de “manifestação política”. Elas pulam como se estivessem num baile
de carnaval. E dizem gritos de guerra.
E eu matutando: já
que existe, segundo consta no meio político de nosso país, a possibilidade de
"cura gay", também deve existir a possibilidade de "cura
heterossexual". Desejo ardentemente esse tipo de cura. Quantas vezes
rastejei de paixão? Nunca tinha pensado em tal tipo de cura, mas agora que
vislumbro essa levitação, transcendência total dos imperativos do corpo,
libertação do amor ao falo, estou achando superinteressante a modernidade. O
que mais vão inventar?
Viagem espacial não quero fazer. Quero
ainda, acima de tudo, tentar viver bem nesse obscuro e, ao mesmo tempo,
colorido planeta. Sem o mistério do sexo, curada do meu próprio sangue e seiva,
quem seria eu? Ou melhor, quem seríamos nós? Se me curo de mim não é só a mim
que transformo. E por que eu desistiria de mim? Talvez começasse pelo sexo,
depois seriam outras curas. Talvez alguém vá querer curar o meu próprio
pensamento, a minha alma louca, o meu coração de criança, mas também selvagem,
meus desejos violentos. Talvez alguém vá querer curar também o meu próprio sentimento
e o de todos, nessa imensa busca de falta de tormento.
Mas o que Deus vai achar de tantas
mudanças, será que vai abençoar as curas que inventarmos? Não há no sexo nossa
própria essência, não somos feitos de densidade e paixão? Jesus vai se curar de
sua cruz?
Agora espero a cura confusa do que sou
ou do que dá para ser. Haverá ainda uma cura para a arrogância política de
tantos? Haverá ainda misericórdia? Haverá a possibilidade de aceitarmos uma
vida sem cura e sem mentira?
Brincando, as
crianças parecem tão felizes... Nada mais importa para mim. E era nesse estado
de satisfação que eu queria chegar um dia na minha vida.
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