Por Mayanna Velame
Um garoto debruçado
sobre o parapeito de sua varanda, do décimo andar, observa minuciosamente as
lágrimas ácidas que Deus derrama sobre a cidade melancólica. Seu pai, sentado
numa cadeira de balanço e entretido com as notícias nada animadoras do jornal,
pede ao filho para almoçar. No entanto, o menino pensativo, antes de obedecer à
ordem paternal, depara-se com um homem bruscamente caindo, talvez do céu. Atônito,
ele grita para seu pai:
- Paaai!!!
- Qual é o problema,
filho? – perguntou o pai sem desviar seus olhos do jornal.
- Um homem caiu do céu.
- Ele pode ser um
paraquedista militar, filho. Venha, você precisa comer. Parece está com tanta
fome que já anda vendo coisas.
No décimo primeiro
andar, um bêbado decide olhar para os pingos gélidos que molham a terra dos
homens. Cambaleando, ele segue na direção de sua janela, quando flagra um homem
bruscamente caindo, talvez do céu.
- Nossa, que homem é
este? Só pode ser um anjo de Deus!
Um homem de trinta anos,
aparentemente, morador do décimo segundo andar, bebeu dois goles de vinho. Logo
após, acendeu um cigarro e acariciou seu queixo áspero. Inspirou fundo, em suas
mãos uma fotografia surrada era semelhante ao seu coração. Tempos depois, com o
rosto úmido e dedos trêmulos, afastou tetricamente as cortinas da janela. Tomou
forças e, num impulso, saltou para o nada.
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